São Paulo — Uma das entidades que faturou milhões de reais com descontos de mensalidade associativa de aposentados e foi alvo da operação da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta semana contra um megaesquema de fraude no INSS foi presidida por uma faxineira no auge da farra das cobranças.
Maria Inês Bastista de Almeida (foto em destaque), de 64 anos, presidiu a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), uma entidade que passou a fazer descontos de mensalidade associativa sobre aposentadorias em 2021, quando tinha apenas três filiados, e, em 2024, alcançou a marca de mais de 600 mil filiados e um faturamento de R$ 30 milhões por mês.
Quando o Metrópoles revelou a farra dos descontos indevidos sobre aposentados do INSS, a reportagem obteve documentos que mostravam que Maria Inês se apresentava como “auxiliar de dentista” à Justiça e que, apesar de ser a presidente formal da entidade, quem a controlava eram empresários do ramo de planos de saúde e seguros.
Já naquela época, em 2024, havia um inquérito na Polícia Civil de São Paulo que expunha uma briga pelo comando da entidade que envolvia o empresário Maurício Camisotti, um dos alvos da PF, e rivais que romperam com ele. Depoimentos de presidentes da Ambec e de um antigo homem de confiança do empresário davam conta de que a associação era ligada a Camisotti e que seus dirigentes eram apenas testas de ferro.
A Ambec foi uma das associações suspensas por ordem judicial no âmbito da Operação Sem Desconto, que apura fraudes bilionárias contra aposentados. A Polícia Federal confirmou e avançou sobre a apuração do Metrópoles. Concluiu que o homem por trás da Ambec e de outras duas associações era mesmo Camisotti, e atribui a ele movimentações milionárias com as associações.
No caso da Ambec, R$ 228 milhões foram classificados como movimentações suspeitas da entidade, segundo a PF. Maria Inês aparece em uma teia de relações de Camisotti, que vão de funcionários a parentes, que estão formalmente em comando de empresas e associações controladas por ele. Segundo investigadores, ele usa “laranjas” para se beneficiar das fraudes.
A PF levantou o histórico de Maria Inês porque ela presidiu a Ambec justamente no ano em que a associação saltou de 18 mil para mais de 600 mil filiados em questão de meses. Foi constatado que ela tinha vínculo de faxineira com a Prevident e a Prodent, ambas empresas que, apesar de terem sócios distintos, são ligadas a Camisotti e fizeram transações financeiras milionárias com ele.
Somente a Prevident, recebeu R$ 16 milhões da Ambec, segundo a quebra de sigilo bancário. Seu sócio formal, José Hermicesar Brilhante Palmeira, um homem de confiança de Camisotti, foi secretário-geral da Ambec. A entidade, segundo levantou a PF, já foi presidida também por parentes de Camisotti. Um deles foi, em 2021, o responsável por assinar o termo de cooperação técnica entre a associação e o INSS.
Como mostrou o Metrópoles, empresas ligadas ao empresário receberam R$ 43 milhões das três associações controladas por ele. Nesta conta, ainda entram a União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Unsbras) e o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap). Ao lado da Ambec, elas faturaram R$ 580 milhões somente entre 2024 e 2025.