Drive to Survive | Como série da Netflix deu novo gás à F1?

Uma das maiores revoluções da Fórmula 1 nos anos recentes não aconteceu nas pistas. Desde 2019, fãs do esporte (ou nem tanto assim) acompanham as temporadas anuais de F1: Dirigir Para Viver (ou Drive to Survive, como ficou conhecida internacionalmente), série que mostra o que acontece durante a temporada do esporte, mas cujos principais acontecimentos se passam enquanto os motores foram desligados.

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Desde seu início, a proposta dos realizadores foi humanizar o mundo da velocidade, mostrando quem está por trás dos volantes e equipes e como os eventos dos dias sem corrida interferem no que acontece quando os motores roncam. Foi um sucesso, como seis temporadas e a liderança entre as séries documentais da Netflix mostraram muito bem.

 

Afinal de contas, todo mundo conhece Lewis Hamilton, o heptacampeão da Mercedes, ou Max Verstappen, atual soberano da Fórmula 1 com três títulos mundiais. Por outro lado, foi Drive to Survive que solidificou figuras como Günther Steiner, ex-diretor da equipe Haas, e o piloto australiano Daniel Ricciardo como nomes importantes, ainda que não estejam no topo da lista de vitórias e grandes conquistas da categoria nos anos recentes.


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Mais do que um resumo da temporada

Desde seu primeiro ano, Drive to Survive não se limitou a ser um apanhado dos melhores momentos das corridas. E esse, apontam os realizadores, foi o maior trunfo da série, abrindo as portas da competição para mais gente, mesmo aqueles que nunca haviam se interessado pelo esporte.

Há um pouco para todos em F1: Dirigir Para Viver. Quem acompanhou a temporada sabe que vai encontrar, na série, momentos de bastidores e dramas internos que nem sempre são refletidos na cobertura jornalística da Fórmula 1. Ao restante, pouco se fala em temperatura de pneus, regras da modalidade e disputas por milésimos de segundo.

Um dos principais acertos de Drive to Survive foi focar mais nas pessoas e menos nas corridas, o que fez a série ser atrativa mesmo para quem não acompanha o esporte de perto (Imagem: Divulgação/Netflix)

Um dos principais focos, a cada temporada, está na busca dos pilotos por manter seu lugar em uma Fórmula 1 cada vez mais dominada por contratos de patrocínios e economia financeira. Quem não consegue resultados mínimos pode perder a vaga e até mesmo os bem colocados podem ser colocados na berlinda caso os interesses de sua equipe sigam para outra direção.

Isso fez com que até mesmo dois períodos de hegemonia, primeiro com a dupla Hamilton-Mercedes e, agora, Verstappen-Red Bull, rendessem temporadas interessantes. Por vezes, há um claro exagero na dramaticidade, algo criticado pelos fãs e até pelos próprios pilotos, mas ao mesmo tempo, também é lançada luz sobre carreiras, momentos icônicos, situações engraçadas e personagens memoráveis.

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Prova disso é que a recente demissão de Steiner, após os resultados pífios diante da Haas nos últimos anos, chamou mais a atenção dos fãs que os lançamentos dos carros para a temporada de 2024. Enquanto isso, o recente anúncio da ida de Hamilton para a Ferrari, uma das maiores movimentações da história recente por esporte, já faz com que muita gente aguarde ansiosamente as próximas duas temporadas de Drive to Survive, que nem estão confirmadas ainda.

F1: Dirigir Para Viver mudou o perfil de quem acompanha a Fórmula 1 e mais do que dobrou audiência e atenção ao esporte nos EUA (Imagem: Divulgação/Netflix)

Era, desde o início, a intenção da Liberty Media, dona da Fórmula 1 desde o final de 2016 — e deu certo. Segundo uma pesquisa publicada em 2023 pelo conglomerado Motorsport Network, em parceria com a Fórmula 1, a média de idade dos fãs da categoria caiu dos 36 anos para 32 anos, enquanto a audiência feminina mais do que dobrou nos últimos quatro anos.

“Efeito Netflix”

Os reflexos, porém, já foram sentidos em 2019, quando a Liberty Media anunciou que a audiência da Fórmula 1 nos Estados Unidos havia mais do que dobrado desde a estreia da primeira temporada de F1: Dirigir Para Viver. Os dados são da ESPN que, na época, viu o número de espectadores por corrida sair de 547 mil na temporada de 2018 para 928 mil pessoas em 2021.

