São Paulo — Dois detentos da Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, contaram em depoimento como e por quê mataram dois líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) envolvidos nos planos de sequestro e morte de figuras públicas.
Entenda
- Luis Fernando Versalli, o Barão, 53 anos, e Jaime Paulino de Oliveira, o Japonês, 47 anos, foram pronunciados a júri popular pelas mortes de Reginaldo Oliveira de Sousa, o Rê, e Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, ambos de 48 anos.
- As vítimas foram mortas em 17 de junho de 2024, dentro do presídio, a facadas, com marcas de cortes na garganta e em todo o tórax. Câmeras registraram toda a ação. No ano anterior, eles foram presos na Operação Sequaz, que investigou planos para matar agentes públicos, como o senador Sérgio Moro (União).
- Ambos os presos ficaram em silêncio em interrogatórios na Polícia, mas resolveram falar em depoimento à Justiça de São Paulo. Em fevereiro, Barão e Japonês foram pronunciados a júri popular pelo crime.
- Os dois detentos estão há décadas presos e dizem ter abandonado o PCC. A dupla diz ter sido ameaçada por Rê e Nefo em razão de terem deixado a facção, e conta que eles se colocavam como lideranças dentro da penitenciária por terem feito parte dos planos de atentados.
Japonês disse à Justiça que “matou aquelas pessoas e sabe que não é certo, mas, se não tivesse matado, estaria morto”. Ele disse que fez parte da facção e chegou a liderar o primeiro pavilhão de Presidente Venceslau. Em 2021, no entanto, afirmou ter deixado a facção após uma grave infecção de Covid.
Depois de sua saída, relatou que Rê e Nefo fizeram de tudo para decretar sua morte porque, segundo ele, “sabia de muitas coisas do crime organizado”. Quando eles chegaram à penitenciária, em 2023, pediu transferência para o pavilhão III.
Ele relatou que a situação só pioraria após a transferência porque pessoas subordinadas a Rê e Nefo passaram a ameaçá-lo e humilhá-lo. Pediu, então, para ir a uma cela de seguro, que é um espaço para presos que ficam isolados por serem rejeitados pelas facções dentro dos presídios.
Ele disse que recebeu um bilhete para descer para o pavilhão “resolver a parada”, pois, do contrário, matariam sua família. Japonês, então, afirmou que tentou se matar.
Após a tentativa de suicídio, relatou que voltou ao Pavilhão 1, mas seus algozes queriam que voltasse ao Pavilhão III para que ninguém suspeitasse de Nefo e Rê quando fosse assassinado.
Japonês era barbeiro no presídio e, no dia do crime, quando chegou à barbearia, presenciou uma discussão entre Barão e Nefo. Luis Fernando Versali, o Barão, era seu companheiro de cela e teria levado um tapa de Nefo. Quando entrou para apartar a briga, disse ter levado facadas na barriga e no braço.
Ele relatou que também tinha um “espeto”, apelido dado a um vergalhão afiado usado como arma na cadeia. Com ajuda de Barão, matou Nefo a facadas. Eles teriam matado Janeferson, o Rê, após ele começar a incitar outros presos a revidarem.
Em seu depoimento, disse mais de uma vez que “agiu para proteger sua vida e a de seu amigo, e que, ao recordar as ameaças sofridas, sentiu que, se não concluísse a ação, sua família estaria em risco”.
Disse ainda que sua situação só havia piorada quando pediu ajuda ao Estado, momento em que passou a receber ameaças a seus familiares, com direito a fotos e endereço.
Luis Fernando Versali disse que foi excluído da facção por ter dívidas com ela – não detalhou quais eram essas dívidas. Ele disse, também, que Nefo e Rê se proclamavam como líderes do PCC porque haviam sido presos em razão da repercussão dos planos para matar autoridades.
Ele se disse ameaçado pela dupla e afirmou que nada foi premeditado. Disse ainda que as câmeras mostrariam, em tese, toda a desavença que terminou com a morte dos dois inimigos.