Mudaria o Natal ou mudei eu? – perguntou Machado de Assis. Foi o presidente americano Joe Biden quem envelheceu ou foi o mundo, de volta ao passado de guerras onde prevalecem os instintos mais primitivos do homem que se diz sábio?
No ambiente das redes guiado pelos algoritmos em mãos de tão poucos, a moderação, o bom senso e o meio termo não conseguem competir de igual para igual com o radicalismo, a hostilidade e a manifestação dos desejos mais extremos.
A verdade pouco importa. Deu lugar à pós-verdade que despreza os fatos objetivos e apela às sensações e às crenças pessoais. Verdade é o que cada um de nós acredita ou quer acreditar que verdade é. E deixa de ser verdade caso contrarie o que pensamos.
Se vivos, Hitler, Mussolini e Stalin nadariam de braçada em um mundo assim. Aspirante a ditador, que tentou dar um golpe há quatro anos ao ser derrotado, Donald Trump seria campeão de golfe desde que o jogo fosse jogado segundo suas regras.
Mas Biden, não. Mas o Partido Democrata também não, por mais que no passado tenha governado indo a guerras. Quanto ao Partido Republicano, esse já não existe. Virou um puxadinho do Partido de Trump (PT), parte da coligação “A América primeiro”.
Três anos separam as idades de Biden e de Trump. Mas Biden envelheceu mais rápido do que seu oponente. O mundo passou a girar numa rotação que é conhecida por Trump e estranha a Biden. A direita avança por toda e a esquerda recua perplexa.
O centro foi engolido pela direita e a ela se subordina na esperança de ressurgir um dia. A França, antes que este domingo acabe, deverá ser exemplo disso. A confirmar-se os resultados sugeridos pelas pesquisas, a direita emplacará o primeiro-ministro.
O debate da última quinta-feira foi travado por um velho com dificuldades de cognição e um velhaco em plena forma; um homem que se dedicou a lutar pela melhoria da vida dos outros, e outro homem que se dedicou a lutar por seus próprios interesses.
Um político à moda antiga versus um caçador de fortunas e de estrelas pornô. Um presidente que passará à história como tendo governado seu país da melhor forma possível, em contraposição ao único ex-presidente processado e condenado criminalmente.
Torço para estar errado, mas, a essa altura, trocar o velho por outro candidato dificilmente impedirá a eleição do velhaco.
