Mulher morta em hospital psiquiátrico passou a noite de Natal amarrada

A paciente psiquiátrica que morreu passou a noite inteira de Natal amarrada. Ele estava no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), da rede pública do Distrito Federal, que fica localizado em Taguatinga.

O Metrópoles apurou que a mulher de 24 anos teve uma crise e ficou horas imobilizada e sofreu convulsões. Ela tinha histórico de crises e tomava medicação controlada. Na noite de terça (24/12), a paciente começou a gritar.  Segundo o relato de uma testemunha, chegou a sofrer uma queda.

Recusando medicações, a paciente foi então contida. Na sequência, passou a madrugada do dia 25 amarrada em um leito na enfermaria do hospital.

Na manhã de Natal, a paciente sofreu uma convulsão e recebeu medicação da equipe médica. A mulher teria sido, então, desamarrada, mas permaneceu na enfermaria.

Por volta das 19h50, na troca de plantão do hospital, uma outra paciente teria chamado a equipe médica alertando que a mulher passou mal.

A reportagem questionou a Secretaria de Saúde se é um protocolo normal amarrar os pacientes, mas recebeu como resposta apenas que a “Secretaria de Saúde (SES-DF) presa pelo cumprimento da legislação nacional e internacional de proteção dos direitos humanos, das normas de segurança do paciente e dos protocolos assistenciais” e que foi aberto um processo para investigação de responsabilidade.

Sem pulso

Ao chegar ao leito da enfermaria, às 19h55, a equipe médica encontrou a paciente sem pulso. Os profissionais tentaram reanimá-la por 30 minutos, chegando a intubar a paciente, mas não tiveram sucesso.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou ao local, fez uma nova intubação e deu início a outras manobras de reanimação. Os socorristas não conseguiram salvar a paciente. O óbito foi declarado às 20h41.

Transferência

O Metrópoles conversou com uma fonte da Secretaria de Saúde sobre o caso. Para evitar possíveis retaliações, a identidade dela será preservada.

Segundo a fonte, chama a atenção o fato de a paciente não ter sido transferida para outra unidade da rede pública, seja para o diagnóstico, seja para o tratamento da crise. Em vez disso, a mulher foi imobilizada durante a madrugada.

Outro ponto questionado foi a estratégia de acompanhamento da paciente após a aplicação da medicação, na manhã do dia 25. Para a fonte, o monitoramento deveria ser constante pela equipe na sala de observação.

Política antimanicomial

O Metrópoles noticiou que o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, identificou casos de violações de direitos no tratamento do HSVP.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) cobram a reformulação da política antimanicomial da capital brasileira.

Um dos pontos é a desmobilização dos leitos do Hospital São Vicente de Paulo e a readequação da rede pública para garantir aos pacientes psiquiátricos maior qualidade no tratamento.

Outro lado

Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria de Saúde informou em nota que “a causa da morte da paciente no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) ainda está sendo investigada pelo Instituto Médico Legal (IML)”.

A pasta acrescenta que o Relatório do Atendimento de Emergência “relata ainda que foi realizada a monitorização com desfibrilador e a aspiração do líquido, com saída de grande quantidade de conteúdo gástrico, além da intubação orotraqueal”.

“Foi cumprido também o protocolo de reanimação. A paciente foi encaminhada para a sala de emergência, mantendo a RCP com cinco ciclos de adrenalina, sem que ela apresentasse batimentos cardíacos. O Samu continuou o protocolo, sem sucesso. O óbito foi registrado às 20h41. O relatório médico informa ainda que a paciente possuía histórico de crises epilépticas convulsivas atípicas”, acrescentou a pasta.

Sobre o fechamento do hospital, a SES-DF afirmou que “instituiu um grupo de trabalho para elaboração de um plano de ação para desmobilização dos leitos psiquiátricos do DF, incluindo os do HSVP”.

“A medida prevê desmobilização progressiva, que ocorrerá em consonância com a ampliação da rede de serviços de saúde mental e a abertura de novos Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Também está previsto o fortalecimento do atendimento às urgências e emergências e dos cuidados a crises em saúde mental, que será feito de forma descentralizada, incluindo serviços nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais gerais e, principalmente, nos Caps”, concluiu.

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