Um em cada quatro adolescentes do mundo poderá desenvolver obesidade ou transtornos mentais até 2030. O alerta vem de uma nova análise da Comissão Lancet sobre saúde e bem-estar de adolescentes, publicada nessa terça-feira (20/5).
O levantamento, que atualiza a primeira edição lançada em 2016, mostra que pouco mudou em uma década. Quase 1,1 bilhão de jovens seguem expostos a problemas de saúde que poderiam ser prevenidos ou tratados, como HIV, depressão, gravidez precoce, má nutrição e lesões.
Segundo os autores da pesquisa, a ausência de investimento e a falta de prioridade política deixaram os adolescentes vulneráveis a riscos antigos e emergentes, agravados por crises como a pandemia de Covid-19, mudanças climáticas e o avanço do mundo digital.
“A saúde e o bem-estar dos adolescentes em todo o mundo estão em um ponto crítico. Devemos priorizar o investimento na saúde dos jovens para garantir um futuro mais justo e saudável”, afirmou Sarah Baird, copresidente da comissão e pesquisadora da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, em comunicado.
Obesidade, anemia e depressão devem aumentar
Com base em dados do Global Burden of Disease, o estudo projeta que, até 2030, 464 milhões de adolescentes estarão com sobrepeso ou obesidade — 143 milhões a mais que em 2015.
Em países da África e da Ásia, o número de jovens com excesso de peso aumentou até oito vezes nas últimas três décadas. A previsão é de que um terço dos adolescentes de países de alta renda, América Latina e Oriente Médio estejam acima do peso até o fim da década.
A anemia também segue como um problema persistente. A estimativa é de que um terço das adolescentes no mundo apresentará o quadro até 2030. A condição pode provocar cansaço extremo e afetar o crescimento físico e o desenvolvimento cognitivo.
Já os transtornos mentais continuam crescendo. A projeção é de que, em cinco anos, 42 milhões de anos de vida saudável sejam perdidos devido a problemas como ansiedade, depressão ou suicídio — dois milhões a mais que em 2015. O cálculo estima o tempo que jovens deixariam de viver com qualidade por causa dessas doenças.
Apesar dos alertas, o estudo aponta que houve queda global no uso de álcool e cigarro, além do aumento da participação de jovens no ensino secundário, especialmente entre meninas. Ainda assim, os autores destacam que os avanços são insuficientes diante da complexidade dos desafios atuais.
Crises climáticas e digitais ampliam vulnerabilidade
O relatório também chama atenção para novas ameaças à saúde dos jovens. As mudanças climáticas devem impor riscos crescentes tanto à saúde física quanto à mental.
Esta será a primeira geração a viver toda a vida com temperaturas globais médias ao menos 0,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Até o fim do século, quase 2 bilhões de adolescentes poderão enfrentar um planeta até 2,8 °C mais quente, o que deve resultar em mais doenças causadas pelo calor, insegurança alimentar, escassez de água e impactos psicológicos.
A transição digital também é apontada como fator de risco. Embora a tecnologia amplie o acesso à educação e fortaleça conexões sociais, ela muda a forma como os jovens se relacionam e levanta preocupações sobre os efeitos do ambiente virtual na saúde mental.
Os pesquisadores destacam que, mesmo com evidências ainda limitadas, é preciso cautela para proteger os adolescentes sem restringir de forma excessiva seu acesso digital.
Segundo a comissão, para enfrentar o problema, é necessário ter liderança política, financiamento adequado e incluir os próprios adolescentes nas decisões. Eles representam um quarto da população mundial, mas recebem apenas 2,4% da ajuda global destinada à saúde, embora respondam por 9% da carga de doenças.
“Investimentos em adolescentes geram retornos tão bons quanto os feitos em crianças pequenas e melhores que os em adultos”, reforça o relatório.
A nova edição da Comissão Lancet foi construída com a participação ativa de jovens de 36 países. Mais de 200 adolescentes colaboraram com propostas práticas por meio dos “Youth Solution Labs”. A ideia, segundo os organizadores, é que os jovens não sejam apenas alvo das políticas públicas, mas protagonistas das soluções.
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