A preço de hoje, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, não será candidato à presidência da República em 2026. O problema é o tempo. O seu e o de Jair Bolsonaro.
Não é exagerado afirmar que o ex-presidente é o grande responsável pela construção da persona política de Tarcísio. Embora ele tenha sido “descoberto” por Dilma Rousseff e promovido por Michel Temer, foi Bolsonaro quem fez sua transição da tecnocracia para o mundo político.
Tarcísio tomou gosto, mergulhou fundo e se tornou governador do estado mais poderoso da federação na primeira eleição que disputou na vida.
Gozando de popularidade no maior colégio eleitoral do país, desfrutando da confiança do ex-presidente, cuja benção pode colocar qualquer desconhecido no segundo turno, e estando no centro de uma composição política que envolve todos os partidos do centrão, Tarcísio, no entanto, não deve tentar um voo maior em 2026 em razão da conjuntura.
O problema é a combinação entre o tempo dos eventos e a estratégia de Jair Bolsonaro para manter-se vivo politicamente.
Começando pelo final. Atualmente, Bolsonaro não pode mais ser candidato e é grande a possibilidade de ele virar o ano preso ou exilado em alguma embaixada em razão do julgamento do seu suposto envolvimento em um também suposto plano de golpe de Estado.
Como estratégia, o ex-presidente tenta emular Donald Trump, que enfrentou o avanço da justiça mantendo seu potencial eleitoral, mesmo que não tenha condições legais de se candidatar.
De todo modo, manter-se mobilizado é condição necessária para Bolsonaro realizar três apostas: primeiro, tentar aprovar uma anistia prévia para escapar de uma possível condenação. Se não der, alimentar a sensação de que uma possível ordem de prisão geraria uma comoção social acompanhada de distúrbios, desencorajando as autoridades. Por último, e só por último, incensar alguém para concorrer à presidência da República e, em caso de vitória, contar com o seu indulto.
O que nos leva a questão do tempo. Hoje, Bolsonaro tende a manter-se candidato até o prazo final. Mas Tarcísio, para concorrer à presidência, deve se desincompatibilizar do cargo até abril de 2026. Traduzindo: o governador teria que renunciar sem qualquer certeza de ter seu nome validado na hora H.
Levando em conta a biografia de Tarcísio, ex-militar e servidor concursado do Executivo e, depois, do Legislativo, não sendo um político de origem, dá para imaginar que há uma predileção pessoal pela segurança na carreira e previsibilidade na vida pessoal. Nada que sugira que ele será capaz de dar o salto no escuro que a situação atual sugere.
Comparativamente, o tempo favorece os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema, de Goiás, Ronaldo Caiado, do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e do Paraná, Ratinho Júnior. Como não podem concorrer à reeleição, vão renunciar em abril de qualquer jeito pois, no mínimo, tentarão uma cadeira no Senado. Eles podem esperar pela decisão de Bolsonaro e, se não der certo, seguirem outro caminho.
O que poderia mudar essa situação? Se Bolsonaro for preso antes de abril, se perceber que Tarcísio é sua opção mais viável e se vier a público fazer um apelo irresistível pelo sacrifício de renunciar ao comando de São Paulo.
Mas não existe o “se” na história. Há apenas o passado e o presente e, hoje, única opção que dá a Tarcísio o controle do seu destino é continuar onde está.
Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília