Em um cenário onde a segurança pública enfrenta desafios cada vez mais complexos, as forças policiais brasileiras têm investido em tecnologia e equipamentos especializados para cumprir suas missões. Entre esses equipamentos, as viaturas representam não apenas um meio de transporte, mas ferramentas táticas que podem definir o sucesso de uma operação.
Em uma iniciativa inédita, diferentes corporações de segurança do país foram convidadas por nossa coluna a apresentar o que consideram sua “carta mais valiosa” no quesito viaturas.
Cada instituição teve a liberdade de escolher o veículo que melhor representasse sua força, seja pela blindagem, velocidade ou recursos tecnológicos. A única exceção foi a Polícia Federal, cujo veículo foi selecionado pela própria equipe de reportagem com base em critérios técnicos.
Super trunfo
O resultado foi uma coleção impressionante que mostra as diferentes ferramentas de cada instituição. Assim como no clássico jogo de cartas Super Trunfo, onde cada carta possui atributos distintos que podem se sobressair dependendo da rodada, as viaturas apresentadas nesta reportagem formam um baralho estratégico, cada uma com seus pontos fortes e aplicações específicas.
Se estivéssemos diante de um tabuleiro imaginário onde cada corporação apresenta sua carta mais valiosa, veríamos estratégias distintas em ação. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) trouxe para o jogo um blindado veterano, cuja resistência já foi testada em situações reais de conflito urbano.
No campo da velocidade pura, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PCRS) apresentaram seus ases: Porsches capazes de ultrapassar os 290 km/h, verdadeiros mísseis terrestres que representam não apenas capacidade de perseguição, mas também o simbolismo da apropriação de bens do crime para o combate ao próprio crime.
Já a Polícia Civil do DF (PCDF) e a Polícia Penal do DF trouxeram para a mesa cartas que valorizam a versatilidade e a funcionalidade, com caminhonetes adaptadas para o transporte seguro de custodiados e equipadas com tecnologia de monitoramento. E para completar este baralho especial, nossa reportagem selecionou o Scorpion como representante da Polícia Federal, reconhecendo suas excepcionais características técnicas de proteção e versatilidade operacional.
O que torna esta comparação particularmente interessante é perceber como cada instituição, dentro de suas atribuições específicas, desenvolveu ou adquiriu soluções tecnológicas alinhadas com suas necessidades operacionais. Não se trata apenas de veículos, mas de ferramentas táticas que refletem a missão e os desafios enfrentados por cada corporação.
Confira as cartas
Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF)
- O blindado do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHOQUE) tem proteção balística nível III, de acordo com as normas NIJ 0108.01 e NBR 15000.
- Tem capacidade para abrigar 21 policiais equipados e sentados, 1 condutor, 1 comandante e 1 canhoneiro.
- Possui reservatório de água com capacidade para 4.000 litros, que pode ser usado em situações extremas que envolvem fogo.
- Na corporação desde 2012, o veículo foi usado no DF em inúmeras situações emblemáticas, como em 8 de janeiro e nas manifestações contra as derrubadas ocorridas em 26 de setembro.
- Com resistência a granadas e tiros de fuzil, a lataria do caveirão brasiliense carrega história, com marcas de pedras, tiros e até fogos de artifício.
- Apesar da ousadia de quem tentou danificá-lo, os vestígios são superficiais e revelam a força do “carro monstro”.
Polícia Penal (PPDF)
- Com velocidade máxima de 187 km/h e motor de potência 3.0, a caminhonete 2024 da Polícia Penal é usada nas transferências de custodiados e em operações especiais.
- Apesar de não ser blindado, o veículo conta com algumas adaptações, como cubículo fechado com sistema de câmeras de segurança e áudio, além de compartimento para guardar equipamentos usados em operações, como cones e cordas.
- A caminhonete possui um quebra-mato capaz de empurrar veículos menores e um sistema de mídia que permite aos policiais acesso em tempo real ao que os custodiados fazem no cubículo fechado, além das sirenes e sistema de alto-falante que permite que o policial dê ordens, de dentro da viatura, a pessoas que estejam do lado de fora do carro.
Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PCRS)
- Avaliado em aproximadamente R$ 1 milhão, o Porsche 911 Carrera 2021 chegou à PCRS após uma operação contra lavagem de dinheiro do tráfico.
- O veículo foi apreendido e, com autorização da Justiça, passou a compor a frota da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas de Passo Fundo (RS).
- O veículo tem velocidade máxima de 295 km/h, motor 3.0 e 6 cilindros.
- O Porsche não é blindado nem passou por adaptações significativas — fora os adesivos da corporação —, pois não participa de operações, sendo usada com viés pedagógico, em feiras e eventos escolares.
Polícia Federal (PF)
- Desde 2022, a PF conta com oito viaturas Scorpion, fabricadas pelo Grupo Streit, dos Emirados Árabes Unidos.
- O carro possui blindagem nível IV, motor com potência de 6.7 e velocidade máxima de 110 km/h. São seis cilindros em um veículo de aproximadamente 6,8 metros de comprimento.
- O blindado, que pode pesar até 14 toneladas, é usado em situações extremas, como no combate ao crime organizado, que frequentemente utiliza armamento de grosso calibre e artefatos explosivos improvisados (IEDs).
- Resistente a tiros de armas .50 e ataques com explosivos, o veículo atua como uma espécie de abre-alas, permitindo que as forças de segurança entrem em territórios dominados por criminosos.
Polícia Rodoviária Federal (PRF)
- O Porsche 911 Carrera S 2024 traz motor 3.0 a gasolina, de seis cilindros opostos horizontalmente e 24 válvulas. Gera 450 cv de potência e 54 kgfm de torque máximo.
- A aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 3,5 segundos, com velocidade máxima de 308 km/h.
- O veículo conta ainda com transmissão automatizada (PDK) de oito velocidades e tração traseira.
Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF)
- Semelhante à da Polícia Penal, a viatura da PCDF — uma Toyota Hilux 2019 — tem velocidade máxima de 180 km/h e motor de 2.8 de potência.
- Sem blindagem, o veículo conta com adaptações como cubículo fechado para transporte de custodiados e compartimento para equipamentos usados em operações com apoio da Divisão de Operações Especiais (DOE).
- Essas viaturas costumam apoiar grandes operações no DF e são usadas para transferir os alvos das ações.
- O veículo conta com 4 cilindros e pesa cerca de 2.065 kg.
Seria impreciso declarar um “vencedor” absoluto neste jogo de cartas da segurança pública. Afinal, qual atributo seria mais valioso: a velocidade de um Porsche em uma perseguição nas rodovias ou a proteção de um blindado em uma operação em território hostil? A resposta depende inteiramente do contexto operacional.
As cartas podem ser baixadas por meio deste link.
