Consciência é (também) preservação da memória negra

A conservação de mídias físicas não é exatamente fácil. O contrário até. A facilidade fica por conta da forma como que livros queimam, fitas oxidam e discos arranham, por exemplo. E o espaço necessário para conservar tanto material? Todo tamanho ainda é pouco! A alternativa às mídias físicas, atualmente, é os serviços de nuvem, mas antes era a oralidade, a perpetuação do saber pela fala e é esse o fio condutor de “Memórias afro-atlânticas”.

O documentário disponível no Spcine é dirigido por Gabriela Barreto e conduzido por Xavier Vantin, um estudioso que encontrou e se encantou pelo trabalho do linguista americano Lourenzo Turner durante seu processo de pós-doutoramento na Inglaterra. Turner, na década de 40, viajou pelo Brasil conhecendo, fotografando e gravando cânticos religiosos de terreiros de candomblé compondo um rico acervo histórico. Ao ter acesso a esse material, Vantin achou necessário “repatriar” os registros, trazer de volta para as pessoas de santo que trabalham atualmente. 

Além de fotos, as gravações em áudio registram as vozes de importantes figuras religiosas como Martiniano Bonfim, Manoel Falefá, Joãozinho da Goméa e Mãe Menininha do Gantois. A partir do estudo dessas gravações, por meio das línguas em que eram entoados diferentes cânticos, é possível constatar o intercâmbio que havia entre os terreiros, as diferenças de cultos, além das alterações através dos tempos. 

Em “Memórias”, as pessoas de santo que têm alguma relação com esses registrados são procurados para apresentar-lhes as rezas e identificar os personagens nas fotos. Apesar do pouco interesse pelo estudo das línguas orais no Brasil, o consenso geral dos entrevistados vai em uma única direção: a importância do registro para preservação da memória da religiosidade negra, uma pedra fundamental na história do país.

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