Marcelo Moutinho participa do bate-papo de lançamento de O verão de 80

Na terça-feira, 24/9, acontece o lançamento de O verão de 80, o novo título da Coleção Marguerite Duras (Relicário). Considerado pela crítica um dos livros mais representativos de Duras, reúne as dez crônicas da autora publicadas no jornal Libération, escritas a partir de sua janela com vista para a praia de Trouville.

Para o bate-papo, que será transmitido ao vivo pelo Canal da Relicário no YouTube estarão reunidos, a partir das 19h, Isabela Bosi, Luciene Guimarães e Marcelo Moutinho.

ESCRITOS COM VISTA PARA O MAR E PARA O MUNDO 

Em livro de crônicas, publicadas inicialmente no ‘Libération’, Marguerite Duras  subverte a abordagem jornalística do gênero em prosa sinestésica

“As crônicas não têm título, são como  

capítulos de uma narrativa fragmentada  

sobre o tempo, em suas versões  

climática e do movimento ocular para o  

mundo de fora e para o universo pessoal  

da cronista, como um poema longo que  

não cansa de surpreender e encantar ao  

construir símiles, metáforas e imagens  

arrebatadoras.” 

_Cidinha da Silva 

O mais novo título da Coleção Marguerite Duras é solar e não poderia ter identificação maior  com o público leitor brasileiro, pois é um livro de crônicas. Considerado pela crítica um dos  livros mais representativos de Duras, O verão de 80 reúne as dez crônicas da autora  publicadas no jornal Libération, escritas a partir de sua janela com vista para a praia de  Trouville. 

Com tradução de Adriana Lisboa, as crônicas de Marguerite Duras podem ser lidas como  uma profunda reflexão sobre a memória e a condição humana. Nos textos, a autora  francófona tece um olhar único sobre os eventos históricos que marcaram o ano de 1980,  entrelaçando-os com a subjetividade de seu entorno no verão da Normandia. 

Entre o factual e o literário 

Em 1980, Marguerite Duras aceitou a oferta de Serge July, diretor editorial do Libération,  para publicar uma série semanal de verão na forma de crônicas sobre a atualidade. 

“Seu estilo de crônica era único. Ao mesmo tempo que fala de assuntos da atualidade, com  estilo literário, ela traz leveza quando fala do clima e da contemplação do mar”, explica  Luciene Guimarães, coordenadora da Coleção Marguerite Duras e especialista na obra da  autora. “A atualidade política e social está presente, mas ela observa, como escritora que é, 

colhendo material para seu trabalho. E nas crônicas ela fazia brilhantemente essa junção,  com um sabor literário”, complementa. 

Sob o seu amplo olhar estão os estaleiros de construção de Gdansk, a fome em Uganda, os  Jogos Olímpicos de Moscou, o funeral do Xá do Irã, os tanques russos em Cabul… Mas  também a criança de olhos cinzentos, o tubarão chamado Rakéboumboum, o monitor da  colônia de férias e os pássaros no céu. São textos críticos sobre o contexto da França e do  mundo dos anos 1980 – mas ao mesmo tempo atualíssimos – fundidos às suas memórias  pessoais e questões universais, convidando-nos a uma profunda reflexão sobre a vida, o  tempo, o amor, a política e a condição humana. 

“Duras manufatura a crônica” 

A escritora Cidinha da Silva assina o texto de orelha de O verão de 80. Nele, Cidinha  ressalta como Marguerite Duras “manufatura a crônica como fabulação, desafiando a  alardeada abordagem jornalística do gênero ou os aspectos curtos, divertidos e frugais que  costumam encarcerá-lo”.  

No livro, Duras nos transporta para um período turbulento da história mundial, com a  invasão do Afeganistão, a fome na África e a greve dos trabalhadores poloneses. No  entanto, não se limita a relatar os fatos, explorando nuances e implicações desses eventos  na sociedade. Em suas crônicas, a autora faz uma crítica social incisiva, trazendo à tona as  injustiças e a indiferença da humanidade diante do sofrimento alheio. 

A passagem do tempo é um tema central na obra de Duras, que explora a relação entre o  presente e o passado, a memória e o esquecimento, mostrando como os acontecimentos  históricos moldam nossas vidas e nossas identidades. 

