Marvel integra MCU às HQs e isso pode salvar as cretinices da Saga do Multiverso

Acho que a esta altura todos devemos concordar que o planejamento da Marvel Studios para o desenvolvimento da Saga do Multiverso tem um forte odor de preguiça, cretinice e tonhadas vergonhosas. Embora a série Loki tenha feito sua parte, todas as outras atrações do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) sofreram com a falta de carinho e a proliferação de conceitos e narrativas cometidas por roteiristas mais interessados em ser vadios.

Atenção para spoilers de TVA #1!

Embora Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, X-Men ‘97, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e Loki tenham explorado outras variantes de personagens e Terras alternativas, a verdade é que o MCU falhou em habitar e expandir o Multiverso Marvel da forma inventiva e divertida que o autor Al Ewing vem realizando nos últimos anos nos quadrinhos.


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O Multiverso Marvel não é assim tão antigo e consolidado como o da Multiverso DC. Na verdade, as múltiplas Terras da Casa das Ideias são relativamente novas, e nunca tiveram tanta atenção nas décadas passadas.

Assim, poucas das realidades alternativas foram efetivamente preenchidas com enredos de personagens e cenários. 

X-Men’97 foi uma das únicas coisas que realmente deram certo na Saga do Multiverso (Imagem: Reprodução/Marvel)

E daí há a pergunta básica sobre essa situação, que vem sendo solucionada com Al Ewing nos últimos anos, mas que não teve uma boa concepção no MCU: se nem existe um Multiverso, quem vai se importar se ele desaparecer no próximo filme dos Vingadores?

A união da continuidade oficial da Marvel Comics com o MCU

Em TVA #1, lançado recentemente, Spider-Gwen se juntou à força policial multiversal com gente como Jimmy Hudson (filho de Wolverine da Terra-1610), Capitã Carter e o Gambit de Channing Tatum que apareceu em Wolverine & Deadpool.

Na verdade, o conceito de uma equipe sassaricando pelo Multiverso Marvel para resolver tretas já foi visto no título Exilados. Mas, diferente desse grupo que viajava para múltiplas realidades, a TVA costuma visitar apenas um mundo alternativo por caso. 

TVA trouxe os exatos mesmos personagens vistos em Loki e Deadpool & Wolverine (Imagem: Reprodução/Marvel)

Ou seja, nem mesmo é uma versão do time temporal adaptado nos quadrinhos, é exatamente a mesma equipe que apareceu em Loki e Deadpool & Wolverine no MCU.

TVA #1 inclui Miss Minutes, Ouroboros (O.B.), B-15 e Mobius. A própria Spider-Gwen confirma que são os personagens da TV ao relembrar os feitos heróicos do Loki do MCU e como ele salvou sozinho o Multiverso ao final da segunda temporada de seu seriado homônimo no Disney+.

E mais: isso significa que Spider-Gwen da Terra-65, Jimmy Hudson da Terra-1610 e a Capitã Carter da Terra-86315 estão todos unidos à TVA do MCU, dando a esses personagens da Marvel Comics acesso ao multiverso live-action — e o mesmo pode-se dizer para os integrantes da TVA de carne e osso no Multiverso Marvel dos quadrinhos.

Ok, mas como isso resolve as decisões cretinas sobre a Saga do Multiverso?

Abaixo, listo os cinco pontos mais preguiçosos e mal-resolvidos da Marvel Studios na Saga do Multiverso:

1. Retroalimentação jogada às traças

Imagem: Reprodução/Marvel

Um dos pontos mais importantes do projeto transmídia da Marvel é o processo de recriação de uma propriedade original para a adaptação nos cinemas ou no streaming. E, normalmente, a versão de carne-e-osso inspira uma sincronização nos quadrinhos, que, então, segue o visual e até mesmo a atitude vista nas produções audiovisuais. 

Isso é um desenvolvimento constante que mantém as coisas em movimento e atualiza personagens icônicos para uma nova geração. O problema é que na Saga do Multiverso isso foi praticamente deixado de lado ou até mesmo piorado, como no caso da transformação de Kamala Khan em uma mutante com poder de gerar luz sólida ao invés de esticar o corpo — veja bem, os problemas de autoestima com o corpo fazem parte da história da heroína, que é descendente de indianos e ainda sofre com as neuras físicas em plena adolescência.

