2 milhões de serpentes infestam ilha nos EUA e ameaçam vida por lá

No Oceano Pacífico, a ilha de Guam é um alerta internacional para o risco de espécies invasoras. O território que pertence aos EUA e está geograficamente próximo das Filipinas abriga até 2 milhões de serpentes invasoras, que destruíram a fauna local, “caçaram” quase todos os pássaros da região e favoreceram a proliferação de aranhas, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A responsável pelo desequilíbrio ambiental é a serpente arbórea marrom (Boiga irregularis), que não tem predadores locais.

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Originários da Austrália, da Papua-Nova Guiné e da Indonésia, os primeiros exemplares da serpente arbórea marrom chegaram à ilha dos EUA no final dos anos 1940, em navios de carga. Por muitos anos, passaram totalmente despercebidas, enquanto rastejavam, se enrolavam em troncos e se alimentavam de pássaros, morcegos, lagartos e outros animais. Hoje, “são responsáveis pela extinção da maioria das espécies nativas da ilha”, afirma o USDA.

 

Antes de entender a ameaça a essa população estimada de 2 milhões de “cobras”, diferentes hipóteses foram levantadas para justificar o misterioso desaparecimento dos pássaros do local. Foi cogitada a existência de um novo pesticida ou mesmo de um vírus letal disseminado entre as aves. 


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Curiosidade: no Brasil, também há uma ilha das cobras. É a Ilha da Queimada Grande, localizada entre as cidades de Itanhaém e Peruíbe, no litoral de São Paulo, densamente povoada por serpentes de duas espécies distintas.

Ilha nos EUA dominada por serpente arbórea marrom

Como a ilha nos EUA é habitada, a serpente invasora causa uma série de outros problemas além do colapso da fauna local. Embora o veneno não seja letal para pessoas adultas ou quando há tratamento, a espécie consegue atrapalhar até a rede elétrica local. Entre 2005 e 2021, cerca de 287 mil serpentes foram capturadas nos sistemas de transmissão de energia e transporte.

Conhecida como Ilha de Guam, a ilha dos EUA está infestada pela serpente arbórea marrom, que destroi a fauna local (Imagem: NASA Earth Observatory)

Como forma de exterminar a serpente arbórea marrom, uma das primeiras estratégias envolveu a dispersão de camundongos mortos pela ilha. Os roedores estavam “contaminados” com comprimidos de paracetamol (acetaminofeno). É um analgésico bastante popular para humanos, mas letal para a espécie. A morte ocorre em aproximadamente 24 horas.

Aperfeiçoando a técnica, iscas com paracetamol foram desenvolvidas e dispersas pela área para conter a espécie. “Testes mais recentes resultaram em uma redução de mais de 80% na atividade das cobras em um terreno de 55 hectares”, detalha o USDA. Apesar disso, os répteis estão longe de serem controlados.

Extinção das aves por serpentes

Das 12 espécies de aves nativas da ilha dos EUA, 10 foram extintas por causa das habilidades de caça da serpente arbórea marrom. Grupos de aves das espécies Aplonis opaca e Acrocephalus luscinia ainda sobrevivem, com populações reduzidas. Um dos problemas é a capacidade da “cobra” em realizar “acrobacias” e subir em árvores para devorar os pássaros da região, o que a torna uma inimiga mortal. 

Há um projeto que busca restabelecer a população de um tipo de martim pescador (Todiramphus Cinnamominus), envolvendo inúmeros zoológicos nos EUA. A ideia é criar um grande número de filhotes da espécie em cativeiro e, no momento oportuno, reintroduzi-los em uma ilha próxima. Se tudo der certo, os filhotes destas aves serão enviados para a ilha de Guam, restaurando parte da fauna exterminada pelas serpentes. 

Mais ameaças na ilha de Guam

Com as 2 milhões de serpentes e o quase extermínio das aves locais, a ilha dos EUA se tornou o habitat ideal para a proliferação de aranhas, como a aranha-banana (Argiope appensa). Sem predadores, o aracnídeo local está redesenhando e cobrindo a floresta com enormes teias

As teias são 50% maiores do que as encontradas nas ilhas vizinhas, segundo estudo publicado na revista Plos One, por pesquisadores da Universidade de Washington.

“A ilha de Guam, sem pássaros, teve uma média de 18,37 teias de aranha a cada 10 metros na estação chuvosa, em comparação com 0,45 teia em ilhas próximas com pássaros. Na estação seca, Guam teve 26,19 teias de aranha a cada 10 metros, em comparação com 11,37 teias em ilhas próximas com pássaros”, afirmam os autores, após inúmeras expedições em campo.

Tudo isso torna a ilha infestada por serpentes dos EUA algo próximo de um filme de terror para a fauna local. A esperança é que o aperfeiçoamento das técnicas de controle já adotadas ajudem a conter o problema envolvendo a serpente arbórea marrom.

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