Quando o Cardeal Jorge Bergoglio foi anunciado Papa houve uma surpresa muito grande. Ele mesmo disse ter vindo do fim do mundo. Era difícil para um católico europeu pensar num cardeal argentino, da América Latina. Ele chegou pedindo que rezassem por ele. Ao escolher o nome de “Francisco”, Dom Claudio Hummes, seu amigo, que estava ao seu lado durante a votação, disse que essa escolha do nome era uma encíclica. Ela dizia tudo do zelo pelos pobres, pela simplicidade, pelos mais humildes e, sobretudo, pela definição de uma Igreja voltada para a missão evangélica e a busca dos primitivos valores do cristianismo.
Ele saía de um modesto hotel de Roma, onde se hospedara, pagando do seu bolso as diárias, e dispensava os sapatos brilhantes papais para ficar com os surrados sapatos que usava em Buenos Aires, onde andava de ônibus e de metrô.
Era um homem que sempre pregara a conciliação, não gostava de brigas e de radicalizações. Sendo jesuíta e com visão de franciscano, tinha de conciliar uns com os outros. Se os franciscanos desejavam viver em pobreza, já os jesuítas optavam pelo poder, de tal modo que estes viviam a criticar o papado, o que determinou que João Paulo II chamasse ao Vaticano o Superior deles, o Padre Pedro Arrupe, e lhe dissesse: “Os jesuítas fizeram votos de obediência ao Papa. Ajoelhe-se. Cumpra o seu voto.” O Superior dos Jesuítas ajoelhou-se. João Paulo disse-lhe: “Cumpriu.”
Pois Francisco tinha de conciliar as duas vocações: a da pobreza e a do poder. Todo seu pontificado foi o de manter a união da Igreja, avançando em assuntos e problemas sensíveis e mantendo a autoridade papal. O maior desafio foi o de excomungar o cardeal alemão que lhe fizera uma crítica contundente pela benção a um casal gay.
Como foi a surpresa de sua escolha deu-se a surpresa da sua morte. Todos estávamos certos de que estava em processo de recuperação acelerada. Foi à Praça de S. Pedro. Deu a bênção “Ubi et Orbis”. E, ao amanhecer, eis a trágica e dolorosa notícia: sua morte. Então o mundo inteiro chorava por ele e contra ele. Voltava à Casa do Pai, de onde saíra para a aventura da vida deixando um raio luminoso de sol, de fé e de exemplo.
O Cardeal de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, uma de suas belas e virtuosas escolhas, disse que o seu legado seria o do “Papa que olhou pelas periferias” e de que “a Igreja tem que levar o amor de Deus para as pessoas, não pode abandonar esse caminho.”
Seu desejo é o de ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maior: sua grande devoção era a Mãe de Deus. O Padre Vieira tem um Sermão, pregado em Belém do Pará, cujo lema era saber onde estava Jesus logo depois da Ressureição, já que nem nos Evangelhos nem no Atos dos Apóstolos, durante três dias Ele não aparece. O Padre Vieira responde: “Com sua Mãe”, onde todo filho sempre está. Depois daquela madrugada, em que Maria Madalena, Maria Salomé e Maria de Cléofas, mãe de Tiago, ouviram do Anjo que Jesus não mais estava lá, Vieira procura saber onde estava. E diz, repito, que estava “com sua Mãe”.
Francisco, como bom mariano, também imita Cristo e vai para “Casa da Mãe de Deus”, e ali repousará para sempre, no exemplo e na veneração de todos nós.
Encerremos como Vieira: “Ave Maria.”