Já em 2025 o administrador do Lago Norte, região nobre de Brasília-DF, publicou num grupo whatsapp de moradores da região – no qual apenas “autoridades” podem postar – um vídeo informando que obras seriam iniciadas para recuperar a pista central da península, do início ao fim. Logo em seguida, começaram as obras e o trânsito ficou complicado. O administrador, ilusionista ou ilusionado havia previsto e se desculpado por esse desconforto, que seria o ônus em troca do benefício prometido. As pistas em torno do shopping Iguatemi foram recuperadas e, em seguida, as máquinas sumiram! Numa visita à administração do Lago Norte, primeiro fui informado que o sumiço se devia a que as máquinas tinham ido para manutenção.
Argumentei que era surpreendente e inacreditável que todas as máquinas fossem para manutenção ao mesmo tempo! Desconcertada, a atendente foi procurar mais informações, e logo em seguida chegou a chefe de gabinete da administração do Lago Norte, que assegurou que na semana seguinte – isso foi há mais de um mês! – as máquinas retornariam. Não voltaram…
Logo após, foi anunciado que a área locável daquele shopping seria ampliada em 50%! Um dos sócios principais do empreendimento, ex-governador do DF que renunciou poucos dias após assumir o mandato – renunciou por quê? – afirmou que a obra traria grandes benefícios aos moradores da região, que jamais foram consultados sobre o empreendimento, nem sequer informados dos resultados do legalmente necessário estudo de impacto ambiental e de vizinhança, que jamais foi apresentado, muito menos debatido! Terá sido feito?
Ficasse o Lago Norte na maior parte da Europa, dos EUA e doutros países que lograram construir vidas mais dignas à maioria dos seus habitantes, estes teriam sido consultados sobre a desejabilidade da obra e os cuidados a adotar. Aqui no Patropi, nada de saber a opinião das pessoas mais afetadas; aqui, a regra parece ser: “danem-se quem mora perto; o importante é permitir que alguém com poder político acumule mais capital”!
A degradação do trânsito, o aumento da poluição, dos resíduos gerados, da “necessidade” de eliminar áreas verdes para que os automóveis privados fluam menos lentamente, e o restante dos desconfortos gerados aos vizinhos, tudo isso vale menos; o poder público opta por ajudar um milionário a ganhar ainda mais dinheiro, embora sua fortuna já assegure boa vida a gerações de seus dependentes! Isso, em detrimento da qualidade de vida dos habitantes de vastas áreas do DF – Varjão, Paranoá e outras, não só do Lago Norte!
E o administrador que iludiu a população, foi ele também iludido? Pode ser que sim, ou que não. Anunciar obras que não se materializam e exagerar os benefícios delas decorrentes são práticas quase diárias nos meios políticos. Muitas vezes, quem as anuncia o faz em boa fé, iludido por seus chefes.
Estes, sejam eleitos ou milionários, com frequência iludem subordinados e eleitores em suas insanas corridas por mais dinheiro e poder.
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados