O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) deste ano, divulgado na última segunda-feira (4), revelou, pela primeira vez, dados sobre a alfabetização no contexto digital, mostrando como o nível de compreensão, leitura e escrita influencia na vida online dos brasileiros.
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Pessoas consideradas alfabetizadas proficientes têm menos dificuldade para tarefas digitais, mas, mesmo nesse demográfico, quase a metade (40%) ainda apresenta desempenho médio ou baixo em atividades como compras online, troca de mensagens, envio de fotos e preenchimento de formulários.
O Inaf também revelou que três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos não sabe ler ou escrever, ou sabe tão pouco que não consegue entender frases curtas, identificar números de telefone ou preços — por definição, são analfabetos funcionais. Os testes para a pesquisa foram feitos entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.
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Alfabetismo e a internet
Na pesquisa do Inaf, o nível de alfabetismo foi definido com base em testes que classificam os participantes em cinco níveis: analfabeto, rudimentar, elementar, intermediário e proficiente. No alfabetismo digital, as tarefas incluíam comprar um par de tênis a partir de um anúncio em rede social e se inscrever em um evento através de formulário online. Nesse caso, havia três níveis: baixo, médio e alto.

Entre os alfabetizados em nível elementar, 67% fica no nível médio de alfabetismo digital. Enquanto 17% deles considera que o ambiente digital ajuda nas tarefas, 18% encara a mídia como um desafio adicional. Quase todos os analfabetos (95%) ficaram no nível baixo de alfabetismo digital. A coordenadora do Observatório Fundação Itaú, que co-realizou o estudo, Esmeralda Macana, comentou os achados:
“Para mim, foi um alerta de que a gente vai precisar fazer formações para que as pessoas se apropriem dessas formas mais tecnológicas, porque o mundo está cada vez mais digital. A gente já acessa serviços digitais como Pix, como marcar uma consulta médica. Acessar inclusive os programas de transferência de renda, de carteira de trabalho, documentos, identidade. Então, tudo é por meio digital. Se uma pessoa não tem essa habilidade para poder minimamente ter esse acesso, a políticas públicas inclusive, então, é muito preocupante”.
Segundo a pesquisa, os jovens são os que apresentam o nível mais alto de desempenho digital, pontuando melhor nos testes. Entre os participantes proficientes, 60% mostraram pontuação alta na alfabetização digital, mas 37% ainda ficaram no nível médio, e 3%, no baixo.

O coordenador da área de educação de jovens e adultos da Ação Educativa, que também ajudou a coordenar a pesquisa, Roberto Catelli, comentou sobre as desigualdades. Segundo ele, o estudo evidencia que as desigualdades enfrentadas por quem tem baixa escolaridade são reproduzidas no meio digital — ele não traz soluções para todos, como muitas vezes se diz. A solução é não focar só no letramento digital, mas também na alfabetização de base.
O Inaf não foi realizado nos últimos seis anos, retornando em 2025 com a participação de 2.554 pessoas entre os 15 e 64 anos, vindas de todas as regiões do país. O estudo mapeou habilidades de leitura, escrita, matemática e interação digital.
Além das organizações já citadas, também participaram a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
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