Cientistas em perigo (por Mariana Caminha)

Arrisco dizer que a profissão de cientista está entre as mais populares entre as crianças. No top 3 dos sonhos infantis, ela divide espaço com as clássicas ‘astronauta’ e, agora, a moderníssima ‘tiktoker’.

Será que essas crianças manteriam a escolha se soubessem o quão dura pode ser a vida de quem se dedica à Ciência? Falta de verba, laboratórios precários, anos de estudo e pesquisa até começar a ter êxito profissional. Sem falar da batalha constante por reconhecimento e apoio.

Se estivermos falando de cientistas climáticos, a coisa, então, fica feia. Porque além disso tudo que falei acima, ainda tem-se de aguentar terraplanistas, negacionistas e, agora, intervenção direta do governo dos Estados Unidos.

Sim, é verdade. Este ano, cientistas e representantes federais dos EUA foram, pasmem, proibidos de participar da última reunião do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, que reúne cientistas para avaliar a ciência relacionada às mudanças climáticas.

A ausência de representantes-chaves da comunidade científica ocorreu justamente durante discussões cruciais sobre mitigação de emissões e resiliência climática — temas que, convenhamos, não admitem cadeiras vazias.

A criação da Aliança Acadêmica dos EUA para o IPCC, organizada pela American Geophysical Union, foi uma forma de garantir que cientistas norte-americanos possam contribuir para os relatórios do IPCC de forma independente do apoio federal. Muitos, inclusive, participaram das reuniões por conta própria — bancando as viagens do próprio bolso.

É… vida de cientista não é fácil. E se antes o sonho de muito cientista era fazer parte dos grandes laboratórios de pesquisa das universidades americanas, o que resta agora?

Com a saída dos EUA do Acordo de Paris, os cortes de orçamento e o fim de parcerias estratégicas, o impacto no avanço da ciência climática ainda é difícil de mensurar. Mas já sabemos que será profundo.

A gente não sabia, mas aqueles dias nos laboratórios de química e biologia da escola, entre provetas e olhos curiosos, talvez tenham sido os mais gentis da vida científica.

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