A bizarra e completamente errada série de TV da Tiazinha

Já é um consenso que os anos 1990 eram um verdadeiro faroeste na TV brasileira em que tudo era possível. E, entre os vários episódios que ajudam a ilustrar a loucura que foi a virada do século por aqui, poucas são tão absurdas e caóticas quanto a série da Tiazinha. Sim, em algum momento, alguém achou que seria uma boa ideia criar um universo de histórias de uma heroína de lingerie, chicote e estética sadomaso — e foi assim que nasceu As Aventuras de Tiazinha.

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O seriado foi ao ar na TV Band entre 1999 e 2000 e durou apenas duas temporadas. Ele foi criado justamente para pegar carona na popularidade da personagem vivida pela atriz Suzana Alves no programa apresentado por Luciano Huck. O problema é que a figura da Tiazinha era extremamente sexualizada e voltada para um público adulto, mas acabou fazendo sucesso entre crianças e adolescentes. E foi a partir disso que alguém achou que seria uma boa ideia um programa voltado para essa faixa etária.

 


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Só que, como estamos falando de Brasil nos anos 1990, a loucura não parou por aí. Na verdade, as coisas começam a ficar realmente doidas quando decidem que As Aventuras de Tiazinha seria uma ficção-científica futurista em que uma sedutora heroína de lingerie preta, máscara e chicotinho sai lutando contra facções criminosas em um planeta alienígena.

Uh, Tiazinha!

Para entender como começou tudo isso começou, é preciso voltar alguns anos, para 1996. Nessa época, o SBT fazia bastante sucesso entre o público jovem com o Programa Livre, apresentado por Serginho Groisman. Isso atraiu a atenção da Rede Bandeirantes de Televisão, que queria ter um programa para esse público.

Foi assim que nasceu o Programa H, apresentado por Luciano Huck. A produção tinha música, reportagens especiais e, aos poucos, foi se tornando uma alternativa para os jovens que acompanhavam o Programa Livre, além da programação da MTV Brasil da época.

Só que, em 1998, o H, com também era conhecido, ganhou um impulso na audiência por conta da chegada da Tiazinha. 

 

Um ano antes, a atriz Suzana Alves fazia trabalhos publicitários, mas foi acompanhar uma amiga em uma gravação do programa. Ela acabou chamando a atenção do diretor Cristiano Mendes, que convidou a jovem para interpretar uma personagem inspirada na Mulher Gato, da DC Comics. Enquanto a vilã dos quadrinhos usa uma roupa colada, a Tiazinha usava mesmo lingerie, máscara e, em vez de um chicote longo, um chicotinho que a deixava muito mais próxima de alguém adepto do sadomasoquismo do que vilã do Batman.

Além disso, a Tiazinha participava de brincadeiras com a plateia masculina, que por aparentemente nunca terem visto uma mulher de perto, ficava ensandecida quando ela chegava perto para trazer a punição por terem respondido alguma coisa errada.

Dando chicotadas e fazendo depilação ao vivo em rapazes muito empolgados, o negócio chegou em um nível que a Bandeirantes precisou mudar o horário do programa, colocando sua exibição às 21h, ganhando mais audiência por estar no horário nobre. 

 

A Tiazinha virou um fenômeno nacional. Só que, mesmo sendo uma personagem claramente indicada ao público adulto e se tornando um símbolo sexual da época, ela fez um sucesso absurdo com o público infantil — mostrando que os anos 90 eram uma completa loucura.

Foram lançados produtos licenciados para esse público, aparições em revistas infanto-juvenis e até um tamanco que vinha com uma máscara da personagem, fugindo um pouco do tom erotizado de sua carreira.

 

Por isso, ao deixar o Programa H em setembro de 1999, ela tentou aproveitar o sucesso e partir para novas empreitadas. Uma delas foi lançar um disco, chamado Tiazinha Faz a Festa, que vendeu 250 mil cópias e deu ao mundo o hino máximo Uh! Tiazinha, em parceria com o cantor Vinny, o mesmo que pedia para mexer a cadeira.

