Por que velório de bispa na Assembleia de Deus atraiu tantos políticos

São Paulo — A morte da bispa Keila Ferreira, no último sábado (1º/2), transformou a sede da Igreja Assembleia de Deus do Brás, na região central de São Paulo, em um palco de encontro de figurões da política nacional.

Estiveram no velório da pastora, celebrado na noite de segunda-feira (3/2), nomes como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), além do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), do secretário estadual de Governo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, e de mais de uma dezena de deputados e ex-parlamentares, como Eduardo Cunha.

Apesar do domínio da direita na cerimônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi uma das primeiras autoridades a lamentar publicamente a morte da bispa, com uma nota de pesar no domingo (2/2). Tamanha repercussão no meio político dá o termômetro da disputa que deve ser travada pelo eleitorado evangélico nas eleições de 2026.

Se fora do universo evangélico o nome de bispa só se tornou conhecido com a sua morte, em vida, Keila era uma popstar gospel. Ela comandava a Confederação de Irmãs Beneficentes Evangélicas Nacional e é descrita por frequentadoras da Assembleia de Deus de Madureira como uma figura “que comandava a mulherada” nas igrejas.

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Visão geral do velório da Bispa Keila Ferreira, em SP

Ex-presidente Jair Bolsonaro comparece ao velório da bispa Keila Ferreira, em SP
Políticos e autoridades participam do velório da bispa Keila Ferreira, em SP
Keila era pastora da Assembleia de Deus do Brás
Bispa faleceu aos 52 anos
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Bispa Keila Ferreira

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Visão geral do velório da Bispa Keila Ferreira, em SP

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Ex-presidente Jair Bolsonaro comparece ao velório da bispa Keila Ferreira, em SP

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Políticos e autoridades participam do velório da bispa Keila Ferreira, em SP

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Keila era pastora da Assembleia de Deus do Brás

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Bispa faleceu aos 52 anos

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Keila e seu esposo Samuel Ferreira

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Bispa Keila Campos Costa Ferreira

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Essa influência ajuda a explicar, em grande medida, o interesse dos políticos em se aproximar da figura da bispa. O eleitorado feminino tem sido campo de disputa entre a esquerda e a direita, que, apesar do apoio majoritário entre os evangélicos, tem maior dificuldade em se aproximar das mulheres.

Mas mais que isso, marcar presença no velório demonstra apoio ao bispo Samuel Ferreira, com quem Keila foi casada por 34 anos, e pode ajudar a abrir as portas do Ministério Madureira, maior ramificação da Assembleia de Deus, denominação que representa cerca de 30% dos evangélicos no país, segundo os últimos levantamentos.

Quem é Samuel Ferreira

Samuel é filho do bispo e ex-deputado federal Manoel Ferreira, de quem herdou sua posição de liderança na Assembleia de Deus do Brás. Tanto Samuel quanto Manoel são figuras conhecidas nos círculos políticos.

Manoel já abençoou Michel Temer (MDB) quando ele era presidente, e Samuel apareceu nas investigações da Operação Lava Jato, quando foi acusado de ter lavado dinheiro para o ex-deputado federal e então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Em 2022, Samuel conduziu uma agenda de campanha de Jair Bolsonaro na sua igreja, onde o então candidato à reeleição foi apresentado aos fiéis. O evento ficou marcado pela hostilidade aos veículos de imprensa.

A proximidade com o bolsonarismo, contudo, é recente na família Ferreira. No auge da crise que desencadeou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, Samuel chegou a ser cogitado pelo PT como um nome para intermediar o diálogo com Eduardo Cunha. Na época, seu pai Manoel, assim como outras lideranças do meio evangélico, havia declarado apoio à reeleição da petista em 2014.

Efeito eleitoral Madureira

Conquistar a preferência da família Ferreira significa alcançar os votos contidos no Ministério da Madureira. Hoje, o ministério é liderado pelo irmão de Samuel, o Bispo Abner de Cássio Ferreira, e engloba diversas filiais, entre elas, a sua sede, na Igreja do Brás, onde foi feito o velório de Keila.

O ministério tem grande influência no pentecostalismo devido, entre outros fatores, a sua liderança na Convenção Geral das Assembleias de Deus, hoje presidida por Samuel Ferreira.

Essa convenção reúne diferentes ramificações das Assembleias de Deus — termo usado para uma série de igrejas independentes entre si — e, desde os anos 2000, tem um projeto oficial de lançamento de candidaturas aos pleitos eleitorais no Brasil. Entre seus membros mais conhecidos está o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e que também foi ao velório de Keila.

Com tamanha projeção, o Ministério Madureira tem colhido sua influência nas eleições. Atualmente em São Paulo, o grupo é representado na Assembleia Legislativa (Alesp) pelos deputados Alex Madureira (PL) e Oseias Madureira (PSD), e, na Câmara dos Deputados, por Cezinha Madureira (PSD).

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