Em 1948, indagado pela extinta Revista do Globo sobre se considerava-se modernista, Graciliano Ramos foi afiado. “Que ideia! Enquanto os rapazes de 22 promoviam seu movimentozinho, achava-me em Palmeira dos Índios, em pleno sertão alagoano, vendendo chita no balcão”.
O desprezo com o “movimentozinho” de 1922 é um dos veios de “O antimodernista: Graciliano Ramos e 1922”, conjunto de crônicas, cartas e entrevistas em que o Velho Graça rechaça o dito novo trazido por Mario, Oswald e outros.
Graciliano tinha uma antipatia pela postura iconoclasta dos modernistas, que olhavam para tudo que vinha antes, colocavam no mesmo balaio de traças e se anunciavam como a grande novidade. “Os modernistas brasileiros, confundindo o ambiente literário do país com a Academia, traçaram linhas divisórias rígidas (mas arbitrárias) entre o bom e o mau. E, querendo destruir tudo que ficara para trás, condenaram, por ignorância ou safadeza, muita coisa que merecia ser salva. Vendo em Coelho Neto a encarnação da literatura brasileira – o que era um erro – fingiram esquecer tudo quanto havia antes, e nessa condenação maciça cometeram injustiças tremendas. […]”, disse, na mesma entrevista, de novo sem poupar adjetivos.
Organizado por Thiago Mio Salla e Ieda Lebensztayn, o livro sai pela editora Record esta semana.
O curioso é que qualquer simples busca no Google sobre Graciliano remete à informação de que se trata de um autor modernista. O livro é valioso também para mergulhar no quão válidas são essas classificações.
Em alguns textos, Graciliano explora quais são suas semelhanças e distâncias de autores como Mário e Oswald de Andrade, ou com outros escritores nordestinos, como Manuel Bandeira, Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, além de representantes do chamado romance de 1930, como José Lins do Rego, Jorge Amado e Rachel de Queiroz.
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