Baptista nega presença de Torres em reuniões sobre minuta do golpe

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Júnior voltou atrás sobre depoimento dado à Polícia Federal no qual tinha dito que o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) estava em reuniões nas quais foram tratados assuntos como a minuta do golpe e uma possível instauração da Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Baptista disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) não ter certeza sobre a presença de Anderson Torres em nenhum dos encontros.

O tenente-brigadeiro prestou depoimento ao STF, nesta quarta-feira (21/5), no âmbito da ação penal que apura suposta trama golpista, especificamente das condutas do chamado núcleo 1, que inclui Bolsonaro e Torres como réus.

Durante a oitiva, o ex-chefe da FAB confirmou as reuniões que trataram do tema. Disse que Bolsonaro levou para os comandantes das Forças Armadas consultas sobre uma possível intervenção para que não houvesse posse do presidente eleito em 1º de janeiro de 2023. Porém, fez questão de corrigir uma informação em seu depoimento.

“Sugeri ao presidente que, se havia algum problema ou crise institucional, estava na hora de chamar outros integrantes do governo. Foi aí que sugeri o nome de Anderson Torres. A partir do dia 11, começamos a ficar desconfortáveis se a GLO era para caminhoneiros, manifestantes ou outro objetivo. Eu sugeri o nome de Torres, mas não tenho a mesma certeza da participação de Anderson Torres nas reuniões”, afirmou Baptista Jr.

A defesa de Torres negava a participação dele nas reuniões desde que o depoimento de Baptista Junior à Polícia Federal foi divulgado.

Presença em reuniões

Baptista Júnior, ao responder pergunta do procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, sobre a presença dele no Palácio da Alvorada após o segundo turno das eleições de 2022, contou que se recordava de estar presente no local em ao menos cinco ocasiões: 1º, 2, 14, 22 e 24 de novembro — e em nenhum momento a sós com Bolsonaro.

O ex-comandante, ao ser questionado por Gonet se Bolsonaro questionava o resultado das eleições, apontou que, durante todo o período eleitoral, as Forças Armadas trabalhavam com avaliação de conjuntura. “Estávamos entendendo a sociedade rachada ao meio. Nós sempre trabalhamos com a possibilidade de GLO após o dia 31 [de dezembro de 2022]”, explicou.

“Na reunião do dia 1º [de novembro], estavam Paulo Sérgio [ex-ministro da Defesa], três comandantes e Bruno Bianco [ex-advogado-geral da União]. Colocamos todos os resultados da urna, que não encontramos nenhum risco, nenhum problema. O presidente perguntou a Bruno Bianco se havia mais alguma solução jurídica a tomar. Bruno Bianco disse que ‘não’”, contou.

“Voltamos dia 2 [de novembro] no sofá da biblioteca — ministro da Defesa e três comandantes. O presidente estava frustrado com o resultado, me parecia deprimido. Esse assunto de GLO começou a ser abordado nessas outras reuniões. Mas o foco era a entrega do relatório. Em determinado ponto, penso que foi a partir do dia 11, comecei a entender que a GLO que estávamos abordando não era o que estava acostumado a ver as Forças Armadas cumprirem desde 1992, e começamos a ficar desconfortáveis. Pelo menos eu, Paulo Sérgio e Freire Gomes”, explicou a Gonet.

Contrariou versão de Freire Gomes

Baptista Júnior contrariou ainda a versão do ex-comandante do Exército general Freire Gomes, e afirmou que o então chefe do Exército chegou a determinar a prisão de Bolsonaro caso fosse levado adiante um plano de golpe de Estado.

Questionado por Gonet, Baptista Júnior afirmou que Freire Gomes deu a ordem de prisão a Bolsonaro para o caso de prosseguimento da tentativa golpista.

“Confirmo, sim, sr. General Freire Gomes é uma pessoa polida, educada, não falou essa frase com agressividade, mas colocou exatamente isso “Se o sr. fizer isso, terei que te prender”, disse o ex-comandante da Aeronáutica.

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