Direto da Amazônia – Um salão muito sério (por Roberto Caminha Filho)

A semana que nos abandonou não deixou nenhuma saudade.

Vivemos, muito de perto, a história da Djidja, a lindíssima Sinhazinha da Fazenda do Boi Garantido, da cidade de Parintins, distante de Manaus quatrocentos quilômetros e alguns anos luz de imaginação e arte, de muitas capitais que eu conheço.

A família da Djidja resolveu criar um Salão de Beleza que oferecia muito mais que a beleza. O salão entregava sonhos e fantasias como nenhum outro do mundo que conhecemos. A quetamina, analgésico para animais de grande porte, acalmava e levava seus clientes a uma outra dimensão jamais imaginada pelos melhores salões de Hollywood ou da Broadway. O cachorro, o gato, os funcionários e os clientes mais chegados, passavam o dia nas nuvens e no Paraíso. Ao ser visitado pela Polícia, a dona do Salão e mãe da Sinhazinha, disse ao Delegado:

–  O senhor deveria experimentar, pois só entregamos os produtos que dão certo. Aqui, ninguém engana ninguém.

O certo é que perdemos a Djidja, que segundo as notícias de Parintins, estaria ressuscitando, neste domingo e acalmaria todas as manifestações contra o criativo salão.

Na terça-feira, recebi uma ligação do Mestre Caititu, um excelente marceneiro que  dava inveja a muitos da sua arte. O Caititu usou o celular e pediu que eu o ajudasse pois as bailarinas do Diabo, as Diabetes, haviam cortado as pernas dele. Acharia a notícia engraçada, se não fosse trágica. O Caititu levou uma graninha que poderia fazer a felicidade dos meus netos, na Disney, por uns três dias. Tudo bem, se não fosse a notícia que o artesão estava recebendo a visita de amigos e cheirando um rapé bem alvinho na sua cama de hospital.

Telefonei para o grande e infernal artista e disse, no mesmo diapasão da notícia que o porco-do-mato também me comunicou:

– Suíno F.D.P., vieram me dizer que o teu apartamento é o mais requisitado do hospital e que só está faltando confete e serpentina. Cheirinho da Loló, pasta e coca, estão correndo soltos. É isso mesmo?

– É sim, meu Caboclo, eu não tenho segredo pra ti. Tu sabes que é difícil sair dessa.

Fiquei perplexo com a resposta e resolvi diminuir a pressão com umas palavras de socorro:

– Porquinho F.D.P., para com essa brincadeira, ainda podes fazer muitas mesas e cadeiras, guardas-roupas e armários para nós, mas desse jeito vamos te perder.

– Que nada, Meu Irmão! Sairei na sexta-feira e te avisarei para comemorarmos. Ele realmente saiu na sexta-feira, mas para o Cemitério São João Baptista.

Sábado, pela manhã, às 7:00 horas, entrei no Supermercado e fui ser assaltado em quatro laranjas Bahia, para finalizar uma salada de frutas. Ao meu lado entrou uma moça completamente decidida a pegar alguma coisa. Ela estava com uma cara de ante-ontem, ou bebida ou cheirada. Eu já estava no caixa quando ouvi a confusão. A mochila da cidadã estava sendo esvaziada. Iogurtes, maçãs e peras, começaram a aparecer. Olhei para a cena deprimente e vi surgir uma embalagem da manteiga que os meus netos adoram, a Cabeça de Touro. Aquilo me deu um aperto no coração e resolvi pagar uma pequena parte dos meus pecados. Falei para o sonolento gerente:

– Meu Campeão, você poderia liberar a minha irmãzinha se eu pagar a conta dela?

– Posso, mas ela irá na boca para trocar por pasta. Eu já estava na bronca e fui até o fim.

– Meu amor, quanto é o da boca para você comer um pão com essa deliciosa manteiga?

– Da boca é trinta paus e eu não estou com fome.

– Sim, mas vais abrir a manteiga e comer com tucumã, senão irás presa e eu não poderei fazer mais nada.

– Obrigada, meu Senhor! O Senhor é um anjo!

A moça comeu o pão com manteiga, o boqueiro ficou feliz, o gerente ficou satisfeito e eu fiquei aliviado de milhões de pecados que um dia iria pagar.

Eu só sei que, em nenhum momento, a moça ficou embaraçada com a sua prisão ou acusação de furto. Ela só queria resolver a necessidade exigida pelo seu corpo e era de droga. Foi nessa semana que está passando, que a coisa chegou perto de mim. Eu consegui afastar cenas de violência e fiquei em paz com a minha consciência e chega a pergunta?

Até quando?

 

Roberto Caminha Filho, economista, ainda está nervoso. Quem eu chamo?      

Adicionar aos favoritos o Link permanente.