Com a união do MCU e as HQs, a retroalimentação vira basicamente uma regra, inclusive com um fluxo mais dinâmico, com ligação direta entre criadores e criaturas.

2. Ninguém aguenta mais tramas de origem

Imagem: Reprodução/Marvel

A Saga do Infinito deu certo porque foi necessário pensar bem em cada trama de origem para conseguir construir um tom que funcionasse para a aventura solo como também na união de temas e enredos sem que as identidades visuais entrassem em conflito. E como houve uma apresentação das estreias de vários heróis, a continuidade saiu da cronologia que era fácil de seguir na Netflix, por exemplo.

Acontece que usar essa mesma estratégia na Saga do Multiverso não deu certo, pois tramas de origem costumam ter a mesma estrutura, e, mesmo com elementos diferentes, isso foi visto à exaustão na Saga do Infinito — mas funcionou porque muita gente não conhecia os personagens, que receberam no próprio MCU, por meio daquele processo de retroalimentação, uma atualização dos eventos que geraram suas facetas heróicas.

Eis que a conexão entre o MCU e os quadrinhos vai poder revisar a origem dos personagens diretamente na fonte, sem ter que passar pelo processo de realimentação. E, sim, em vez de ficar contando histórias de órfãos traumatizados e acidentados que ganharam poderes nos cinemas, a Marvel simplesmente conseguirá dizer aos fãs: PAREM DE SER PREGUIÇOSOS, querem ver tramas de origem? LEIAM!

3. Tramas formulaicas requentadas por escritores ruins

Imagem: Reprodução/Marvel

Veja a estrutura de Capitão América: O Soldado Invernal, que, para muitos (inclusive a mim), é o melhor título já lançado pela Marvel Studios. Em seguida, observe o que foi feito na história da Viúva Negra: é, basicamente, uma mesma narrativa, com pontos de ação e timing semelhantes e até coadjuvantes com a mesma função.

E, não contentes por tornar Viúva Negra em um filme completamente previsível, a Marvel Studios fez questão de repetir a dose em Capitão América: Admirável Mundo Novo, com a exata mesma estrutura. Aí não vai dar né gente, que preguiça do inferno.

Os quadrinhos já mostraram como contar histórias que pareçam mais do mesmo mas com frescor e novidades, como consequências de eventos que mudam os status dos personagens e oferecem sempre um terreno cheio de possibilidades.

4. Fadiga dos super-heróis

Imagem: Reprodução/Marvel

O ponto acima também tem a ver com uma coisa que tanto a Marvel quanto a DC ignoraram de maneira absurda, sendo que a solução para a chamada “Fadiga dos Super-Heróis” nos cinemas e no streaming estava no próprio quintal — veja bem, essa questão já foi enfrentada e superada em ambas as editoras, só que nos quadrinhos.

Com a conexão do MCU aos quadrinhos, talvez os autores prestem mais atenção em como o problema foi tratado ao longo dos anos 1990 até 2010 praticamente. 

5. Personagens obscuros

Imagem: Reprodução/Marvel

Quando Kevin Feige percebeu que usar uma franquia pouco lida e até esquecida, como os Guardiões da Galáxia, não só gerava uma nova franquia e valorizava propriedades quase desacreditadas na editora, como também solucionar a falta de opções de nomes de peso por conta dos direitos autorais que ainda estavam sob posse da Fox, Sony e Universal.

Veja bem, Feige exagerou um pouco na empolgação, e, embora o Cavaleiro da Lua, os Eternos e o Lobisomem na Noite sejam bastante queridos pelos leitores mais veteranos, são propriedades que só passaram a brilhar depois de se conectarem com nomes mais famosos. Só então é que eles conseguiram algum estofo para construir uma caracterização própria. 

Embora essas séries e filmes tenham agradado, não há como negar que essas produções estão bem à margem e nem parecem fazer parte da mesma Terra ou de uma narrativa coesa integrada com outros heróis.

Com a união entre quadrinhos e MCU, a Marvel Studios já tem praticamente nas mãos todo o extenso catálogo da Casa das Ideias à disposição, podendo trazer vilões como o Criador diretamente do Universo Ultimate.

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