PCC e CV: entenda o motivo da rivalidade histórica entre as facções

A paz entre as duas maiores facções criminosas do Brasil chegou oficialmente ao fim. Pouco mais de dois meses após surgirem sinais de uma possível trégua, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) decretaram a retomada da guerra que, historicamente, já provocou massacres em presídios e disputas sangrentas por rotas de tráfico em todo o país.

Mensagens conhecidas como “salves” circulam desde segunda-feira (28/4), confirmando o rompimento da breve tentativa de pacificação. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) confirmou à coluna a autenticidade dos comunicados e apontou que eles estão sendo difundidos em diversos estados. Em um dos textos, o PCC oficializa o rompimento afirmando que “chegou ao fim nossa aliança e qualquer compromisso com o Comando Vermelho”.

O Comando Vermelho “emitiu uma circular” reforçando diretrizes internas e avisando que qualquer integrante que atue em desacordo com o estatuto da facção será exemplarmente punido, mesmo sem a aliança em vigor. Em regiões como Santa Catarina, o tom foi ainda mais agressivo: um dos comunicados anuncia guerra aberta contra o PCC, sem espaço para negociação ou cessar-fogo.

Confira as mensagens:

5 imagens

1 de 5

Reprodução

2 de 5

Reprodução

3 de 5

Reprodução

4 de 5

Reprodução

5 de 5

Reprodução

Rivalidade histórica

A rivalidade entre PCC e CV tem raízes profundas. Fundado em 1979 no presídio da Ilha Grande (RJ), o Comando Vermelho consolidou-se no tráfico de drogas e no domínio de comunidades no Rio de Janeiro. O PCC, criado em 1993 na Casa de Custódia de Taubaté (SP), rapidamente expandiu sua atuação, tornando-se uma estrutura criminosa nacional, com características de uma multinacional do crime.

Durante anos, as duas facções mantiveram uma relação estratégica, compartilhando rotas de tráfico e influência nos presídios. O rompimento definitivo aconteceu em 2016, após divergências sobre o controle das cadeias e dos territórios de tráfico. A ruptura foi selada quando o PCC enviou um “salve” de guerra dirigido a uma das lideranças do CV, Marcinho VP, após fracassar uma tentativa de acordo.

A consequência da quebra foi uma escalada brutal de violência, especialmente em unidades prisionais. O episódio mais marcante ocorreu em janeiro de 2017, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, onde 56 detentos — a maioria ligada ao PCC — foram assassinados por integrantes da Família do Norte (FDN), facção aliada do Comando Vermelho.

Desde então, o conflito entre as facções espalhou-se por ao menos nove estados, impulsionando massacres, chacinas e disputas armadas em comunidades.

Tentativa de pacificação e novo fracasso

Em fevereiro de 2025, a coluna divulgou em primeira mão indícios de que PCC e CV articulavam um novo pacto de não agressão. A possível trégua abriu espaço para especulações sobre uma divisão de áreas de influência e uma reorganização do mercado ilegal de drogas, armas e lavagem de dinheiro no país.

No entanto, o acordo não resistiu à tensão entre as lideranças. A circulação recente dos “salves” selou o fracasso da iniciativa. Em vez da consolidação de uma aliança, a retomada da guerra reacende o temor de novos confrontos armados, rebeliões em presídios e uma onda de violência em estados onde ambas as facções disputam território.

Fontes ligadas ao MPSP alertam que a ruptura pode impactar diretamente o cenário criminal em várias regiões do Brasil, especialmente em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas e Santa Catarina.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.