Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), junto à instituição Autistas Brasil, descobriu que a desinformação sobre o transtorno do espectro autista (TEA) cresceu 15.000% nas comunidades da América Latina e do Caribe no aplicativo de mensagens Telegram. O número cresceu muito a partir da pandemia de covid-19 e coloca o Brasil no topo da lista, totalizando 46% dos conteúdos enganosos identificados.
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A pesquisa uniu os cientistas do Laboratório de Estudos Sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPOP) e da Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (Autistas Brasil), que analisaram mais de 60 milhões de mensagens em grupos conspiratórios do Telegram. Foram mais de 5 milhões de usuários afetados em 19 países.
Teorias conspiratórias sobre o autismo
A análise durou cerca de dez anos, indo de 2015 a 2025, e mapeou 150 causas enganosas propagadas na rede social, bem como 150 falsas curas. Em cinco anos, entre 2019 e 2024, durante a pandemia, o volume de desinformação sobre o autismo sofreu um aumento de 15.000% (em outras palavras, multiplicou mais de 150 vezes), com 635% do número ocorrendo apenas entre 2020 e 2021.
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No continente latinoamericano, o Brasil liderou o compartilhamento de teorias conspiratórias, com 22.007 publicações, que alcançaram mais de 1,7 milhão de usuários — 46% do volume total. Argentina, México, Venezuela e Colômbia, em ordem decrescente, se seguiram ao país.
Foram propagadas 150 causas falsas do autismo, indo de deficiência de serotonina e exposição a alumínio a consumo de Doritos, inversão do campo magnético da Terra, parasitas e influência de chemtrails (supostos produtos químicos lançados na atmosfera). O negacionismo científico e o pânico moral foram estratégias muito usadas, também atribuindo supostas causas ao 5G, WiFi, microondas e até vacinas.
Junto a isso, foram divulgadas 150 curas supostamente milagrosas ao transtorno. Grande parte delas é perigosa, como consumo de dióxido de cloro (conhecido como MMS), ingestão de prata coloidal e azul de metileno e até mesmo eletrochoques por bobinas de Tesla. Tratamentos oportunistas como ozonioterapia também foram sugeridos, indicando práticas lucrativas que exploraram famílias desinformadas.
Ergon Cugler, coordenador do estudo, descreveu as comunidades do Telegram como “seitas digitais”, grupos que misturam termos científicos como espiritualidade, biohacking, anticiência e teorias da conspiração. São criadas bolhas de desinformação onde “tudo parece fazer sentido internamente”, tratando o autismo como algo a ser combatido ou curado.
O estudo completo pode ser acessado na plataforma arXiv.
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