Sinestésica, a prosa de Marguerite Duras é rica em imagens, sensações e emoções. Sua  linguagem poética evoca a complexidade da experiência humana, provocando uma  verdadeira imersão neste livro e nos convida a pensar sobre o mundo, sobre nós mesmos e  sobre o nosso lugar na história, transcendendo o tempo e o espaço. 

Trecho do livro 

“Fico muito tempo diante das páginas em branco e depois fecho a casa, subo para o meu  quarto e estou novamente diante das páginas em branco da greve de Gdansk. Todos  podem ver Uganda. Gdansk não, quase ninguém tem como ver o que é Gdansk. De  repente, a verdade vem à tona: quase ninguém ainda é capaz de sentir a felicidade do que  está acontecendo em Gdansk. Estou sozinha, e nessa felicidade. Estou numa solidão que  reconheço, que reconhecemos entre todas, sem qualquer recurso agora, irremediável, a  solidão política. É essa felicidade que não posso contar a ninguém aquela que me impede  de escrever. Era isso. Tento telefonar para velhos amigos, não encontro ninguém, não há  ninguém em lugar algum. As pessoas já não sabem ver a felicidade que é Gdansk porque ela é de natureza revolucionária e o pensamento revolucionário abandonou as pessoas.” (p.  75) 

Capa Verao de 80
Capa Verao de 80

Sobre a autora 

Marguerite Duras é uma das escritoras mais celebradas da literatura francófona. Filha de  mãe e pai franceses, nasceu em 1914 na Indochina – então colônia francesa, hoje Vietnã –,  onde seus pais foram tentar a vida. Lá a escritora passou sua infância e adolescência, um período de vivência asiática que marcou sua memória e influenciou profundamente sua  obra. Em 1932, com então 18 anos, Marguerite foi para Paris, onde cursou Direito na  Universidade Sorbonne. Em 1943, publicou seu primeiro romance, Os insolentes, iniciando  então uma profícua carreira tanto na literatura como em cinema, teatro e imprensa, com  uma produção de dezenas de roteiros de filmes, textos dramáticos e romances, entre eles O amante (best-seller que lhe rendeu o prêmio Goncourt de 1984 e foi traduzido para dezenas  de países), Uma barragem contra o Pacífico e O arrebatamento de Lol V. Stein. Seu  trabalho foi associado ao movimento chamado nouveau roman (novo romance) e  ao existencialismo. Em 1959, escreveu o roteiro do filme Hiroshima, mon amour, dirigido por  Alain Resnais e aclamado em Cannes. Nos anos 1970, dedicou-se exclusivamente ao  cinema. India song e Le camion foram projetados no Festival de Cannes em 1975 e 1977,  respectivamente. Morreu aos 81 anos em Paris, em 1996. 

Sobre a Coleção Marguerite Duras 

Os títulos que integram a Coleção Marguerite Duras são representativos de parte de sua  obra e transitam por vários gêneros, passando pelo ensaio, roteiro, romances e o chamado  texto-filme. Coordenada por Luciene Guimarães e com cinco volumes já publicados, a  coleção tem a obra de Marguerite Duras representada por uma criteriosa seleção de títulos. Cada título de Duras é publicado com paratextos assinados por pesquisadores francófonos  e brasileiros, bem como por especialistas que se dedicam a decifrar com rigor a poética  durassiana. 

Títulos publicados: 

Escrever Hiroshima meu amor Moderato Cantabile . Olhos azuis, cabelos pretos & A puta  da costa normanda O arrebatamento de Lol V. Stein 

Próximos lançamentos: 

A doença da morte Destruir, disse ela O homem atlântico • 

O homem sentado no corredor Uma barragem contra o Pacífico

Especificações técnicas 

Título: O verão de 80 

Autora: Marguerite Duras 

Tradução: Adriana Lisboa 

Texto de capa: Cidinha da Silva 

Prefácio: Anne Brancsy 

ISBN: 978-65-89889-92-2 

Categorias: Literatura estrangeira, crônica 

Encadernação: brochura 

Formato: 13 x 19,5 × 1 cm 

Páginas: 120 

Peso: 0,3kg 

Edição: 1ª (ago.-set. 2024) Preço de capa: R$ 62,90

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