Médico lucra com propriedade de terras na Amazônia do tamanho do DF

Conhecido como “o rei do crédito de carbono”, o médico Ricardo Stoppe Júnior é suspeito, segundo a Polícia Federal, de se apropriar ilegalmente de terras na Amazônia, em um esquema de grilagem que perdura desde 2004.

A investigação apurou que o tamanho do território invadido pelo médico é do tamanho do Distrito Federal, algo em torno de 538 mil hectares. As terras, de acordo com a PF, pertencem a União e foram apropriadas após suposta fraude de documentos.

Ao longo dos últimos 20 anos, Stoppe Júnior fez verdadeira fortuna explorando terras públicas. Ele teria lucrado, pelo menos, R$ 180 milhões com projetos de crédito de carbono e mais de R$ 600 milhões com extração ilegal de madeira.

O médico foi preso em junho deste ano, mas a investigação contra ele e os sócios, integrantes do mesmo grupo criminoso, segue em andamento.

Propina para fraudar documentos

De acordo com a PF, o grupo pagou propina para funcionários de cartórios e até do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para fraudar documentos e dar veracidade aos registros falsos de imóveis.

Livros antigos, de cerca de 100 anos, foram alterados pelo grupo de Ricardo Stoppe. Em entrevista ao Fantástico, o delegado da Polícia Federal, Thiago Scarpelline, explicou que os investigados montavam processos ilegais de apropriação, inserindo folhas falsas nos registros públicos.

Ao todo, 22 documentos, entre informações, laudos periciais e relatórios foram avaliados pelos agentes, e ficou evidenciada a fraude. As supostas propriedades do médico estavam, na verdade, “dentro e em cima de áreas públicas da união”, afirma o delegado.

Fama e presença na COP 28

Stoppe Júnior ficou tão famoso, conhecido como o “rei do crédito de carbono”, que chegou a participar da Conferencia do Clima da ONU, a COP 28, no final de 2023. O evento ocorreu em Dubai e ele falou ao público presente como um exemplo de vendedor de créditos de carbono.

A investigação da Polícia Federal desnudou a maneira como a fama e a fortuna do médico foram feitas, nas últimas décadas. Ele é apontado, inclusive, como um dos líderes do grupo criminoso.

Durante a apuração, o Conselho de Controle de Atividade Financeiras (Coaf) informou aos agentes que “os cabeças” do grupo tiveram uma movimentação suspeita de dinheiro de quase R$ 1,2 bilhão.

Ricardo Stoppe e os sócios serão indiciados por corrupção de servidores públicos, lavagem de dinheiro, desmatamento e organização criminosa. A PF identificou, pelo menos, 50 participantes do esquema do médico.

A defesa alega que ele é inocente e que perícias técnicas e contábeis vão esclarecer as acusações. Os advogados destacam, ainda, que a prisão dele é desnecessária, pois Stoppe Júnior é réu primário e sem antecedentes criminais.

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