Tsunami: 20 anos da tragédia que deixou mais de 220 mil mortos na Ásia

Há exatos 20 anos, no dia 26 de dezembro de 2004, um terremoto de magnitude 9,1 no fundo do Oceano Índico e com epicentro na Indonésia, perto da ilha de Sumatra, gerou ondas gigantescas que varreram as costas do sudeste asiático. O fenômeno atingiu 14 países, deixando mais de 220 mil mortos. A data será lembrada nesta quinta-feira (26/12), com cerimônias programadas em memória das vítimas da tragédia, enquanto alguns países analisam as lições aprendidas com o desastre natural.

Em toda a região, serão realizadas cerimônias religiosas nesta quinta-feira e vigílias nas praias, onde muitos turistas que celebravam o Natal de 2004 perderam a vida. Na Tailândia, mais de 5 mil pessoas morreram, metade delas visitantes estrangeiros, e outras 3 mil foram dadas como desaparecidas.

A quase mil quilômetros da costa tailandesa devastada pelo tsunami de 2004, os engenheiros instalaram uma boia de detecção no mar, um elemento essencial num sistema de prevenção destinado a garantir que um desastre tão mortal não volte a acontecer.

Em 2004, os sistemas de prevenção de desastres naturais eram rudimentares, sendo quase impossível de prevenir as milhões de pessoas que viviam nas costas do Oceano Índico.

Nos anos que se seguiram, vários governos se uniram para desenvolver um sistema global de informação sobre tsunamis, recorrendo a uma rede de seis boias de detecção no Oceano Pacífico, estabelecida pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos.

Conhecido como Deep-Ocean Assessment and Reporting of Tsunami (DART), o sistema conta hoje com 74 boias em todo o mundo. Elas flutuam na superfície, enquanto estão presas ao fundo do mar. As boias monitoram os sinais de um sensor sísmico colocado no fundo, bem como as mudanças no nível da água.

Um dia, o sistema irá provar o seu valor, insistem os especialistas da ONU. Há “100% de probabilidade” de que outro tsunami da mesma magnitude do de 2004 ocorra, mais dia ou menos dia, alertou Bernado Aliaga, chefe do departamento de resiliência a tsunamis da Unesnco, durante uma conferência pelo 20º aniversário da tragédia: “Pode acontecer amanhã, daqui a 50 anos ou daqui a 100 anos”, alerta.

O poder da informação

Em certas regiões do Oceano Índico, foi preciso esperar vários dias para saber a extensão do tsunami, devido à falta de meios de comunicação. Vinte anos depois, as redes sociais permitem monitorar e antecipar desastres naturais em tempo real.

Muito antes da disseminação das redes sociais, Mark Oberle já estava na vanguarda da modernidade. Em 2004, ele utilizou o seu blog para informar familiares e amigos, mas também o público em geral, sobre o tsunami ao qual sobreviveu durante vários dias. Este turista americano estava de férias na cidade tailandesa de Phuket, atingida pelas ondas gigantes.

“Foi com as mensagens de texto que começamos a compreender a dimensão da situação”, afirma Oberle, um médico profissional, que ajudou no auxílio a muitas vítimas.

“Escrevi este blog porque havia muitos amigos e parentes que queriam saber mais. Também recebi muitos pedidos de estranhos. As pessoas estavam desesperadas para receber notícias”, lembra ele.

Em 2004, os blogueiros era tão pioneiros que foram eleitos “Personalidades do Ano” pelo canal americano ABC News. O Facebook, lançado no início daquele ano, ainda engatinhava. Embora algumas fotos do tsunami tenham sido publicadas no site Flickr, não havia imagens divulgadas em tempo real como acontece hoje no X, Instagram ou Bluesky.

Redes sociais

Daniel Aldrich, professor da Northeastern University em Boston, nos Estados Unidos, entrevistou sobreviventes em Tamil Nadu, na Índia. Eles disseram que em 2004 não tinham ideia do que era um tsunami e não haviam recebido alertas. “Na Índia, quase 6 mil pessoas foram pegas de surpresa e morreram afogadas”, lembra Aldrich.

O contraste é nítido com o que acontece hoje. Em fevereiro de 2023, um estudante de 20 anos foi resgatado dos escombros de um terremoto na Turquia depois de publicar a sua localização on-line. Durante as enchentes no sul de Espanha, em outubro, os socorristas recorreram às redes sociais para ajudar a encontrar pessoas desaparecidas.

A existência das redes, no entanto, não está isenta de riscos. Especialistas alertam para as chances de propagação de informações falsas e boatos, como aconteceu durante a passagem do furacão Helene pelos Estados Unidos, em setembro.

Os esforços das equipes de resgate foram interrompidos devido a tensões com os moradores, num contexto de teorias da conspiração, segundo as quais a ajuda tinha sido desviada e o verdadeiro número de vítimas ocultado. “As redes sociais mudaram a forma como respondemos aos desastres, para melhor e para pior”, resume Aldrich.

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