São Paulo — A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) concedeu o título de Doutor Honoris Causa ao cantor e compositor Milton Nascimento. Na cerimônia realizada na tarde dessa quinta-feira (10/4), no Conselho Universitário (Consu), foi exibido o vídeo em que ele recebe a honraria pessoalmente em sua casa, no Rio de Janeiro.
Milton não esteve pessoalmente na cerimônia por questões de saúde e também por seu envolvimento com outras atividades. “Fizemos todo esse esforço para entender as dificuldades e fazer esse gesto de reconhecimento da importância dele para a cultura brasileira”, explica o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles.
Oficialmente, o vídeo apresentado no evento de concessão do título foi gravado no dia 25 de fevereiro. Porém, Meirelles explica que ele não foi divulgado à epoca para preservar sua importância e evitar que “o significado da entrega fosse diluído pelos outros eventos que Milton estava envolvido”. Na gravação (veja abaixo), o cantor recebe a honraria das mãos do reitor da universidade e agradece a homenagem.
A proposta do título de Doutor Honoris Causa foi criada pelo professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, Fernando Hashimoto. A ideia partiu do fato de que o instituto é um dos mais antigos de toda a universidade, que foi também a primeira em todo o Brasil a criar um curso de graduação em música popular, em 1989. Uma das disciplinas do curso se dedica, integralmente, ao estudo das composições de Nascimento.
“Milton é a cara do Brasil, representa o nosso povo. Esse reconhecimento abre portas para acolher cada vez mais esses saberes diversos da música popular brasileira no ambiente acadêmico”, destaca Hashimoto.
O movimento de concessão de homenagens, ainda em vida, aos grandes cantores da Música Popular Brasileira (MPB) ganha cada vez mais espaço na academia, como forma de reconhecer seu trabalho e legado para a cultura nacional. Em 2024, a cantora Marisa Monte recebeu o mesmo título — Doutora Honoris Causa — pela Universidade de São Paulo (USP).
O legado de Nascimento
Nascido em 1942 no Rio de Janeiro, Milton Silva Campos Nascimento cresceu e iniciou sua carreira musical em Minas Gerais. Sua primeira canção, Barulho de Trem, foi lançada em 1962. Ele também fez parte do grupo Clube da Esquina, fato que o consagrou no universo da música. Junto a Lô e Márcio Borges, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e outros amigos lançaram o álbum que leva o nome do grupo, trabalho considerado como revolucionário em toda a MPB.
O grande sucesso solo de Milton aconteceu ainda em 1967, com a música Travessia. Com mais de 60 anos de carreira, Bituca, como o cantor é conhecido carinhosamente, tem mais de 400 composições, com influências da bossa nova, músicas tradicionais mineiras e afrobrasileiras, indígenas, latino-americanas, jazz, rock e rock progressivo.
A professora Regina Machado, da Unicamp, destaca que o cantor é “reconhecido nacional e internacionalmente pela junção de elementos não tão fáceis de assimilação, mas que renderam canções que são cantadas até hoje”.
Além das músicas em sua própria voz, o cantor coleciona diversas composições que ficaram conhecidas nas vozes brasileiras — como Elis Regina cantando Travessia — e até internacionais — como a cantora islandesa Björk, que também interpretou a música, cantando em português.
O artista já conquistou 5 Grammys Awards e outro título de Doutor Honoris Causa, pela Berklee College of Music, considerada uma das mais prestigiosas instituições de ensino de música dos Estados Unidos, pela Universidade de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
