Qual diferença entre ovos de granja, caipiras, orgânicos e livres de gaiola?

 

Em 2024 a produção de ovos no Brasil somou 57,6 bilhões de unidades, com um consumo no mercado interno de 269 ovos por pessoa ao ano, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

A demanda per capita indica apenas uma média registrada no País, já que os praticantes de exercício físico que buscam aumento da massa muscular consomem bem mais que isso, acima de cinco unidades por dia. Há casos extremos, como o da fisiculturista Gracyanne Barbosa, que ingere cerca de 40 ovos diariamente.

Apesar de ser composta por um único produto, a cadeia do ovo tem uma produção cada vez mais segmentada, classificada entre itens de granja, orgânico, tipo caipira, caipira e livres de gaiola, comumente encontrados nos supermercados. Isso sem falar dos ovos enriquecidos e dos revestidos, ainda pouco explorado no mercado.

Diante de tantas variações para um item tão simples e popular, fica difícil escolher qual ovo comprar. Embora o produto de granja responda por cerca de 80% das vendas do País, a popularidade dos ovos caipiras, orgânicos e sem gaiolas tem crescido, gerando uma crescente demanda por informações sobre estes sistemas de produção.

“De forma geral, se os ovos estão em embalagem adequada, possuem rótulos com as devidas inspeções municipais, estaduais e federais e prazo de validade, eles são bons”, avalia Elsio Figueiredo, pesquisador da Embrapa na área de melhoramento genético de aves e sistemas orgânicos de produção.

Diante de uma vasta oferta de itens, o consumidor pode escolher tranquilamente o produto que mais se adequa ao seu perfil. Segundo Figueiredo, todos os tipos de ovos possuem a mesma composição: água, proteínas, gorduras, sais minerais e vitaminas, sendo que a clara é rica em albumina e a gema em ácidos graxos. “A quantidade destes ingredientes vai depender do tamanho do ovo, não da forma como ele foi produzido”, explica o especialista.

Veja a seguir as principais características de cada sistema de produção:

Ovo de granja

É o mais comercializado no País. Em geral, é o mais barato, devido à grande escala de produção. Neste sistema as galinhas ficam alojadas em gaiolas e produzem por cerca de 100 semanas, com grande eficiência, aproximadamente 500 ovos em toda a vida produtiva. Podem produzir ovos de casca branca ou marrom, “com a mesma qualidade porque só há diferença no pigmento da casca”, explica o pesquisador.

Neste sistema, é feito um controle dos hormônios das galinhas, para evitar os ovos chocos, e há iluminação contínua, para a padronização da produção. As galinhas são alimentadas basicamente por ração e em alguns casos pode haver mudança da cor da gema, com algumas mais amarelas e outras mais alaranjadas “o que reflete adição de corantes na ração, como o urucum”, explica Figueiredo.

Ovo “tipo caipira”

Também é produzido em granjas. É frequentemente comercializado como “tipo caipira” por ter casca marrom. As galinhas que produzem esses ovos são de linhagens caipiras que foram melhoradas geneticamente e embora possam ser usadas em sistemas mais soltos, são criadas em granjas convencionais que não seguem o mesmo sistema de produção do verdadeiro ovo caipira.

As aves ficam alojadas em gaiolas também e produzem por cerca de 100 semanas, mas com menos eficiência, cerca de 300 ovos durante a vida produtiva.

Empresas que investem neste tipo de produção o fazem porque perceberam que o consumidor tende a escolher ovos de casca marrom por associá-los a uma produção mais natural.

Ovo caipira

É geralmente produzido em pequenos sítios ou chácaras, onde as galinhas têm espaço para se movimentar livremente. “O verdadeiro ovo caipira é aquele produzido no campo, onde a galinha se alimenta de milho e outros alimentos naturais”, explica o especialista.

A produção é baseada em linhagens tradicionais. Neste tipo de produção não há melhoramento genético das aves, o que mantêm características familiares. É comum, no entanto, a troca de galos entre vizinhos, o que contribui para a diversidade genética das aves caipiras. A gema do ovo caipira costuma ter cor mais viva, alaranjada, em função do capim e dos legumes que as aves comem.

O ovo caipira, diferente do que ocorre com o ovo de granja, foi fertilizado pelo espermatozoide de um galo. Neste caso, em algumas situações podem gerar pintinhos, o que não ocorre com ovos de granja. As aves caipiras têm vida mais longa, podendo viver de 100 até 200 semanas. No caso de uma vida produtiva de 100 semanas produzem 80 ovos.

Ovo orgânico

É produzido de forma semelhante ao ovo caipira. As galinhas devem ser criadas soltas, com espaço e acesso a uma área de pasto. Elas são alimentadas de forma 100% orgânica, sem uso de ingredientes transgênicos. Neste sistema produtivo, assim como o de galinhas caipiras, as aves podem manifestar seu comportamento natural e não recebem hormônios ou antibióticos. O ovo para ser comercializado como orgânico deve possuir uma certificação, sinalizada na embalagem.

A produção de ovos orgânicos segue regras que visam o bem-estar animal. Da mesma forma que as aves caipiras, as galinhas usadas nos sistemas orgânicos têm vida mais longa e produção menor.

Ovo livre de gaiola

Nos últimos anos muitas indústrias começaram a informar nas embalagens que os ovos são produzidos livres de gaiola. Esse sistema produtivo é reconhecido como mais humanitário, pois respeita o bem-estar das aves e seus comportamentos naturais como ciscar e se empoleirar. Além disso, é mais sustentável quando comparado às granjas.

Aqui as aves são criadas soltas dentro de galpões ventilados. Embora não necessitem de pastos, precisam de poleiros. Devem receber uma dieta balanceada de acordo com a idade, a fase de produção e a linhagem. Também recebem seis horas de ambiente escuro e oito horas de luz, sem exposição contínua à luz artificial (o que as permite descansar). Para ser comercializado como livre de gaiola, o ovo deve possuir uma certificação, sinalizada na embalagem.

Ovos enriquecidos e ovos revestidos

Estas segmentações são recentes e não se referem aos sistemas de produção dos ovos, mas às tecnologias de produção. Os ovos enriquecidos são produzidos por galinhas que recebem nutrientes como selênio, ômega 3 e vitamina E na ração. O enriquecimento aumenta a qualidade nutricional dos ovos.

Já os ovos revestidos recebem uma película que os protege de quebra e de contaminações. A Embrapa Suínos e Aves desenvolveu revestimentos protetores para os ovos comerciais com uso da nanotecnologia. Eles melhoram a permeabilidade da casca e aumentam o tempo de armazenamento, “é uma tecnologia fácil de ser aplicada, mas compensa em sistemas de grande escala”, explica Figueiredo.

Fonte: Globo Rural

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