Ingressos esgotados e arquibancadas lotadas foram o principal reflexo do “Efeito Netflix”, com novos fãs chegando a partir de F1: Dirigir Para Viver (Imagem: Mercedes-Benz Grand Prix Ltd./LAT Images)

Com isso, vieram também ingressos esgotados para assistir à corrida ao vivo. O Grande Prêmio de São Paulo 2024, tradicional etapa da Fórmula 1 no Brasil, acontece apenas em novembro de 2024, mas já tem as arquibancadas lotadas enquanto você lê esse artigo. Detalhe: os tíquetes esgotaram em questão de minutos já no fim do ano passado, quando as vendas foram abertas, em um fenômeno digno de grandes shows internacionais.

O foco nos Estados Unidos, terra da Liberty Media e onde a empresa queria ver os números se multiplicando, também se reflete na realização de nada menos do que três provas do calendário no país. Os GPs de Austin, Miami e, mais recentemente, Las Vegas, se firmam como as etapas mais espetaculosas da temporada, ainda que esse show todo não necessariamente se reflita em disputas nas pistas.

Culpa do traçado, diriam alguns, ou da soberania de algumas equipes, afirmam outros. Aspectos que, novamente, ressaltam o foco nas pessoas e nos bastidores como elemento de sucesso de Drive to Survive, acima de configurar um documento histórico do que aconteceu a cada ano de disputas na Fórmula 1.

F1: Dirigir Para Viver atingiu tamanho nível de importância que até equipes e pilotos mais reservados viram o potencial de participar da série (Imagem: Divulgação/Netflix)

Os sinais também se desenrolaram internamente. A Ferrari e a Mercedes, duas escuderias tradicionais do circo da Fórmula 1, se recusaram a participar da primeira temporada da série por temerem que segredos industriais fossem revelados. Elas se tornaram peças centrais das temporadas posteriores, de olho no marketing envolvido.

Isso também valeu para Verstappen, que negou participar da temporada que estreou em 2022, mas voltou já no ano seguinte. Na ocasião, reclamou da dramaticidade e do exagero envolvido em algumas situações; até hoje, ele diz não ser muito fã da forma como a Fórmula 1 é mostrada em Dirigir Para Viver, mas concede entrevistas e comenta momentos de sua jornada atual para a produção.

Derivados também pessoais

O sucesso de F1: Dirigir Para Viver foi além dos domínios da própria série e, às vezes, até da própria Fórmula 1. No Amazon Prime, por exemplo, estreou Fernando, que é considerada pelos fãs como um spin-off da produção da Netflix. Em duas temporadas lançadas em 2019 e 2020, a série explorou os anos em que o piloto espanhol Fernando Alonso passou fora da Fórmula 1, buscando a vitória em outras provas lendárias até seu eventual retorno à categoria.

 

Mais recentemente, o Star+ se enveredou por uma das histórias mais impressionantes da modalidade em Brawn: Uma História Incrível da F1. Narrada por Keanu Reeves (John Wick), a minissérie documental conta a ascensão da equipe Brawn GP, que se tornou campeão absoluta em seu único ano de permanência na Fórmula 1 e firmaria as bases para o time que, hoje, conhecemos como Mercedes.

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O golfe, um esporte preferido de alguns dos pilotos da categoria, também teve espaço nessa onda. Em 2023, para divulgar o Grande Prêmio de Las Vegas, foi transmitida ao vivo a Netflix Cup, que reuniu astros do esporte com pilotos de Fórmula 1 para uma disputa amigável. Ela foi vencida pela dupla formada pelo atleta da categoria, Justin Thomas, e o piloto da Ferrari, Carlos Sainz.

 

Essa não é a única união entre o golfe e a Fórmula 1, aliás. Drive to Survive é citada como a grande inspiração para Dias de Golfe, série que estreou em 2023 e dá o mesmo olhar pessoal para a saga dos atletas da modalidade durante uma temporada do PGA Tour. Novamente, foi sucesso, com uma segunda temporada confirmada para março deste ano.

Enquanto isso, F1: Dirigir Para Viver chega em 23 de fevereiro à sua sexta temporada, com 10 episódios lançados de uma vez na Netflix. A empresa, por enquanto, não confirmou a renovação do documentário para 2025, mas diante do sucesso anual, os fãs dão esse retorno como certo.

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