Alucinógeno de 2.200 anos é achado em vaso egípcio na forma de deus-anão

Cientistas encontraram evidências de um ritual alucinogênico feito por antigos egípcios, uma “viagem de ácido” feita para recriar a história mítica de um deus-anão que engana a deusa do céu da cultura passada. O achado, feito na Universidade do Sul da Flórida e publicado na revista científica Scientific Reports na última quarta-feira (13) estimou que a bebida tenha sido consumida há 2.200 anos.

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O recipiente estudado foi esculpido no formato de Bes, um deus egípcio representado por uma pessoa com nanismo com algumas características felinas, associado ao nascimento, diversão e música. A bebida que o vaso continha pôde ser descoberta com técnicas modernas de análise, revelando uma mistura complexa de drogas, ervas e nozes.

Alucinógenos, deuses e mitos

Segundo o estudo, a bebida antiga deixou traços de arruda síria (Peganum harmala), nenúfar azul (Nymphaea caerulea) e uma planta do gênero Cleome, todos drogas conhecidamente responsáveis por efeitos psicotrópicos e medicinais, ou seja, causadores de alucinações. Também havia restos de gergelim, pinhão, alcaçuz e uvas, combinação geralmente usada para deixar a bebida parecendo sangue.


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Diversos vasos em formato do deus Bes — o maior foi o estudado na pesquisa recente (Imagem: Tanasi et al./Scientific Reports)
Diversos vasos em formato do deus Bes — o maior foi o estudado na pesquisa recente (Imagem: Tanasi et al./Scientific Reports)

O vaso também apresentou resquícios de fluidos corporais humanos, como saliva e sangue, sugerindo que alguém realmente bebeu o preparo — algum dos fluidos pode, no entanto, ter sido usado como ingrediente. Os métodos de análise incluíram extração do DNA antigo e espectroscopia infravermelha com transformação de fourier, uma maneira de descobrir a composição de algum composto.

Tudo isso aponta para a possibilidade de que os antigos egípcios estavam tentando recriar o Mito do Olho Solar, quando o deus Bes acalmou a deusa egípcia Hathor, associada ao céu e à fertilidade, quando a mesma estava furiosa e com sede de sangue.

O travesso Bes teria preparado uma bebida alcoólica cheia de uma droga baseada em plantas, mas disfarçada de sangue, para fazer com que a deusa dormisse e esquecesse do que a teria enfurecido.

O scanner 3D portátil usado na pesquisa ao lado do vaso Bes estudado, que mostrou a presença de alucinógenos (Imagem: Cassidy Delamarter)
O scanner 3D portátil usado na pesquisa ao lado do vaso Bes estudado, que mostrou a presença de alucinógenos (Imagem: Cassidy Delamarter)

O Vaso-de-Bes pode ter sido usado por pessoas tentando prever o futuro — nos tempos greco-romanos, um ritual ligado ao culto de Bes envolvia a incubação para propósitos oraculares, ou seja, o requerente dormia nas Câmaras de Bes em Sacará (ou Saqqara), no Egito, em busca de sonhos proféticos.

O deus era associado ao nascimento, e mulheres, à época, buscavam oráculos para saber o destino da gravidez, já que ela era perigosa em uma época sem técnicas modernas de medicina.

O recipiente está no Museu de Arte de Tampa, nos Estados Unidos, tendo sido comprado de um colecionador privado em 1984, que comprou o item da Galeria de Arte Maguid Sameda, no Cairo, Egito, em 1960. Não se sabe onde o objeto foi inicialmente encontrado.

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