Câmara: esquerda prevê embate com bolsonaristas e Nunes mais à direita

São Paulo — Com um terço da composição da Câmara Municipal, vereadores da esquerda em São Paulo avaliam que a atual legislatura será marcada por embates com os novos bolsonaristas da Casa. Ainda se preparam para fazer oposição a um governo Ricardo Nunes (MDB) mais à direita em relação ao primeiro mandato.

Parlamentares do PSol e do PT ouvidos pelo Metrópoles avaliam que a composição da atual base aliada do governo, com quadros mais ideológicos, tende a tensionar o ambiente da Casa.

“Tem um bolsonarismo que se apresenta na cidade de São Paulo de um jeito que a gente nunca tinha visto. Porque os outros vereadores mais radicais que se tinha aqui eram de formação do MBL (Movimento Brasil Livre), como o [Fernando] Holiday ou o Rubinho Nunes. Mudou o perfil, agora é uma extrema direita que chega nessa Casa”, avalia o vereador Dheison (PT), que inicia seu primeiro mandato.

Ele ainda afirma que o segundo mandato de Nunes será mais à direita que o primeiro, com incorporação do bolsonarismo em algumas áreas, fruto da coalizão formada nas eleições.

“Não é mais o mesmo Ricardo Nunes que era vice do Bruno Covas. Esse Ricardo Nunes que ganhou a eleição tem valores bolsonaristas, com um vice bolsonarista. Inclusive, na campanha ficou flertando o tempo todo com esses valores, dizendo que errou na pandemia, que as vacinas não tinham que ser obrigatórias. É uma coisa inconcebível pensar o Bruno Covas [ex-prefeito morto em 2021] falar uma coisa dessa”, diz Dheison.

Para a vereadora Luana Alves (Psol), uma das mais atuantes da bancada, embora a ala mais ideológica de direita afirme ser independente, com nomes como Lucas Pavanato (PL) e sargento Nantes (PP), a tendência é que ela abrace a pauta do governo ao longo do mandato.

“Esse grupo de direita, sinceramente, eu já vi isso acontecer aqui na Câmara, vai polemizar com a esquerda,  fazer vídeos, mas no final do dia eles vão ser mais uma base de apoio do governo. Vão entrar no jogo. Nossa tarefa é conseguir denunciar o que tem de abuso contra a população e conseguir impedir esses retrocessos. Ou atrasar o máximo possível”, afirma a vereadora.

A avaliação entre alguns integrantes da esquerda paulistana é que a derrota de Guilherme Boulos (Psol) para Ricardo Nunes foi uma derrota não só eleitoral, mas também política. Isso porque o emedebista conseguiu dialogar com a periferia, além de hoje possuir a máquina, com emendas e aliados em subprefeituras que possibilitam “oferecer mais” para as bases.

Provocações

Os vereadores de esquerda ouvidos pela reportagem também avaliam que os parlamentares da direita ligados ao universo das redes sociais devem investir em provocações para gerar conteúdo aos seguidores.

Eles citam, como exemplo, o bate boca com a vereadora Zoe Martinez (PL) que ocorreu no dia da posse, em 1º de janeiro. Ao ver que alguns vereadores da esquerda falavam palavras de ordem na hora de fazer o juramento, Zoe saudou o ex-presidente Jair Bolsonaro na sua vez, o que gerou reação imediata de alguns presentes e um princípio de confusão.

“Será uma Câmara com fortes emoções. Em provocação não vou cair, porque não vou dar palco para doido. Mas eles [bolsonaristas] não vão sair daqui sem respostas. Terão uma pessoa combativa aqui, defendendo os valores democráticos. Costumo brincar que o Dheison vai ser o terror dos bolsonaristas”, diz o vereador petista.

Luana Alves afirma que não pretende entrar em provocações, mas promete responder a eventuais ataques. “Não vamos nos envolver com o que não é de interesse da população, com que é distracionismo. Agora, não tenho sangue de barata, preciso responder. Mas vou procurar não perder meu tempo com esse tipo de polêmica”, diz.

Duas “oposições”

A esquerda na Câmara Municipal está dividida entre oito vereadores do PT, seis do PSol e dois do PSB. Rede e PV têm um parlamentar cada. As duas maiores bancadas, PT e Psol, no entanto, têm maneiras diferentes de fazer oposição.

Enquanto o PT historicamente costuma compor mais, fazendo parte da Mesa Diretora e até apoiando alguns projetos do governo, o PSol é mais combativo e fecha questão para votar contrário ou tentar travar pautas de interesse da base aliada.

“O PSol tem o jeito dele, a linha é um pouco diferente da linha do PT, e é natural. O PT já governou a cidade por três vezes. Quando você governa, sabe que tem que pensar diferente, sendo oposição ou situação. A bancada do PT tem conseguido alterar bastante coisa nos projetos do governo”, afirma Senival Moura, líder do PT na Casa. Moura passará a liderança da bancada para Luna Zarattini após a volta do recesso.

Luana Alves (PSol) também concorda que há diferenças entre os partidos. “Temos linhas e visões de mundo diferentes. O Psol é um partido socialista. O PT não é, mas é um partido de esquerda”, avalia.

A Câmara Municipal de São Paulo está em recesso e tem retorno marcado para o primeiro dia útil de fevereiro. A primeira sessão plenária deve ocorrer no dia 4 de fevereiro.

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