Revelações de Marcola: “amizade” com diretor pacificou Carandiru

São Paulo – A década de 2000 foi marcada, além da virada do século, pela deflagração de rebeliões no sistema prisional paulista, promovidas, em grande parte, por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que já exercia influência junto à massa carcerária.

Naquela época, mesmo ainda não oficialmente líder máximo da facção, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, já conseguia apaziguar os ânimos nas cadeias, como afirma ele mesmo em um vídeo, obtido pelo Metrópoles, que registra uma conversa com o seu advogado, ocorrida em 2022 (assista abaixo).

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Marcola diz que virou chefe do PCC após morte da esposa

Marcola: Polícia Federal descobriu plano do PCC para tentar tirar da cadeia o líder da facção
Agente do Gaep usa um dos fuzis IMBEL 7,62 Parafal durante transferência de Marcola para Brasília
Marcola está na penitenciária federal de Brasília desde janeiro de 2023
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líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola

Reprodução

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Marcola diz que virou chefe do PCC após morte da esposa

Arquivo pessoal

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Marcola: Polícia Federal descobriu plano do PCC para tentar tirar da cadeia o líder da facção

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Agente do Gaep usa um dos fuzis IMBEL 7,62 Parafal durante transferência de Marcola para Brasília

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Marcola está na penitenciária federal de Brasília desde janeiro de 2023

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Marcola: líder do PCC é levado a hospital no DF sob forte esquema de segurança

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A influência de Marcola para acalmar os presos era usada, segundo o presidiário, pelo diretor do Carandiru na ocasião, Guilherme Silveira Rodrigues. Atualmente aposentado, o ex-diretor foi procurado pela reportagem, sem sucesso. O espaço segue aberto para manifestações.

“Eles [integrantes do governo] tinham perdido o controle das penitenciárias de São Paulo. Então, o que ele fazia. Ele [Guilherme Silveira] me buscava no RDD [Regime Disciplinar Diferenciado] de Taubaté [interior paulista] e me levava e me deixava solto na Penitenciária do Estado [Carandiru], para que eu administrasse a penitenciária para ele. Nessa aí, a gente fez uma amizade boa. Ele levou meu irmão, o Júnior, para lá. Só que meu irmão fugiu e levou 100 caras com ele [risos]”.

O irmão de Marcola, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, é apontado como um dos principais articuladores do PCC. Juntamente com mais 101 presos, ele fugiu do Carandiru, em 2001. Ele foi recapturado, cinco anos depois, usando documentos falsos.

“Um filho”

“Esse diretor, ele sempre gostou de mim como um filho. Porque eu conseguia acalmar toda a cadeia dele, que era [ocupada] por muito assassino junto. Não morria ninguém, não acontecia nada quando eu estava lá. Então, ele me tratava mesmo muito bem”.

Marcola afirmou ainda, em suposta conversa com o diretor do presídio, que iria “segurar as pontas” em relação ao controle da massa carcerária, “mas com uma condição”: a transferência para outro estado. “Esse doutor Guilherme conseguiu, [indo] atrás da Secretaria da Segurança Pública [SSP], uma transferência para mim em Ijuí, no Rio Grande do Sul.”

Vídeo

Estratégia de defesa

Marcola sugere ao defensor que procure o ex-diretor de presídio Guilherme Silveira. A ideia é convidá-lo a testemunhar favoravelmente a ele em um processo de homicídio — crime sobre o qual Marcola e o advogado traçam uma estratégia de defesa.

O líder máximo do PCC foi condenado a 152 anos de prisão por causa de oito homicídios ocorridos, durante uma rebelião, em fevereiro de 2001 no Carandiru, zona norte paulistana. Apesar de não ter concretizado a chacina, a Justiça acolheu denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que havia apontado Marcola como mandante dos assassinatos. As vítimas eram integrantes da facção rival Seita Satânica.

Na época das mortes, Marcola já estava no sistema carcerário gaúcho dois dias antes da deflagração da primeira megarrebelião promovida pelo PCC em 29 presídios paulistas. Oficialmente, atribuiu-se à transferência dele e de outras lideranças da facção o motivo do motim generalizado — argumento refutado por Marcola ao advogado.

“Eu que fiz esse pedido [de transferência], junto com ele [Guilherme Silveira]. Mas aí falam que as rebeliões foram uma retaliação para a minha transferência para Ijuí, sendo que eu que pedi para ir [para lá]”.

Marcola diz ainda que, após atribuírem a ele responsabilidade pela rebelião, além dos homicídios, ele foi mantido “só trancado”, por um ano, na Penitenciária Federal da Papuda (DF), onde permaneceu confinado até 9 de fevereiro de 2002.

Execução da esposa

Após o episódio, ele retornou ao sistema carcerário paulista, de onde soube, em 22 de outubro do mesmo ano, sobre o assassinato de sua então esposa, a advogada Ana Maria Olivatto Herbas Camacho, de 45 anos. Marcola atribui o homicídio da companheira a “esses aí”, referindo-se à pessoas ligadas a dois fundadores do PCC: José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz da Silva, 0 Cesinha.

Geleião também fez uma delação premiada, em 2003, em um momento no qual esse dispositivo não era comum no Brasil. Isso, aliado à morte da companheira, balançou Marcola.

“Aí que me tornei o chefe no negócio, porque antes disso eu não era chefe de nada, eu não era nem líder”.

Pessoas ligadas à morte de Ana Olivato foram encontradas por parceiros de Marcola e mortas.

Cesinha e Geleião foram depostos do PCC em 2002, a mando de Marcola, que passou a considerá-los inimigos. Cesinha foi assassinado em 2006. Geleião morreu de Covid-19, em maio de 2021.

Desde então, Marcola mantém o posto máxima do maior facção criminosa do Brasil, na qual implementou um esquema empresarial, que gera bilhões de reais anualmente — por meio do tráfico internacional de cocaína.

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