E foi dentro desse cenário que alguém resolveu dar uma série para a Tiazinha.

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Sobre o que se tratava As Aventuras da Tiazinha?

A ideia inicial de As Aventuras da Tiazinha era colocar Suzana Alves no papel de uma fotógrafa chamada Tiá, que assumiria a identidade da super-heroína Tiá contra os avanços de Klaxtor, um gênio da informática que quer controlar o planeta, interpretado pelo ator e compositor André Abujamra. 

Com alto custo de produção, a ideia se perdeu completamente após dois meses de gravações sem conseguir entregar nenhum episódio no prazo. Recomeçando do zero, e aproveitando o embalo de ficção-científica que estava em alta no final da década de 90 por conta do lançamento de Matrix, As Aventuras de Tiazinha se transformou em uma série de sci-fi absurda.

 

Agora, a história se passa em um futuro em que a Terra entrou em guerra com Plutão, nações deram lugar a megacidades e onde mora Su-013, uma jovem com poderes especiais que assume o papel da heroína Tiazinha, lutando contra o mal.

Na sinopse oficial da série, ainda temos as informações de que ela trabalha em um supermercado, onde foi encontrada por um gênio da computação, que antes de morrer, enviou sua consciência para a internet e a auxilia como uma espécie de Zordon de Power Rangers.

Su-013 acaba se mudando para Tronix, uma megacidade que é a união de São Paulo e Rio de Janeiro, onde assume a identidade secreta de uma famosa apresentadora de telenotícias.

 

Com efeitos especiais modestos para a época, essa nova versão do programa, criada pelo estúdio Fábrica de Quadrinhos, que contava com artistas que produziam material para Marvel e DC Comics, a série tentava abraçar mais esse tom de HQs, ainda que tudo parecesse quase amador devido às atuações e diálogos.

Em entrevista ao podcast Inteligência LTDA, Suzana Alves contou que a ideia de trazer uma abordagem mais próxima dos quadrinhos partiu dela quando percebeu que boa parte do público fã da Tiazinha era de crianças. “Tinha muita criança e vi que a gente tinha que mudar a conotação”, relembra a atriz, destacando a necessidade de mudar a estética da personagem do erótico para algo mais lúdico.

Com uma temporada que teve uma audiência bem baixa, já que ninguém se empolgou muito com a história ou com essa versão da personagem, que usava bem menos a sua figura para chamar atenção, a Band resolveu ir pelo lado oposto no segundo ano do programa.

De heroína do futuro para depiladora

Com o nome As Novas Aventuras de Tiazinha, a série abandonou completamente a trama futurista e de ficção científica, trazendo Suzana Alves agora no papel de Cuca, uma depiladora que trabalha em um salão de beleza, mas que tem poderes especiais que a transforma na Tiazinha. Eu gostaria muito de ter inventado essa última frase, mas essa realmente era a história do seriado.

Apelando mais para a sensualidade da atriz, que tem uma roupa atualizada para essa realidade, com um collant de vinil, a Band tentou resgatar aquele sucesso que a Tiazinha tinha na época do Programa H, mas ainda atraindo um público infanto-juvenil.

 

Em entrevista à Folha de S. Paulo na época do lançamento, Suzana Alves disse “Agora o programa tem tudo para dar certo, porque existe humor e amadurecimento”.

Mesmo com tanto otimismo, não deu muito certo, pois com a audiência ainda baixa, a Band cancelou o programa. Suzana Alves deixou o personagem para trás, se tornando repórter esportivo por um tempo na RedeTV, e participando da segunda edição do reality show Casa dos Artistas, no SBT. Prosseguiu na carreira de atriz, participando de novelas, filmes, como O Cheiro do Ralo, e séries, como Mandrake, da HBO.

Ficam os registros de uma série extremamente equivocada em suas duas versões, vídeos no YouTube e um clipe musical com o Vinny cantando junto “Pira, Pira, Pirou”.

Leia a matéria no Canaltech.

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