Empresas anunciam fusão para criar gigante no setor de pescado

 

Em um movimento inédito no setor de pescados brasileiro, a Frescatto Company, do Rio de Janeiro, e a Prime Seafood, do Recife, acabam de anunciar uma fusão. Não houve movimentação financeira no negócio, apenas troca de ações, segundo as empresas.

Depois de registrarem um faturamento combinado de R$ 1,6 bilhão no ano passado, as duas companhias esperam que a fusão eleve a receita para R$ 2 bilhões em 2024 e R$ 3 bilhões em 2025. Se a projeção se concretizar, a Frescatto — que manterá sua marca após a fusão — vai se consolidar como maior empresa de pescados da América Latina.

“Os ganhos serão em novos negócios, e não na economia de custos. É uma fusão de complementaridade e sinergia”, disse Thiago De Luca, CEO da Frescatto, em entrevista à reportagem.

A meta da Frescatto é ampliar ainda mais sua presença no mercado nacional, que já lidera, com aproveitamento da estrutura e da capilaridade que a Prime tem no Norte e Nordeste, e expandir a participação no comércio global, controlado pela nova parceira.

Segundo De Luca, serão investidos R$ 60 milhões na ampliação de um frigorífico da Frescatto no Rio de Janeiro, que já estavam previstos, e outros R$ 10 milhões no centro de distribuição localizado na capital paulista.

A expectativa é chegar à produção e comercialização de 40 mil toneladas de pescados neste ano, 25% mais que as 32 mil toneladas produzidas por Frescatto e Prime juntas em 2023.

Na prática, a Prime será incorporada à Frescatto, que sozinha faturou R$ 1,3 bilhão em 2023 com a venda de 28 mil toneladas de peixes frescos para 12,5 mil clientes em todo o país, majoritariamente bares, hotéis e restaurantes.

A maior parte da produção é processada na indústria em Duque de Caxias (RJ). A companhia também tem centros de distribuição em São Paulo, Brasília, Contagem (MG) e Recife. A empresa se destaca na comercialização de salmão, principalmente importado do Chile, de tilápia e de camarão cinza, entre outros, entregues na porta dos clientes. Para supermercados, a aposta é na tecnologia de atmosfera modificada da linha Alfresco, que mantém o produto fresco, sem resíduo e com validade adequada para consumo em casa.

Já a Prime lidera as exportações de pescados do Brasil. Faturou R$ 300 milhões em 2023 com a venda de lagosta, pargo e pescada amarela para China e Estados Unidos, principalmente. Trabalha com uma rede de fornecedores formada por pescadores artesanais de toda a costa brasileira, que deverá ser ampliada em 20% com a fusão, e tem indústrias na Bahia, Pernambuco e Pará.

“A expectativa é que as exportações alcancem R$ 350 milhões em 2024, com o embarque de cerca de 4 mil toneladas de pescados”, afirmou Eduardo Lobo, até então presidente da Prime e que passa a ocupar a diretoria e uma cadeira no conselho da Frescatto.

A fusão ocorre após conversas iniciadas ainda em 2015, quando Lobo e De Luca fundaram e iniciaram a gestão da Abipesca, associação que reúne a indústria pesqueira brasileira. A operação pode incentivar movimentos semelhantes em outras empresas do ramo.

Mesmo após o fechamento da operação, o CEO da Frescatto disse que fará aquisições de outras empresas e que não descarta uma abertura de capital. “Nosso objetivo é fazer uma verticalização no segmento. A abertura de capital é a possibilidade de ser um catalisador desse processo”, vislumbrou.

Ele acredita que o pescado será a nova “estrela” do agronegócio brasileiro, com o potencial de aumento do consumo, atualmente perto de 11 quilos per capita anuais, e de crescimento sustentável do setor nos próximos anos.

Para De Luca, o ponto de virada é a mudança dos hábitos alimentares e das demandas da nova geração, impulsionada, inclusive, pela popularização da comida oriental Brasil afora e a busca por alimentos mais sustentáveis. “Nada mais forte do que começar com crianças e o pescado já estar inserido na alimentação delas, com peixe de qualidade , com valores mais acessíveis”, disse o CEO.

A alta informalidade do setor e os preços ainda altos dessa proteína são dificuldades enfrentadas pelo setor, mas que podem ser solucionadas com políticas públicas, segundo De Luca. Ele questiona a falta de isonomia tributária nas rações para pescados, o que poderia baratear o custo do peixe para a população. Enquanto bovinos, suínos e aves têm isenção de impostos, a alimentação dos animais das águas não são desoneradas.

Vindo de uma família tradicional no setor, o CEO da Frescatto é neto do imigrante italiano Carmelo De Luca, que abriu uma peixaria na capital carioca em 1945. Na terceira geração à frente da empresa, ele demonstra entusiasmo e paixão pelo negócio. “Tenho muita vontade que essa empresa tenha vida longa, já não sei mais viver sem esse trabalho diário no peixe”, disse.

A Frescatto também espera ganhar notoriedade mundial com os diferenciais da Prime nas exportações, como o envio de lagosta viva para a China, operação que exige tecnologia e agilidade para a conservação dos animais e o transporte aéreo até o outro lado do mundo.

A expectativa com a reabertura do mercado europeu, fechado desde 2018, também anima Thiago De Luca. “As conversas estão adiantadas para solucionar as barreiras neste ano”, afirmou.

Fonte: GR

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