Milícias no Rio de Janeiro: Entre o controle territorial e a política

As milícias, surgidas para combater o tráfico, agora exercem controle desde prisões até a política no Rio de Janeiro.

Em 2024, planejam fortalecer laços políticos para ampliar sua influência, mas a ascensão desses grupos também está associada a abusos e coerções.


O que você precisa saber:

  • Política e Milícia: Líderes milicianos, como Jerominho, transitam da milícia para a política, consolidando poder e estabelecendo dinastias familiares.
  • Interseção Criminosa: Figuras como Coronel Porto evidenciam as ligações entre grupos criminosos e a esfera política.
  • Influência Persistente: Apesar de condenações, membros de milícias continuam tentando cargos políticos, gerando preocupações sobre controle territorial e corrupção.

Jerominho e a Política:

Jerônimo Guimarães Filho, após liderar milícia, ingressou na política, eleito vereador. Sua filha, Carminha Jerominho, enfrentou acusações relacionadas à milícia, mas manteve-se ativa na política.


Coronel Porto e a Interseção Criminosa:

Apesar das investigações sobre possíveis ligações com a milícia, Coronel Porto buscou apoio político em 2022, destacando a complexa relação entre grupos criminosos e a esfera política.


Herança Política:

Luiz André Ferreira da Silva, o Deco, ex-vereador condenado por integrar milícia, busca continuar legado político por meio do filho, Daniel Carvalho Deco, evidenciando a persistência da influência das milícias na política local.


Desafios e Preocupações:

Investigações envolvendo políticos, como a deputada Lucinha, suspeita de vínculos com milícias, levantam preocupações sobre controle territorial e corrupção no Rio de Janeiro.


Milícias e tráfico de drogas influenciaram eleições em 14 cidades do Rio de Janeiro em 2020

A milícia e o tráfico avançaram no Rio de Janeiro e influenciam a campanha eleitoral em 14 cidades do estado em 2020, apontou um relatório do Disque-Denúncia baseado em denúncias recebidas, por meio de ligações recebidas pelo serviço, entre 27 de setembro, quando começou a campanha eleitoral, e o dia 13 outubro daquele ano, quando foram cadastradas 13 informações relacionadas a atuação de traficantes de drogas e 24 de milicianos. 

Segundo o relatório, o município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi o que registrou o maior número de denúncias. Lá foram nove, todas reportando a atuação de milícia. Ainda na Baixada Fluminense há relatos em Queimados, Belford Roxo, Duque de Caxias e São João de Meriti. Os outros municípios são Angra dos Reis, na Costa Verde; Itaguaí, Niterói, São Gonçalo, Maricá, na Região Metropolitana; Araruama, na Região dos Lagos; e São Fidélis, Natividade; no norte do estado.

Na ocasião, o então coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, disse que o espalhamento das milícias e do tráfico no estado tem a ver também com a crise econômica, numa tentativa de aumentar a escala obter mais receita.

“É muito difícil extorquir pessoas e vender drogas. Eles estão sentindo isso. Ao mesmo tempo, com essa eleição parece haver uma aliança tácita entre uma facção do Rio de Janeiro de traficantes e uma boa parte da milícia. Estão trabalhando juntos em vários territórios, então, nesse momento da eleição em que a disputa é por território, eles estão tentando mais expansão ainda e emplacar somente os seus candidatos”, observou em entrevista à Agência Brasil.

Zeca Borges disse que chamou atenção no levantamento o surgimento de candidatos do tráfico, o que era muito raro. “Estamos vendo traficantes e seus parentes sendo candidatos nesta eleição. Isso é, de certo modo, uma novidade. Temos também milicianos, mas com eles já havia este tipo de hábito. Nós temos hoje vários milicianos e seus familiares como candidatos também. Isso coloca em risco a democracia. É uma coisa um tanto perigosa, porque começa assim e a gente não sabe como vai parar”, apontou.

O relatório identificou a presença de candidatos integrantes da milícia. “Não obstante, chama atenção a quantidade de denúncias que informam sobre a candidatura dos próprios indivíduos que pertencem aos grupos de milícia. Nestes casos especificamente, os milicianos utilizam sua influência na comunidade e, através da realização de ameaças, buscam conseguir mais votos”, revelou.


Crimes

O coordenador acrescentou, que conforme monitoramento do Disque-Denúncia, há denúncias de crimes como desvio de material de candidatos adversários para garantir mais votos para os ligados à milícia e ao tráfico. Além disso, os moradores estão sendo ameaçados, caso os candidatos dos criminosos não sejam eleitos. “É uma forma cruel de tratar a nossa população do Rio de Janeiro, porque os mais pobres da região periférica pagam muito mais que os outros pelos serviços. Pagam o dobro, pagam água para a Cedae [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro] e para a milícia ou para o tráfico, compram gás a preços extorsivos. Tudo muito difícil. Agora são fechados por barricadas. É muito complicada a vida desse pessoal”, completou.

As denúncias se referiram ainda a homicídios praticados no período desta campanha eleitoral, analisado no relatório. “Em determinadas ocasiões, integrantes da milícia planejam (ou realizam de fato) assassinatos, geralmente partindo de motivações meramente políticas, isto é, quando determinados candidatos, de alguma forma, causam interferências nas atividades ou nas ações da milícia”.

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