PF elucida motivos pelos quais tentativa de golpe de Estado falhou

 

O plano de golpe de Estado arquitetado contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fracassou, segundo a Polícia Federal (PF), por falta de adesão dos chefes do Exército, da Aeronáutica e do Alto Comando do Exército. É o que conclui o relatório do inquérito divulgado nessa terça-feira (26).

A investigação aponta que o dia 15 de dezembro de 2022 foi data crítica para a frustração do plano. Na ocasião, militares que integravam a organização golpista prontificaram-se para prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e aguardavam apenas o aval do então presidente Jair Bolsonaro.

Naquele dia, às 12h, Bolsonaro e Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Secretaria Geral da Presidência, receberam no Palácio do Alvorada o comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes. O objetivo da reunião era garantir o apoio do chefe do Exército à conspiração — Freire Gomes, contudo, se recusou a participar do golpe.

Às 12h19, Ramos recebeu de seu secretário-executivo, general Mario Fernandes, uma mensagem em áudio dizendo que aguardava que Bolsonaro “desse a ordem”, e que a expectativa era que Freire Gomes endossasse a decisão. “Força, Kid Preto. Se o senhor está com o presidente agora e ouvir a tempo, blinda ele contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento diferente”, pede Fernandes.

‘Só a Marinha quer guerra’

O inquérito aponta que Bolsonaro desistiu de assinar o decreto de golpe após aquela reunião, diante da resistência expressada pelas Forças Armadas. “Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do Alto Comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final”, diz o relatório.

Também em 15 de dezembro, ao longo do dia, Bolsonaro recebeu visitas no Alvorada de Mario Fernandes; dos ministros da Defesa, Walter Braga Netto, e da Justiça, Anderson Torres; e do assessor especial da Presidência, Filipe Martins. “Com isso, a ação clandestina para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, consta no inquérito.

Conversas de WhatsApp entre o coronel Gustavo Gomes e o tenente-coronel Sérgio Cavaliere, ambos apontados pela PF como articuladores do golpe, indicam que a ocasião frustrou os planos da conspiração. “Infelizmente a Força Aérea afrouxou e o Exército agora também está afrouxando… só a Marinha quer guerra”, diz mensagem enviada por Gomes.

Na sequência, Cavaliere envia um áudio em que diz que o “amigo lá da Presidência” — em referência a ao tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro — confirmou que o plano não avançaria, e expressou revolta com a decisão dos militares. “Eu vou fazer estrago em Brasília, já avisei até pra mulher, entendeu? Eu não vou passar um dia que não seja planejando um jeito de me vingar desses velhos covardes”, afirma Cavaliere.

A mesma indignação é ressaltada pela PF em mensagem enviada pelo coronel George Hobert, então assessor do ministro Ramos, a Mario Fernandes. “Não é o Exército, é o Alto Comando se fechando em copas, pensando em primeiro lugar na instituição”, afirma o coronel.

Bolsonaro “planejou, dirigiu e executou” plano de golpe de Estado, diz PF

O STF acabou de divulgar o documento da PF com 878 páginas que reúne todas as acusações da investigação do plano de golpe de Estado contra Jair Bolsonaro e outros 36 investigados por participação na trama. A parte que trata da atuação de Bolsonaro tem oito páginas.

“Conforme apresentado, os elementos acostados nos autos evidenciaram a atuação de uma organização criminosa que, desde o ano de 2019, começou a desenvolver ações voltadas a desestabilizar o Estado democrático de Direito, com o fim de obtenção de vantagem consistente em tentar manter o então presidente da república JAIR BOLSONARO no poder, a partir da consumação de um golpe de Estado e da abolição do Estado democrático de Direito, restringindo o exercício do Poder Judiciário e impedindo a posse do então presidente da República eleito”, diz a conclusão da PF.

Para a consecução do objetivo, identificou-se uma divisão de tarefas em núcleos, com a criação de uma estrutura de atuação previamente ordenada da seguinte forma:

– Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;

– Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado;

– Núcleo Jurídico;

– Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;

– Núcleo de Inteligência Paralela;

– Núcleo de Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas.

Fonte: VEJA

 

 

 

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