Entre agosto de 1960 e final de 1967, o Recife parava todas as noites de domingo para assistir na TV Jornal do Comércio o programa “Você faz o Show”, apresentado por Fernando Castelão e Lolita Rodrigues – ele de black-tie, ela com vestidos de famosos estilistas. Era muito chique, e a televisão, uma novidade.
Ao vivo, o programa era animado por uma orquestra completa a serviço exclusivo da própria emissora. Naquele palco gigantesco de um prédio de mármore cantaram Orlando Silva, Elza Soares, Miltinho, Ivon Cury, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Elis Regina, Jair Rodrigues, Elizeth Cardoso e Roberto Carlos.
Lembrei-me disso a propósito do reality show estrelado por Bolsonaro desde que ele foi operado pela sexta vez e permanece internado no hospital DF Star, em Brasília, lá se vão 15 dias. Em contraste, o “Você faz o Show” de Bolsonaro não diverte quem o acompanha e é um fracasso de audiência nas redes sociais.
Não há quem concorra com Bolsonaro por um prêmio milionário, só figurantes – familiares, amigos, médicos e enfermeiras a encenaram uma peça cujo título poderia ser “O martírio do Messias”, aquele que pôs sua vida em risco para salvar o Brasil do comunismo e impedir o retorno de Lula ao Poder.
O comunismo nunca ameaçou o Brasil, embora tenha servido de pretexto para que os militares em 1964 implantassem uma ditadura que se arrastou por 21 anos. Bolsonaro não conseguiu impedir, nem mesmo às custas de um golpe, o retorno de Lula ao Poder pela terceira vez. Deu tudo errado para ele.
O machão “imbrochável, incomível e imorrível” não está à beira da morte como faz parecer. Está à beira de ser condenado e preso pelo Supremo Tribunal Federal. Fugirá – e para onde? Ou será recolhido aos costumes à espera de uma anistia que não virá? Ou de uma revolta popular pela qual tanto anseia?
O show de horrores, transmitido diretamente de um quarto de hospital promovido à UTI, tem a ver com a necessidade de Bolsonaro comover e insuflar os ânimos dos que ainda acreditam na sua ressurreição política. Daí os vídeos, as fotos das cicatrizes no seu corpo machucado e os ataques à Justiça.
Bolsonaro esperneia na maca pela piedade dos brasileiros e contra a irrelevância e o esquecimento. É bom que o faça para que cumpra seu destino.
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