Suposto olheiro de morte de Gritzbach atuou para “ONG do PCC”

São Paulo — Suspeito de atuar como olheiro no assassinato de Vinícius Gritzbach, Kauê do Amaral Coelho teria se reunido, em pelo menos três oportunidades, com lideranças da ONG Pacto Social Carcerário, apontada como um braço do Primeiro Comando da Capital (PCC), de acordo com investigações do Deic de Presidente Venceslau no âmbito da operação Scream Fake. Os encontros teriam ocorrido em junho, julho e agosto de 2024.

Além disso, Kauê teria sido o responsável pelo pagamento das passagens áreas, no valor de R$ 18,3 mil, para que o diretor de um documentário sobre a ONG fosse à Europa.

Segundo a Polícia Civil, a organização não governamental, que atende pela sigla PSC, seria usada pelo PCC para disseminar informações falsas sobre violência prisional e promover manifestações populares. Além disso, a ONG é acusada de criar uma rede de profissionais da saúde que realizavam procedimentos médicos e estéticos em importantes líderes da facção.

Na semana passada, 15 pessoas ligadas à ONG foram presas. Entre elas, os presidentes da entidade Geraldo Sales e Luciene.

Anotações sobre o olheiro

O nome de Kauê foi identificado pela equipe de investigação do Deic de Presidente Venceslau em anotações e documentos apreendidos durante o cumprimento dos mandados. Em contato com a 1ª Delegacia de Repressão a Homicídios do DHPP, responsável pela investigação da morte de Gritzbach, os delegados constataram que, de fato, se tratava do homem apontado como olheiro do PCC.

As passagens aéreas pagas por Kauê foram emitidas pela Fidelity Turismo LTDA, em 4 de outubro, cerca de um mês antes do assassinato. Rodrigo Gianetto, autor do documentário “O Grito  – Regime Disciplinar Diferenciado”, teria embarcado às 18h do dia 6 de outubro, no Aeroporto de Guarulhos, com destino a Barcelona. De lá, teria passado por Milão, na Itália, e por Londres, no Reino Unido.

Enquanto esteve em Milão, ele teria participado do Festival Internazionale Nebrodi Cinema Doc, realizado entre 7 e 13 de outubro.

O Grito, que estreou na plataforma de streaming Netflix em 29 de setembro de 2024, se propõe a exibir um “raio-x” do sistema carcerário no Brasil no contexto de uma portaria federal que proibiu o contato físico e privou detentos dos presídios federais de manterem contato com outras pessoas.

Participam das gravações autoridades como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, além de familiares de alguns das principais lideranças do crime organizado no país, como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, Marcinho VP e Paulo Neblina.

Kauê do Amaral Coelho

As suspeitas que ligam Kauê do Amaral Coelho e o assassinato de Vinícius Gritzbach surgiram a partir da análise das câmeras de segurança do saguão Aeroporto de Guarulhos no dia 8 de novembro. A equipe de investigação da Polícia Civil constatou que suposto olheiro teria passado horas no local, falando ao telefone constantemente e apresentando um comportamento suspeito.

Kauê teria ficado encarregado de avisar aos atiradores sobre a chegada da vítima, que voltava de uma viagem a Maceió, em Alagoas. Inimigo mortal do PCC, Gritzbach foi morto com 10 tiros de fuzil. Três policiais militares da ativa foram presos apontados como executores.

As polícias Civil, Militar e Federal tentam, agora, descobrir quem seria o mandante do crime. Kauê é apontado como personagem-chave na história, em razão de seu parentesco com o traficante do PCC Diego Santos Amaral, o Didi.

Didi teria participado, em 2022, do “julgamento” de Gritzbach no tribunal do crime. O inimigo da facção foi submetido à “Corte do crime” acusado de dar um golpe milionário e mandar matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, assassinado em dezembro de 2021.

Na ocasião, Gritzbach foi solto prometendo entregar escrituras de imóveis e senhas que dariam acesso a investimentos milionários em criptomoedas.

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