Renascer | Sucesso da novela desbancou até a toda poderosa Netflix

A “morte da TV aberta” já foi anunciada algumas vezes ao longo dos anos, desde a popularização da TV a cabo, nos anos 1990, até a recente explosão da guerra dos streamings nos anos 2020. Em todas elas, no entanto, a televisão soube se renovar e seguir em frente com sua programação — feito que, aqui no Brasil, se deve em grande parte ao poder das telenovelas. E a nova Renascer é a maior prova disso.

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Há mais de 70 anos no ar, as novelas brasileiras sempre desempenharam um papel muito importante na construção da identidade cultural do nosso país, tendo um alcance popular que nem a Netflix ou outras plataformas digitais ainda conseguiram obter.

 

O sucesso de Renascer mostra o quanto isso é verdade. O remake do folhetim de Benedito Ruy Barbosa originalmente exibido em 1993 acaba de ganhar uma nova versão da TV Globo e já se consagra como uma das maiores expressões desse poder das novelas. Segundo dados do Kantar IBOPE, divulgados peo jornal Folha de São Paulo, a novela é atualmente o produto mais visto de toda a Globo — ultrapassando até mesmo o BBB 24 —, com uma média semanal de 70 milhões de espectadores. Número esse que a Netflix, maior serviço de streaming do mundo, demora quase um ano para atingir.


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Renascer atrai público masculino jovem

De acordo com os dados divulgados pelo jornal, as duas primeiras semanas da novela, responsáveis por cobrir a primeira fase da trama de José Inocêncio, somaram mais de 311 milhões de horas assistidas apenas na TV. Uma quantia que é 40% maior do que as horas vistas de O Agente Noturno, série número um da Netflix, no mesmo período.

José Inocêncio e os filhos na segunda fase de Renascer (Imagem: Divulgação/TV Globo/Manoella Mello)

Esse imenso público chama atenção ainda por um fator muito particular, que há dois anos não se via na emissora, nem menos durante Pantanal, outro remake de enorme sucesso da TV Globo: grande parte da audiência de Renascer vem de homens, tanto na faixa dos 12 aos 17 anos quanto na faixa dos 18 aos 24 anos.

Isso significa que mesmo com tantos produtos voltados para o público adolescente na Netflix e em outras plataformas como Amazon Prime Video, HBO Max, Disney+ e Star+, os jovens têm dividido sua atenção com a boa e velha TV. Mais precisamente com uma novela das 21h, atração que historicamente possui uma audiência majoritariamente feminina.

Novelas têm aderência em todo o Brasil

Em Renascer, José Pedro é praticamente criado pela família de Deocleciano (Imagem: Divulgação/TV Globo/Fábio Rocha)

Há pouco mais de doze anos no Brasil, segundo um estudo divulgado em 2023 pela Comscore, a Netflix possui mais de 50 milhões de usuários únicos por mês no país, tendo se transformado em um dos principais veículos de entretenimento nacional.

Apesar de tudo isso, é preciso considerar alguns fatores na equação de popularidade da plataforma, como o fato da gigante de streaming ser um serviço pago — que depende de uma rede de internet viável para ser acessada — e ainda “ser um bebê” se comparada a Rede Globo, fundada em 1965 e que conseguiu se infiltrar com qualidade de distribuição pelos lugares mais distantes do país.

Soma-se a isso o fato de que, as telenovelas, em particular, há anos fazem parte da identidade cultural do Brasil, sendo importantes não apenas como entretenimento e exportação, mas também como veículo de reflexão social.

Irandhir Santos e Alice Carvalho também fazem parte do elenco da novela (Imagem: Divulgação/TV Globo/Fábio Rocha)

Para se ter ideia, no final do ano passado, o próprio Bruno Luperi, autor da nova versão de Renascer e neto de Benedito Ruy Barbosa, chegou a falar sobre esse poder de disseminação cultural e social das novelas.

“Na época da novela Velho Chico, a gente foi para comunidades quilombolas e eu cheguei em lugares onde só havia igreja evangélica, TV Globo e cerveja. Nem saneamento básico chegava ali. De fato, hoje eu ouso dizer que o futebol e a novela são traços de união nacional”, comentou o autor na coletiva de imprensa da primeira fase do folhetim.

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Renascer faz parte do imaginário brasileiro

Isso, é claro, ajuda a entender parte do sucesso de Renascer, que se destaca ainda em meio a tantas outras obras por ser exatamente uma novela “com cara de Brasil”, que fala sobre regionalidades, costumes e crenças do interior do país.

Não à toa, sua primeira versão gerou comoção nacional e é até hoje considerada um dos maiores sucessos da emissora — fenômeno que agora estamos vendo se repetir, guardadas as devidas porporções de tempo, evoluções digitais e ofertas de conteúdo.

Novela conta com veteranos como Matheus Nachtergaele e novatos da TV como Xamã (Imagem: Divulgação/TV Globo/Estevam Avellar)

Há pouco mais de quarenta dias no ar, Renascer já está em sua segunda fase, protagonizada por Marcos Palmeira. De acordo com dados recentes divulgado pela Rede Globo, em suas primeiras cinco semanas de exibição, a trama de José Inocêncio superou a audiência e a participação das duas novelas anteriores da emissora: Terra e Paixão e Travessia.

Em São Paulo, a novela teve 26 pontos de audiência e 44% de participação, enquanto no Rio de Janeiro a média parcial foi de 28 pontos de audiência e 46% de participação. Em termos práticos, isso significa cerca de 14,5 milhões de domicílios estavam assistindo à trama apenas nos dois estados. Em termos de comparação, a adaptação live-action de One Piece produzida pela Netflix — e que conta com um perfil de público semelhante ao identificado pelo Kantar Ibope para a trama brasileira — alcançou 18,5 milhões de visualizações em todo o mundo. 

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