Bolsonaro comedido, Malafaia pistola e multidão: notas da Paulista

O ato convocado por Jair Bolsonaro para este domingo na avenida Paulista cumpriu a missão planejada por seu estado-maior. A ideia era passar a mensagem de que prender o ex-presidente pode ser um problema, em razão de seu ainda forte apoio popular. Bolsonaro queria mostrar força – e conseguiu. Mas, como era de se esperar, ele próprio foi comedido nas palavras e deixou o tom mais agressivo contra o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes para terceiros, como o pastor Silas Malafaia. Eis algumas observações sobre o ato deste domingo:

COLETE RECHONCHUDO. O EX-presidente foi para o ato na Paulista usando um nada discreto colete à prova de balas por debaixo da camisa da Seleção.

A “CAMPANHA” DE NUNES. Ricardo Nunes, o prefeito da capital paulista que foi premido a ir à manifestação sob pena de perder o apoio de Bolsonaro para as eleições de outubro, vestia uma camisa amarela para não ser muito diferente dos demais, mas a mensagem estampada na frente era, digamos, alternativa. Propagandeava uma campanha pela adoção de animais.

MICHELLE PASTORA. Michelle Bolsonaro, possível herdeira do capital político do marido, declarado inelegível, não economizou no tom emotivo em seu discurso em cima do trio elétrico, com apelo marcadamente religioso.

MULTIDÃO IMPRESSIONANTE. Os rivais do bolsonarismo, incluindo integrantes do governo, certamente vão se esforçar para diminuir o peso político do ato, mas a multidão reunida na Paulista foi suficientemente grande para ser considerada em qualquer estratégia relacionada ao ex-presidente – seja na política, seja no Judiciário. Foi uma manifestação com tamanho que, admita-se ou não, sempre impressiona os poderosos de Brasília.

BRASIL DIVIDIDO. O ato refletiu, por óbvio, a força do bolsonarismo e a divisão do eleitorado brasileiro, que se mostrou no resultado das eleições presidenciais de 2022 e segue firme forte.

ALEXANDRE E LULA ONIPRESENTES. Ao convocar os seguidores para a Paulista, Bolsonaro disse que o ato não seria contra ninguém. Mas, com o nome pronunciado ou não, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, foi personagem de todos os discursos. Lula também, evidentemente.

MALAFAIA “ON FIRE”.  Silas Malafaia, apresentado como idealizador do ato, foi para o ataque contra Moraes sem muitas papas na língua. Disse que o sangue do bolsonarista morto na prisão está nas mãos do ministro e que tratamento do STF ao PT é diferente daquele Bolsonaro e seus apoiadores vêm recebendo.

FOGO CONTRA BARROSO. O Pastor estendeu sua artilharia ao presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, lembrando como exemplo do que ele entende como uma cruzada contra o bolsonarismo a frase “nós derrotamos o bolsonarismo”, pronunciada pelo ministro em um evento da UNE no ano passado.

A MENSAGEM DO ATO. Dirigindo-se a Bolsonaro, Malafaia falou sobre a possível prisão do ex-presidente e fez questão de ressaltar a ideia de que a medida, se posta em prática, pode ter efeito inverso. “Se eles te prenderem, você vai sair de lá exaltado. Se eles te prenderem, não vai ser para tua destruição, mas para a destruição deles”, afirmou o pastor.

A MENSAGEM DO ATO 2. Essa era, em síntese, a mensagem que o ato deste domingo pretendia passar para o establishment político do país, especialmente para o governo e para o STF, numa tentativa de dizer que é arriscado jogar todas as fichas na prisão de Bolsonaro.

BRASIL EM LOOPING. Malafaia se referiu às investigações que miram Bolsonaro como “a maior perseguição política da história do país”. Parecia déjà vu, com sinal trocado, do que o país, não faz muito tempo, viu com Lula.

FALEM, EU ESCUTO. Jair Bolsonaro começou o discurso na Paulista lembrando o atentado a faca que sofreu em Juiz de Fora na campanha de 2018 e listando os feitos de seu governo. Já no início, tocou na questão de fundo do ato. Cuidadoso com as palavras, falou em “abuso por parte de alguns”, mas não avançou muito na ideia. Deixou que outros, como Malafaia, ficassem com o risco de atacar mais frontalmente o Supremo.

AS “MINUTAS DO GOLPE” E A CONSTITUIÇÃO. Pela primeira vez, ao negar que tenha tramado um golpe, o ex-presidente buscou justificar as minutas descobertas pela Polícia Federal que previam a anulação das eleições. Disse, por exemplo, que a decretação de estado de sítio, contida nos textos, não seria golpe porque estaria dentro da Constituição. E que, ainda assim, isso não foi feito. “Golpe é tanque na rua, e arma, é conspiração, é trazer classe política e empresarial para o seu lado”, afirmou Bolsonaro, que também defendeu anistia para seus seguidores presos pelos ataques de 8 de janeiro em Brasília.

SEM NOVAS ENCRENCAS. Bolsonaro disse que tem gente que sabe que ele poderia falar mais, mas que preferia a “pacificação”. Claro estava que, depois de aliados terem se encarregado de assumir um tom mais contundente, ele mediu as palavras para evitar mais problemas com Alexandre de Moraes e o STF.

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