“Escravas virtuais”: mentor de automutilação no Discord deixa prisão

São Paulo — Condenado por participar de grupos de Discord que promoviam estupros e a mutilação de menores de idade, o jovem Vítor Hugo Souza Rocha, conhecido como “Verdadeiro Vitor”, foi solto no início do mês, em decisão proferida pela 1ª Vara de Crimes Praticados contra Crianças e Adolescentes, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Preso em junho de 2023, Vitor Hugo passou quase dois anos detido, inicialmente no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na zona oeste da capital, e na sequência na Penitenciária II de Gália, no interior do estado.

Ao conceder a liberdade provisória, a juíza Tânia da Silva Amorim Fiuza acatou um pedido da Defensoria Pública, que alegou bom comportamento do réu e disse que o período que ele estava preso de forma cautelar correspondia à pena aplicada a ele em primeira instância, de um ano e dez meses de reclusão.

De acordo com denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP), uma das responsabilidades de Vitor Hugo na organização criminosa era “garantir a impunidade” dos integrantes, “por meio do apagamento dos arquivos” e “armazenamento externo dos conteúdos” por meio de criptografia.

Segundo os promotores, o jovem tem “extensos conhecimentos na área de tecnologia da informação” e “recebia e armazenava os conteúdos ilícitos provenientes dos crimes contra as vítimas”.

Em seu computador, ele possuía uma pasta com o título “backup das vagabundas estupráveis (explanation team)”. Em cada subpasta, o nome de uma vítima. São dezenas de meninas violadas, chantageadas, expostas, catalogadas.

A denúncia diz que o objetivo da organização criminosa era aliciar jovens por meio do Discord, fazendo-as acreditar em um falso interesse afetivo ou de amizade.

“Após estabelecerem a confiança das vítimas na relação virtual, passavam a demandar que lhes fossem entregues fotografias e vídeos íntimos, mediante manipulação psicológica e práticas de controle que envolviam desde o argumento das ‘provas de confiança’, aos argumentos que vulnerabilizavam os laços familiares delas. Além disso, passavam a pressioná-las para que fossem ao encontro deles, prometendo que, só assim, poderiam viver a relação amorosa, e morar juntos”, dizem os promotores.

Escrevas Virtuais

Um vídeo obtido pelo Metrópoles em maio de 2023 mostra uma sessão de abusos psicológico, físicos e sexuais realizada via Discord. Na gravação, Izaquiel Tomé dos Santos, conhecido como “Dexter”, dá ordens para que uma adolescente se humilhe diante de sua câmera, em uma transmissão para várias pessoas.

Izaquiel, que segundo o MPSP integrava a mesma organização criminosa que Vitor Hugo, foi preso em abril daquele ano pela Polícia Federal.

“Escuta aqui sua vagabunda, se você falar um ‘a’ agora, eu faço questão de você, em cinco minutos estar num hospital. Em cinco minutos, você vai ter que procurar outra família. Fala mais um ‘a’ desse jeito para mim que eu faço você perder sua perna necrosada hoje mesmo. Então tenta você crescer a porra da sua moral pra cima de mim, o sua puta. Pede desculpa ajoelhada nesse momento”, diz ele na gravação, enquanto a adolescente chora.

Discord

No início do mês, a Polícia Civil de São Paulo instaurou um inquérito para apurar a conduta da plataforma Discord por apologia à violência digital. A medida foi tomada após a plataforma ter descumprido uma solicitação emergencial das autoridades, que pedia o fim de uma transmissão ao vivo em que cenas de violência eram mostradas para crianças e adolescentes.

Agentes do Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) flagraram o momento em que a “live” acontecia durante um monitoramento de um grupo envolvido na divulgação das imagens. Mesmo com o pedido para a derrubada do servidor, a plataforma não acatou e o evento não foi finalizado.

Molotov em morador de rua

Em 2 de fevereiro, um jovem de 17 anos que atirou dois coquetéis molotov em um homem em situação de rua no Rio de Janeiro. O crime, de acordo com a Polícia Civil fluminense, teria sido orquestrado e transmitido ao vivo via Discord.

O agressor é investigado por tentativa de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa, além da prática de apologia ao nazismo. Os agentes apreenderam um aparelho celular com conteúdo de pornografia infantil.

No último fim de semana, segundo o Núcleo de Observação e Análise Digital da polícia de São Paulo, um grupo pretendia repetir o crime no Rio. O plano foi compartilhado on-line, por meio do Discord. Neste domingo (20/4), e o trio foi preso.

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