Confirmando rumores que circulavam nos últimos dias, a Intel anunciou na noite desta quinta-feira (24) uma nova rodada de demissões em massa e cortes de custos no valor de US$ 1,5 bilhão. A decisão foi comunicada pelo novo CEO da companhia, Lip Bu-Tan, que assumiu o cargo há pouco mais de cinco semanas e já implementa uma drástica reestruturação com foco em simplificar a estrutura corporativa, eliminar burocracias e transformar a cultura interna.
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O anúncio aconteceu logo após a divulgação dos resultados financeiros do primeiro trimestre de 2025, que apesar de superarem as expectativas em receita, margens e lucro por ação, não foram suficientes para acalmar investidores. As ações da empresa caíram 5% após a apresentação, refletindo a preocupação do mercado com os desafios estruturais enfrentados pelo gigante dos semicondutores.
Este é o segundo grande corte da Intel em menos de um ano, após a demissão de aproximadamente 15 mil funcionários (15% da força de trabalho) em agosto de 2024. A nova reestruturação indica que a companhia ainda não conseguiu superar sua crise interna e permanece em busca de um caminho para recuperar a eficiência operacional e a liderança tecnológica que já marcaram sua trajetória.
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Dimensão dos cortes e prazo para implementação
Embora a Intel não tenha especificado o número exato de funcionários que serão desligados, rumores do mercado apontam que as demissões podem afetar até 20% da força de trabalho atual, o que representaria aproximadamente 20 mil pessoas. Em seu comunicado, Bu-Tan indicou que os cortes começarão no segundo trimestre deste ano e serão implementados ao longo dos próximos meses.

“Não há como fugir do fato de que essas mudanças críticas reduzirão o tamanho de nossa força de trabalho”, afirmou o executivo na mensagem enviada aos funcionários, ressaltando que as decisões “não serão tomadas levianamente” e serão conduzidas com foco em reter e recrutar talentos-chave para o futuro da empresa.
Além das demissões, a Intel estabeleceu uma meta de reduzir US$ 1,5 bilhão em despesas operacionais nos próximos dois anos. O plano prevê um corte de US$ 500 milhões já em 2025, reduzindo os gastos operacionais para US$ 17 bilhões, seguido por uma redução adicional de US$ 1 bilhão em 2026, chegando a US$ 16 bilhões. Essa estratégia busca trazer a estrutura de custos da companhia para níveis mais competitivos e sustentáveis.
Mudanças culturais e redução da burocracia
Um dos pontos mais enfatizados por Bu-Tan foi a necessidade de transformar radicalmente a cultura da Intel. O CEO destacou que a empresa tem sido vista como “muito lenta, muito complexa e muito arraigada em seus próprios caminhos”, características que ele considera entraves para a inovação e agilidade necessárias para competir no mercado atual.
Uma das observações mais surpreendentes do executivo foi sobre a organização interna da companhia: “Muitas equipes estão a oito ou mais camadas de profundidade, o que cria burocracia desnecessária e nos atrasa”, explicou. Para resolver esse problema, Bu-Tan instruiu sua equipe executiva a eliminar camadas hierárquicas, aumentar o alcance de controle e empoderar os profissionais de alto desempenho.
O CEO também afirmou que ficou surpreso ao descobrir que “nos últimos anos, o KPI mais importante para muitos gerentes na Intel tem sido o tamanho de suas equipes”. A partir de agora, a empresa adotará uma filosofia diferente: “os melhores líderes são aqueles que conseguem realizar mais com menos pessoas”, destacou.

Outras medidas para reduzir a burocracia incluem:
- Eliminação de reuniões desnecessárias e redução significativa do número de participantes
- Modernização de processos com foco em dashboards em tempo real
- Tornar opcional os requisitos formais de Insights e OKRs (Objectives and Key Results)
- Redução de tarefas administrativas não essenciais, como treinamentos e documentações que consomem tempo
Retorno ao escritório e foco em engenharia
Além das mudanças estruturais, Bu-Tan também anunciou uma alteração na política de trabalho híbrido. Atualmente, os funcionários devem passar aproximadamente três dias por semana no escritório, mas, segundo o CEO, a adesão a essa diretriz tem sido “irregular na melhor das hipóteses”. A partir de 1º de setembro, a Intel passará a exigir a presença no escritório por quatro dias semanais.
“Quando passamos tempo juntos pessoalmente, isso promove discussões mais envolventes e produtivas. Impulsiona tomadas de decisão melhores e mais rápidas. E fortalece nossa conexão com os colegas”, justificou o executivo.
Bu-Tan também enfatizou a necessidade de a Intel voltar às suas raízes como uma empresa focada em engenharia. “Precisamos voltar às nossas raízes e capacitar nossos engenheiros”, afirmou, explicando que muitas das mudanças anunciadas visam tornar os engenheiros mais produtivos ao remover fluxos de trabalho e processos onerosos que retardam o ritmo de inovação.
Futuro da Intel em um cenário desafiador
As decisões drásticas anunciadas por Lip Bu-Tan evidenciam a complexidade dos desafios enfrentados pela Intel em um mercado cada vez mais competitivo. Uma das pioneiras e outrora líder incontestável do setor de semicondutores, a companhia vem perdendo terreno para concorrentes como AMD e NVIDIA nos últimos anos, tanto em inovação tecnológica quanto em participação de mercado e valorização de suas ações — que recentemente amargaram a maior queda nos últimos 16 anos.
O anúncio dos cortes ocorre em um momento particularmente volátil e incerto para a indústria de tecnologia como um todo. O próprio Bu-Tan reconheceu esse cenário em seu comunicado, afirmando que a empresa está “navegando em um ambiente macroeconômico cada vez mais volátil e incerto”, o que se reflete em suas perspectivas para o segundo trimestre.

Ainda assim, o presidente executivo demonstrou otimismo quanto ao potencial de recuperação da empresa: “A Intel já foi amplamente vista como a empresa mais inovadora do mundo. Não há razão para não voltarmos a esse patamar, desde que implementemos as mudanças necessárias para melhorar”, declarou.
O caminho de transformação apresentado por Bu-Tan é ambicioso e envolve decisões difíceis, mas, segundo o executivo, essas medidas são essenciais para “servir melhor aos clientes enquanto construímos uma nova Intel para o futuro”. O desafio agora é implementar essas mudanças de maneira eficaz, sem comprometer a capacidade de inovação e o capital humano que sempre foram diferenciais da companhia.
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