Cartel anestesia: conheça os envolvidos em esquema que dominou o DF

A coluna apurou, com exclusividade, a identidade de 12 investigados como sendo alguns dos operadores que manipulavam um esquema tomado por abuso de poder, ameaça e exploração. O cartel da anestesia, orquestrado pela Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF), reinou na capital do país por décadas e é alvo da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

Considerando as investigações, há indícios de abuso do poder econômico por parte da Coopanest-DF por meio desses diretores, que agiam com domínio do mercado e eliminação quase total da concorrência de anestesistas que não atuam pela cooperativa, por intermédio de atuação coordenada e ajustada dos anestesistas e grupos cooperados. Em tese, essa prática pode configurar crime de cartel.

Saiba os nomes de alguns dos investigados:

  • José Silvério Assunção.
  • Arnaud Macedo de Oliveira Filho.
  • Eldiro Daniel Mendes.
  • Hélio Ferreira de Oliveira.
  • Edno Magalhães.
  • Pablo Pedrosa Guttenberg.
  • Felipe Cavalcante Sampaio.
  • Daniel Daut Santos.
  • Thiago Caetano Peixoto
  • Thiago Ferreira Correia
  • Alberto Gustavo de Oliveira Telles.
  • Rodolfo Fernandes.

Gangue articulada

De acordo com a investigação da PCDF, o esquema é discorrido por meio de grupos exclusivos de anestesistas, filiados à Coopanest, que comandam o setor de procedimentos anestésicos em quase todas as unidades hospitalares do DF.

Os documentos revelam que em cada hospital há um núcleo que rege e decide quem sai e quem fica, sem muita preocupação com parâmetros éticos. Depoimentos de testemunhas denunciam que médicos de fora não são facilmente admitidos, a menos que sejam aceitos pela cooperativa e pelo grupo local, seguindo à risca cada uma das regras impostas.

Profissionais autônomos e anestesistas recém-chegados ao DF também são barrados pelo tribunal do cartel de exercer a profissão. Os especialistas só conseguem atuar na rede privada se forem integrados a um grupo já estabelecido, diliado à Coopanest-DF.

A estrutura hierárquica da cooperativa também foi alvo da apuração. Médicos que não fazem parte da sociedade majoritária dos grupos são conhecidos informalmente como “bagres” e ficam responsáveis pelos plantões mais pesados — noturnos, fins de semana e procedimentos de maior risco — recebendo valores fixos por hora trabalhada. Já os lucros reais são concentrados nas mãos dos sócios, que organizam as escalas e controlam os contratos.

A investigação revelou ainda que o domínio da Coopanest-DF atinge também o setor público. Hospitais como o da Criança de Brasília e até a Secretaria de Saúde do DF relataram dificuldades em contratar anestesistas devido aos valores elevados exigidos pela cooperativa. Um levantamento citado aponta que mais de 1.300 cirurgias gerais, sendo 500 pediátricas, deixaram de ser realizadas por inviabilidade financeira.

Na mira policial

Essas práticas são alvo da Operação Toque de Midaz, deflagrada em abril pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF. A ação cumpriu mandados de busca e apreensão contra anestesiologistas e dirigentes da cooperativa suspeitos de liderar um esquema criminoso com características de cartel, formação de organização criminosa, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.

O nome da operação faz alusão ao rei Midas, símbolo da ganância, e ao Midazolam, sedativo amplamente utilizado em anestesias — uma referência direta ao setor envolvido no esquema.

Em nota, a Coopanest-DF negou qualquer irregularidade e afirmou que “nunca houve e não há cartel” ou ilegalidade em sua atuação. A cooperativa também declarou manter compromisso ético com seus cooperados há mais de 40 anos.

A coluna não localizou a defesa dos envolvidos. O espaço segue aberto para manifestação.

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