A Polícia Civil de Tocantins deflagrou, na manhã desta quarta-feira (30/4), uma operação para cumprir um mandado de prisão preventiva e dez mandados de busca e apreensão contra faccionados investigados por envolvimento em crimes de tortura e no tribunal do crime.
A operação, denominada Rasante, cumpriu mandado em desfavor de um homem identificado pelas iniciais V.H.A.G., 27 anos.
As investigações apontam que os faccionados vêm sendo responsáveis pelos mais diversos crimes ocorridos na região de Paraíso do Tocantins, incluindo furtos, roubos de valores e de armas de fogo.
Segundo Antonio Onofre Oliveira da Silva Filho, delegado chefe da DEIC, ficou constatado que os criminosos exercem funções típicas de “tribunais do crime”, impondo julgamentos paralelos a indivíduos que descumprem as regras da facção — como a que proíbe roubos em área dominada pelo grupo.
“As vítimas, em sua maioria usuários de drogas, são submetidas a espancamento denominado ‘madeirada’, bem como outras formas de tortura extremamente violentas”, destacou.
As investigações tiveram início após a apuração de circunstâncias de torturas cometidas contra usuários de drogas e de um homicídio ocorrido na região em janeiro deste ano.
“No curso das investigações, foi apurado que após os faccionados ‘Solução’ e ‘Atribulado’ terem assassinado um companheiro sem o aval da cúpula da facção, as lideranças regionais realizaram um procedimento interno para apurar a conduta destes membros”, detalhou.
O delegado apontou que, como punição, o tribunal decidiu aplicar a eles o ‘afastamento’ das funções do cargo na facção, o que seria um Procedimento Administrativo Disciplinar da facção, como se fossem funcionários públicos.
Segundo a polícia, as penas do tribunal do crime variam, podendo ser desde: afastamento das funções, uma surra, mutilação e até mesmo a morte do faccionado que agiu sem consentimento dos superiores.
Mandados
Na Unidade Penal de Paraíso do Tocantins foi dado cumprimento a mandado de prisão contra V.H.A.G., conhecido no mundo do crime como Megamente ou Estudioso, o qual possui o cargo na facção de “Regional da Centro-Oeste do Tocantins”. Megamente foi preso no último sábado (26) pelo crime de tráfico de drogas.
Durante a operação, foram três pessoas presas em flagrante e um menor apreendido, todos por tráfico de drogas. Entorpecentes, insumos, máquinas de cartão e celulares também foram apreendidos. O material apreendido será analisado, podendo contribuir para novos desdobramentos da investigação.
Operação
A operação foi coordenada pela 6ª Divisão Especializada de Combate ao Crime Organizado (DEIC – Paraíso), unidade responsável pelas investigações, e contou com o reforço de policiais civis da Diretoria Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO), da 1ª Divisão Especializada Repressão a Narcóticos (Denarc – Palmas), da 6ª Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e Vulneráveis (DEAMV – Paraíso) e da 61ª e 62ª Delegacias de Polícia, ambas de Paraíso.
O termo rasante refere-se a uma espécie de reunião regular, geralmente diária, que é destinada ao alinhamento de estratégias, monitoramento de condutas internas e planejamento detalhado de futuras ações criminosas conjuntas.
“As reuniões ocorrem por meio de chamadas em conferência via aplicativo, da qual participam integrantes da facção com as lideranças regionais e os disciplinas (encarregados de executar as atividades). Ao final da chamada, é postado no grupo uma espécie de ‘ata de reunião’, chamada de rasante”, contextualizou.
O delegado ressaltou que a investigação permitiu mapear a estrutura dessa organização criminosa na cidade de Paraíso do Tocantins, identificando boa parte dos membros, da liderança regional até a ponta operacional.
“Entre os integrantes identificados estão indivíduos com extensos antecedentes criminais, que registram inúmeras passagens pelo sistema prisional e frequentemente estão envolvidos em crimes graves, incluindo homicídios, tráfico de drogas, sequestros, cárcere privado e torturas”, disse.