O Jota R, o Edinho, o Belmirinho e Euzinho, nos preparamos para fazer o Rallye 319 – de Manaus a Porto Velho, pela Rodovia Álvaro Maia, vulgarmente desconhecida, pelas autoridades brasileiras, pela alcunha de BR-319. São apenas 880 km de beleza contínua e intensa.
O Jota R, sobrinho do Tio Zé, cientista do INPA e companheiro de pesquisas do Grande Mestre Paulo Vanzolini, fez o roteiro do Rallye e nos obrigou a cumprir. Isso evitaria a malária e o tatuquira, o diabinho da leishmaniose, aquelas feridas que curam depois de cento e trinta injeções. Nós queríamos provar ao mundo brasileiro que chegaríamos ao nosso país e Vivinhos da Silva.
Saímos de Manaus às 5:00 da manhã e fomos até a balsa da CEASA para atravessarmos o Grande Rio Amazonas até o Careiro. Do Careiro até o quilômetro quarenta, fomos em dois tanques da marca Nissan. Chegamos a um porto, no quilômetro 40, pegamos a SS Cauré, e rumamos pelo Paraná do Mamori, até chegarmos no Lago do Araçá e ao Lago Tucumã, dois aquários de tucunarés, tambaquis, pirarucus, jacarés, sardinhas, cobras, patos e tudo que é vida animal, pronta para ser fotografada e levada para os lares americanos e europeus. Se um japonês, chinês ou coreano entrar nessa, ele jamais voltará para contar aos seus. Ele casará por aqui mesmo.
As crianças foram pescar e eu fiquei lendo aos ventos do Araçá, um suco de taperebá e um cará-açu frito, com pimenta murupi. Coisa dos Deuses amazônicos. A rede balançando e passa um caboclo em uma canoa a dois dedos da alagação. Perguntei qual era o peixe bom para pescarmos naquela água. Ele abriu as mãos por três palmos e apontou para o fundo da canoa. Era um tambaqui de 12 kg que me chamou pelo nome. Eu falei que queria guardar até os outros chegarem. O Chicão foi logo dizendo:
– É CUMIGO MERMU! É só colocar a corda pela guelra e cabeça e prender no barco. Eu, totalmente por fora da vida selvagem e aquática, fui logo me apresentando,
– Chicão, prende o monstro ali na beira para não dificultar o show de apresentação aos pescadores. O Chicão deu a sua primeira aula.
– Não pode ser no raso, senão as piranhas comem. Vou amarrar na popa que ele ficará no ambiente dele. 10×0 para o Chicão na sua primeira aula. Comemos o “tamba” de 12 kg e não lembro de comer coisa melhor na minha vida de amazônida. O Chicão pediu R$20,00 e eu dei R$100,00. Pura nobreza!
Saímos no outro dia e o Rallye tomou forma.
No quilômetro 110, na Cidade do Castanho, tomamos Coca Cola e água mineral, conversamos com os caboclos que já estavam fazendo uma boquinha com um um porco do mato, assado na brasa e com muita pimenta ao lado. Enrolei o “coré” em um pão e joguei a pimenta e o sal. Aprende Troisgros! É divino!
Seguimos o caminho na estrada de barro batido e filmamos tudo. Da floresta para a estrada, nuvens de borboletas de muitas cores e espécies, nos cumprimentavam e passavam para o outro lado. Ao sair do Castanho, avistamos uma anta. Linda, majestosa, a nos encarar, de quatro patas, diferente daquelas, de Brasília, que nos esnobam e soltam foguetes quando dizem não. Fotografamos a Ministra e seguimos. No quilometro 470, no Restaurante do Gaucho, comemos umas bananas pacovãs e colocamos diesel nos tanques de guerra.
Chegamos ao quilometro 628 e o Céu nos recebeu com o trecho já pavimentado. O Brasil esquecido era deixado para trás e começávamos a vida de brasileiro mesmo.
Estávamos perto de Humaitá e vimos uma vara de porcos atravessando a estrada. Eram uns duzentos porcos e o líder, conhecido na região como PEARA, ficou nos encarando, com o focinho levantado. Um verdadeiro líder.
No finalzinho da tarde, sol vermelho a nos iluminar, entramos triunfantes na bela Porto Velho. Aí tomamos um banho de realidade.
Por que manter Amazonas e Roraima longe do Brasil. Somos duas ilhas do Havaí sem as gostosuras de Honolulu.
– Presidente Lula, ou nos dê ou nos tire o direito de sermos brasileiros. Apenas os militares, o senhor e a Presidente Dilma nos deram o que precisávamos. Agora, que estamos todos juntos e embolados, olhe com carinho para a ponte arquitetada pelo genial Oscar Niemeyer e ligue esses dois estados que só são ligados, por estrada, à Venezuela do Maduro.
Roberto Caminha Filho, economista, adorou a estrada, ficou mais brasileiro e engrossa os nortistas que pedirão ao Presidente Lula, uma ligação cidadã com o nosso Brasil.