Casos de HIV e Aids crescem no Brasil pelo terceiro ano consecutivo, alerta Ministério da Saúde

 

O Ministério da Saúde divulgou, nessa quinta-feira (12), o novo boletim epidemiológico sobre HIV/Aids no Brasil com dados de 2023 e parciais de 2024. Os números mostram que, no ano passado, houve 46.495 novos registros de infecções pelo HIV, um aumento de 4,5% em relação a 2022. Além disso, foram 38 mil casos de Aids, 2,5% a mais que no ano anterior.

Sobre os casos de HIV e Aids, ambos os números aumentaram pelo terceiro ano consecutivo e são os mais altos desde 2019. Os registros haviam caído de forma significativa em 2020, com a restrição do acesso ao diagnóstico durante a pandemia, e voltaram a subir com a retomada dos serviços de saúde.

No entanto, Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), diz que não há mais um efeito da covid-19 na alta de 2023.

“O aumento no número de casos novos até 2022 em relação ao início da pandemia ainda refletia a falta de testagem disponível naquele período. Mas nesse boletim agora, referente a 2023, já não temos mais um efeito da pandemia”, explica o especialista em em HIV/Aids.

Os números de HIV e Aids são diferentes porque, embora o HIV seja o vírus que cause a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), hoje o tratamento antirretroviral (TARV) consegue impedir essa evolução. Por isso, nem toda pessoa que vive com HIV tem Aids.

Em relação ao perfil do novos casos, o boletim mostra que 70,7% foram entre homens; 63,2% entre pessoas pretas e pardas e 53,6% entre homens que fazem sexo com outros homens (HSH). A faixa etária com mais registros (37,1%) é a de 20 a 29 anos de idade. O perfil é semelhante ao dos casos de Aids.

Em 2024, os números parciais do documento indicam que, até junho, foram detectadas 19.928 infecções pelo HIV e 17.889 casos de Aids. Em comunicado, o Ministério da Saúde atribui o crescimento dos casos de HIV à ampliação da testagem com a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). A estratégia envolve comprimidos diários para prevenir a infecção pelo vírus e é ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017.

O país chegou, no final de novembro, a 109 mil pessoas usuárias da profilaxia. O número mais que dobrou em relação a 2022, quando eram 50,8 mil. De acordo com a pasta, a PrEP leva a mais diagnósticos porque, para dar início à estratégia, um dos requisitos é fazer o teste e saber se a pessoa já vive com o HIV e não sabe.

De fato, o Ministério da Saúde anunciou, com base em dados do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a Aids (Unaids), que o Brasil alcançou a marca de 96% das pessoas estimadas que vivem com HIV devidamente diagnosticadas em 2023, um aumento em relação aos 90% de 2022.

Mas, em relação ao impacto da PrEP, Naime Barbosa não acredita que a estratégia justifique sozinha a alta observada de novos casos em 2023. Ele cita que os números mostram “paradoxos”, já que se esperaria que a ampliação da profilaxia na verdade reduzisse as novas infecções.

“Há ganhos importantes, mas também incongruências inaceitáveis no atual cenário com tantas tecnologias disponíveis de tratamento e prevenção. Apesar do aumento da testagem poder explicar em parte o aumento dos casos de HIV, esse incremento também indica que as políticas de prevenção e de tratamento precoce precisam ser melhor otimizadas. Se por um lado a expansão de PrEP aumenta a testagem, por outro deveria reduzir os casos já que é uma estratégia de prevenção. Então é uma ferramenta que ainda precisa de muita otimização”.

Mortalidade pela Aids em queda

Em 2023, o Brasil registrou 10.390 mortes causadas pela Aids, o menor número já registrado segundo o DataSUS, que tem dados desde 1996. No entanto, não houve uma diminuição significativa em relação a 2019, por exemplo, quando foram 10.687 vítimas fatais.

“O coeficiente de mortalidade não caiu significativamente nos últimos quatro anos, tem se mantido estável em torno de 4 óbitos/100.000 habitantes a cada ano, apesar do tratamento estar cada vez mais fácil e eficaz. Isso acontece pelo alto percentual de diagnóstico tardio, já na fase de Aids, e também em taxas altas de abandono de tratamento”, avalia Naime Barbosa.

O Ministério da Saúde reconhece que um desafio é “revincular as pessoas que interromperam o tratamento ou foram abandonadas”, alegando que muitos casos de interrupção ocorreram “no último governo”, além de “disponibilizar o tratamento para todas as pessoas recém diagnosticadas para que tenham melhor qualidade de vida”.

Fonte: O Globo

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