O comportamento “Brasil-colônia” de alguns que recebem comida por app

Nas praças de alimentação, pós-refeição, o que custa você levar a sua bandeja para o lugar de descarte? Na gringa, o brasileiro médio leva. E acha bonito, civilizado. Aqui não.

Um dia eu estava hospedado em um hotel cinco estrelas em São Paulo. Quando cheguei de madrugada de um evento, passando pelo corredor do andar que estava instalado, vi diversas bandejas no chão com pratos cobertos com cloche. Possivelmente esperando que algum profissional possa recolher no dia seguinte. No chão! Possivelmente os hóspedes não podiam conviver com o cheiro da comida que estava nas louças, que eles mesmos haviam usado.

Sabe aquele pensamento replicado “eu sujo, porque gera serviço para o gari”?

O comportamento colonial brasileiro, enraizado na época da escravização e da exploração desmedida, deixou marcas profundas na nossa sociedade até os dias atuais. A herança desse período cruel e desumano perpetua um tipo de mentalidade que valoriza a servidão e a submissão de uns em relação aos outros.

A busca por ser servido, por ter privilégios baseados em raça, classe social ou poder econômico, apenas reforça as estruturas de desigualdade que estão presentes em nossa cultura. Essa mentalidade colonizada impede o desenvolvimento de relações mais igualitárias e respeitosas entre as pessoas, perpetuando um ciclo de opressão e injustiça.

É fundamental que reconheçamos e questionemos esses padrões de comportamento que replicam nosso passado colonial. Devemos lutar por uma sociedade onde o respeito mútuo e a igualdade de oportunidades sejam valores fundamentais. Somente assim poderemos romper com essa lógica perversa e construir um futuro mais digno e humano para todos.

Então, a tia do café tem nome. Você decorou os nomes dos seus chefes, porque julgou importante. Chamar a babá do seu filho de “Bá” é como se fazia no século 17. O nome humaniza as pessoas.

Agora, coloque seu chinelo e desça para pegar a sua refeição. Porque é o mínimo. Você pagou para a comida chegar até você, em um determinado ponto de entrega. Daqui a pouco você vai desejar que ela seja dada na sua boca. Não esqueça de ser cortês com o trabalhador.

Como escreveu o poeta Marcelino Freire “Ninguém aqui é escravo de ninguém!”

Rodrigo França é escritor, filósofo e diretor de cinema e teatro

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