Crítica Zona de Interesse | Drama é o retrato pretensioso do outro lado barbárie

Não é difícil encontrar filmes que retratam um dos piores períodos da história da humanidade: o nazismo. Desde o maravilhoso e melancólico A Vida é Bela, até o ácido Bastardos Inglórios de Quentin Tarantino, são várias as obras que se debruçam sobre o horror da barbárie da Segunda Guerra Mundial, mas poucos (ou quase nenhum) fazem o que Zona de Interesse fez: vomitar na tela o retrato fiel da banalidade do mal. 

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Dirigido por Jonathan Glazer e baseado no livro homônimo do escritor britânico Martin Amis, o filme mostra o outro lado da moeda. Nele, uma família cujo pai, Rudolf Höss, é um oficial nazista, vive em uma casa grande e arejada em Oświęcim, na Polônia, mais precisamente do lado do muro de Auschwitz, o maior campo de concentração nazista da época. E apesar de encararem essa realidade diariamente — afinal, são bombardeados com gritos e súplicas dos judeus presos no local —, eles vivem uma vida tranquila dentro do que se espera da normalidade.

 

É isso o que mais choca no longa, e é esse argumento inteligente e quase inédito que é explorado durante as quase duas horas de tela. O outro lado da moeda parece muito mais dourado do que poderia ser, e é dolorido ver e entender como os nazistas, suas esposas, seus filhos e suas empregadas domésticas normalizaram e banalizaram um dos maiores horrores que um ser humano pode viver.


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Tudo isso faria de Zona de Interesse um filme perfeito, não fosse por um detalhe… ele é chato, além de pedante, cansativo e até mesmo confuso em alguns momentos. É como se o diretor pegasse uma ideia brilhante e construísse uma narrativa de uma maneira pretensiosa para agradar apenas aqueles que gostam de bater no peito e afirmar que são cinéfilos cults. Com exceção deste tipo de público, os meros mortais costumam se cansar da obra lá pela primeira meia hora, e não é difícil ver um ou outro se levantando e deixando a sala de cinema.

Zona de Interesse tem excelentes acertos, mas não deixa de ser chato. (Divulgação/A24)

De certa forma, está tudo ali. Alguns diálogos incríveis, uma fotografia adequada e um jogo de câmeras em plano aberto que funciona muito bem para privilegiar a visão do espaço físico —  afinal, estamos falando de uma casa ao lado de Auschwitz —, mas ainda assim o filme custa a engrenar. Talvez pela forma como as informações são mostradas, de uma maneira solta, ou pela montagem estranha das cenas, já que parece que elas foram coladas umas às outras sem muita lógica ou coerência. Fato é que há uma sensação de que o filme  irá mostrar algo a mais ao espectador, o que não acontece.

O final é bruto e deixa um gosto agridoce na boca. Uma sensação de ter assistido um dos longas mais brilhantes dos últimos tempos, mas que poderia ter sido melhor trabalhado. Na intenção de fazer um retrato cru da normalização do terror pelos nazistas, o filme esqueceu que. para o público, às vezes, é preciso dourar a pílula, e uma ideia mal trabalhada pode estragar uma obra de arte. Uma boa ideia não se sustenta sem uma boa narrativa para conduzi-la.

O drama mostra o outro lado do nazismo. (Divulgação/A24)
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O som do nazismo

E se as imagens deixam a desejar em alguns momentos, Zona de Interesse impressiona na sonoplastia —não à toa está concorrendo à categoria Melhor Som, além de outras quatro, no Oscar de 2024. O filme não espetaculariza com imagens de judeus sofrendo, mas também não poupa o público de ouvir suas súplicas, os tiros e a brutalidade dos oficiais que trabalham no campo. Esse trabalho primoroso é assinado por Johnnie Burn (O Lagosta e Sob a Pele).

Já os atores ganham menos relevância do que a trama em si, mas também não fazem feio em cena. O destaque fica para a alemã Sandra Hüller que também está em Anatomia de Uma Queda e dá vida à “rainha de Auschwitz” como ela, esposa de Rudolf Höss, gosta de ser chamada.

Zona de Interesse é um dos filmes indicado ao Oscar de 2024. (Divulgação/A24)

Por fim, Zona de Interesse é, de fato, um filme cujo argumento principal é extremamente relevante e atrativo, e apesar de ser fantástico ao retratar o outro lado do horror e mostrar como é fácil para a sociedade normalizar a crueldade, isso não o exime de ser falho. Vale a entrada no cinema, mas é completamente plausível que os elogios venham recheados também com críticas  quanto ao seu ritmo e sua montagem. Quase nada na vida é unânime e esta produção também não passa ilesa.

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