Após criança morta em ação policial, PM faz ação sem prazo na região

São Paulo — Após a morte do menino Ryan da Silva Andrade, de 4 anos, durante uma ação policial no Morro do São Bento, em Santos, litoral paulista, a Polícia Militar de São Paulo deu início a uma nova operação na região, com reforço do policiamento e com o dobro de PMs do Choque, tropa de elite da corporação.

A Polícia Militar afirma que o objetivo da operação é “identificar e responsabilizar” criminosos que teriam trocado tiros com policiais antes da criança ser atingida. Na ocorrência, dois adolescentes, de 15 e 17 anos, tidos como suspeitos, foram baleados. O mais velho morreu.

Segundo a PM, havia um grupo de 10 pessoas que teriam atirado gratuitamente contra os policiais, que revidaram. A versão é negada por moradores do Morro do São Bento, que afirmam que os dois adolescentes estavam andando de moto e que só os PMs atiraram.

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Leonel Andrade
Menino de 4 anos é baleado e morre durante operação em Santos
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Ryan, de 4 anos, foi morto por uma bala perdida nesta terça-feira (5/11). Seu pai, Leonel Andrade Santos, foi fuzilado em fevereiro pela PM

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Menino de 4 anos é baleado e morre durante operação em Santos

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Em entrevista coletiva realizada nessa quarta-feira (6/11), o coronel Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar, disse que o disparo que matou Ryan “provavelmente” partiu da arma de um policial.

Segundo ele, a operação não tem prazo definido e que, se for o caso, pode ser prorrogada.

“Essa operação tem um objetivo claro, que é identificar e prender esses criminosos. Não sairemos de lá enquanto eles não forem pelo menos identificados e responsabilizados. Enquanto for necessário, para dar uma resposta para os moradores do Morro do São Bento, nós estaremos”, afirmou Massera.

“O crime não toma conta de nenhuma região em São Paulo. Todas as regiões são do Estado. E vai ser assim no Morro do São Bento. Se houver necessidade de prolongar essa operação, nós vamos prolongar”, acrescentou.

O porta-voz da PM disse que o reforço no policiamento não ficará circunscrito ao Morro do São Bento, vai se estender por toda a cidade de Santos.

“Não é apenas no Morro do São Bento, já identificamos que alguns dos envolvidos moram em outras comunidades. O reforço vai ser estendido para toda a região da Baixada, principalmente o município de Santos”, afirmou.

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Morro São Bento, em Santos, durante a Operação Verão, em 2024

Morro São Bento, em Santos, durante a Operação Verão, em 2024
Morro São Bento, em Santos, durante a Operação Verão, em 2024
Morro São Bento, em Santos, durante a Operação Verão, em 2024
Morro São Bento, em Santos, durante a Operação Verão, em 2024
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Beatriz da Silva Rosa, mãe do menino Ryan, caminha em março de 2024 pelo Morro São Bento, em Santos

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Polícia Militar durante a Operação Verão, em Santos, no litoral de São Paulo

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Polícia Militar durante a Operação Verão, em Santos, no litoral de São Paulo

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O coronel Valmor Racorti, comandante do Policiamento de Choque, afirma que diariamente um pelotão de algum batalhão da unidade, com 24 policiais, é enviado para a Baixada Santista. Após, a morte de Ryan, dois pelotões serão enviados diariamente.

“Hoje enviamos dois pelotões, do 2º e do 3º BPChoque. Amanhã vamos mandar o COE e o Canil. No final de semana, vamos ter a presença da Rota com dois pelotões. Isso é constante, só que em vez de mandar um, estamos mandando dois pelotões”, afirma Racorti.

Segundo ele, a partir do início de dezembro, quando deve ser deflagrada a tradicional Operação Verão, metade de todo o efetivo dos batalhões de choque serão enviados para a Baixada diariamente, em função da grande quantidade de pessoas que viajam para a região.

Além dos batalhões de choque, todo o policiamento do 6º Batalhão do Interior, de Santos, estará focado nas ações envolvendo o episódio no Morro do São Bento.

“PMs são vítimas”

Na entrevista coletiva concedida nessa quarta-feira, o porta-voz da PM Emerson Massera afirmou que os policiais militares que participaram da ocorrência que resultou na morte de Ryan foram afastados. Segundo o coronel, no entanto, eles não são culpados pela morte do garoto, mas sim vítimas.

“Esses sete policiais são encaminhados ao programa de acompanhamento e apoio do policial militar. Vão ser avaliados e receber todo o apoio da PM. Depois avaliaremos se é o caso de manter esse afastamento por um tempo maior ou não. Os policiais não estão sendo tratados pela Polícia Militar como acusados, eles são vítimas.”

“Vitimismo barato”

O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, acusou adversários de explorarem politicamente a morte de Ryan. Durante sessão na Assembleia Legislativa, ele afirmou que a deputada do Psol Paula Nunes tentava fazer “vitimismo barato” diante da tragédia.

“Não tem ninguém aqui comemorando morte”, disse Derrite. “Pelo contrário, estamos lamentando a morte de uma criança de 4 anos que não tem nada a ver com o que aconteceu.”

“Lamento muito que uma deputada estadual faça um vitimismo barato, dentro da Assembleia Legislativa, usando a morte de um menino de 4 anos para fazer politicagem. Não vou falar sobre a ocorrência, quem tem que falar sobre a ocorrência é o inquérito da Polícia Militar que foi instaurado, é o inquérito da Polícia Civil que foi instaurado”, acrescentou.

Pai morto pela PM

Ryan da Silva Andrade é filho de Leonel Andrade dos Santos, de 36 anos, morto por policiais militares em 9 de fevereiro, durante a Operação Verão.

O homem tinha uma deficiência na perna e andava de muleta. Apesar disso, os PMs envolvidos na ocorrência, do Comando de Operações Especiais (COE), disseram que ele estava armado e teria atirado. Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos, amigo de Leonel, também foi morto. A ação ocorreu na Rua São Mateus, também no Morro do São Bento.

Familiares das vitimas afirmam que, após a execução, os policiais impediram uma equipe de socorro de chegar até os corpos. Segundo os relatos, Leonel e Jefferson foram levados para a Santa Casa de Santos já sem vida.

De acordo com os policiais, Leonel e Jefferson estavam armados e carregando uma sacola e, assim que notaram a presença dos PMs, teriam começado a atirar.

“Mamãe, eu quero morrer”

Ryan dizia que queria morrer para reencontrar seu pai, que foi fuzilado em fevereiro durante a Operação Verão (veja abaixo). A informação foi relatada por Beatriz da Silva Rosa, mãe de Ryan, ao Metrópoles.

Na época da morte de Leonel Andrade Santos, de 36 anos, a reportagem foi ao local exato onde ele e Jefferson Ramos Miranda, de 37, haviam sido mortos. Lá, conversaram com familiares das vítimas, incluindo a viúva de Leonel.

Veja o relato da criança:

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