A série de 8 quedas consecutivas do dólar frente ao real e de 7 pregões seguidos de altas da Bolsa de Valores do Brasil (B3) chegou ao fim nesta quarta-feira (30/4), na última sessão do mês de abril.
A moeda norte-americana interrompeu a sequência de baixas e terminou o dia em disparada, enquanto o Ibovespa, principal índice da B3, fechou praticamente estável, em leve queda.
O resultado refletiu a preocupação do mercado com a maior economia do mundo – o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos recuou no primeiro trimestre. O “fantasma” da uma eventual recessão norte-americana voltou a assombrar o governo do presidente Donald Trump.
Dólar
- O dólar fechou a sessão desta quarta em alta de 0,83% frente ao real, negociado a R$ 5,677.
- Na cotação máxima do dia, o dólar bateu R$ 5,687. A mínima é de R$ 5,605.
- Na véspera, a moeda dos EUA fechou com perdas de 0,31%, cotado a R$ 5,63, o menor valor desde o início do tarifaço comercial imposto pelos EUA.
- Com o resultado desta quarta, a moeda acumulou queda de 0,5% em abril. No ano, as perdas são de 8,13%.
Ibovespa
- O Ibovespa fechou o último pregão de abril em queda de 0,02%, aos 135 mil pontos, perto da estabilidade.
- Na pontuação máxima do dia, o Ibovespa bateu 135,1 mil pontos. A mínima foi de 133,9 mil.
- No dia anterior, o Ibovespa fechou em leve alta de 0,06%, aos 135 mil pontos.
- Mesmo com o resultado negativo, a Bolsa brasileira acumulou ganhos de 3,69% no mês. Em 2025, a alta é de 12,29%.
PIB dos EUA recua e assusta o mercado
Segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio dos EUA, no primeiro trimestre de 2025, o Produto Interno Bruto (PIB) do país registrou uma contração de 0,3%, na comparação anual.
O resultado veio bem pior do que os analistas esperavam. De acordo com o consenso Refinitiv, que reúne expectativas do mercado, a estimativa é a de que a economia norte-americana tivesse avançado 0,2% entre janeiro e março.
Também nesta manhã, o Relatório Nacional de Emprego da ADP indicou que a criação de vagas de emprego no setor privado dos EUA desacelerou mais do que se esperava em abril, com 62 mil vagas (ante 147 mil do mês anterior). As projeções do mercado apontavam para 114 mil vagas.
Trump culpa Biden
Em mensagens publicadas em sua rede social, a Truth Social, o presidente dos EUA, Donald Trump, culpou o antecessor Joe Biden pelos resultados econômicos e disse que não há nenhuma relação entre a contração do PIB e as tarifas comerciais impostas por ele.
“Isso levará um tempo, não tem nada a ver com tarifas, apenas que ele [Biden] nos deixou com números ruins, mas, quando o boom começar, será como nenhum outro. Sejam pacientes!”, escreveu.
“As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país vai prosperar, mas precisamos nos livrar do ‘excesso’ de Biden”, prosseguiu Trump.
O presidente dos EUA completou: “Este é o mercado de ações de Biden, não de Trump. Só assumi em 20 de janeiro”.
“Alívio” em tarifas para automóveis
Os investidores também seguem acompanhando os desdobramentos da guerra comercial deflagrada pelo governo Trump contra a China e mais de uma centena de países. Nessa terça-feira (29/4), confirmando as expectativas do mercado, Trump anunciou um alívio nas tarifas impostas sobre o setor automotivo.
A bordo do Air Force One, o avião oficial da Presidência dos EUA, Trump assinou um decreto que estipula, no caso dos automóveis importados, uma pausa nas tarifas separadas sobre alumínio e aço. Assim, o governo norte-americano pretende evirar que múltiplas tarifas se acumulem no setor.
“Agora determinei que, na medida em que essas tarifas se aplicam ao mesmo artigo, elas não devem ter um efeito cumulativo (ou ‘se acumular’ uma sobre a outra) porque a taxa de imposto resultante de tal acúmulo excede o que é necessário para alcançar o objetivo político pretendido”, anotou Trump na ordem executiva divulgada pela Casa Branca.
De acordo com o governo dos EUA, devem ser modificadas as taxas de 25% sobre peças automotivas, que estavam previstas para entrar em vigor no dia 3 de maio. Os fabricantes de automóveis que produzem e vendem veículos nos EUA terão um desconto de até 3,75% do valor de um veículo fabricado no país, segundo informações do Departamento de Comércio.
Esse desconto diminuiria, em 1 ano, para até 2,5% do valor do automóvel e seria eliminado no ano seguinte – em uma tentativa de manter a fabricação doméstica. A medida seria válida para veículos produzidos após o dia 3 de abril.
Na semana passada, diversos grupos do setor apelaram a Trump para que houvesse uma redução das taxas de 25% sobre peças automotivas importadas, alegando que isso levaria a uma diminuição das vendas de veículos e à alta dos preços.
Dados de emprego no Brasil
No cenário doméstico, as atenções estiveram voltadas para a divulgação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Ao analisar os resultados do Caged, os investidores buscam sinalizações a respeito de uma possível desaceleração da economia brasileira – o que poderia indicar uma maior possibilidade de queda da taxa básica de juros.
O Brasil criou 654.503 vagas de emprego formal (ou seja, com carteira assinada) no primeiro trimestre de 2025, o que representa um recuo de 9,8% em relação ao mesmo período de 2024 (725.973 postos de trabalho formal). Em março, o número de oportunidades disponíveis foi de 71.576 — uma queda de 83,6% em relação a fevereiro.
O saldo do ano é decorrente de 7.138.587 de admissões e 6.484.084 de desligamentos.
O valor acumulado do trimestre é o pior desde 2020, início da série histórica do Novo Caged. À época, o Brasil tinha aberto apenas 34,5 mil vagas de emprego com carteira assinada após fechar um grande número de postos.
Na comparação mensal, é o segundo pior resultado para março desde o começo da série histórica, em 2020, quando 294.985 postos de trabalho foram fechados no país.
Nesta manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua). Segundo o levantamento, o desemprego ficou em 7% no trimestre encerrado em março – alta de 0,8 ponto percentual frente ao trimestre encerrado em dezembro de 2024 (6,2%) e queda de 0,9 ponto percentual ante o mesmo período do ano passado (7,9%).
Embora tenha crescido, esta é a menor taxa de desocupação para um trimestre encerrado em março dentro da série histórica, iniciada em 2012. Até então, o recorde era do trimestre terminado em março de 2014 (7,2%).
Na véspera, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, praticamente descartou a hipótese de a autoridade monetária colocar um fim no ciclo de aperto monetário, que deve prosseguir por mais tempo. É também o que o mercado espera.