Brasília – A nomeação de Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, para o comando da PortosRio, escancarou mais uma fissura na frágil coalizão do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A escolha, confirmada em 12 de maio de 2025, atende ao manual clássico da estratégia política de Eduardo Cunha: distribuição de cargos estratégicos em troca de apoio parlamentar.
Waguinho, ex-prefeito de Belford Roxo (RJ) e filiado ao Republicanos, é um dos principais articuladores de Lula na Baixada Fluminense. Sua nomeação reacende o debate sobre o avanço do centrão em áreas-chave do governo, contrariando o discurso de combate ao crime organizado e de valorização técnica na gestão pública.
Governo fortalece base e enfraquece discurso
A PortosRio, que controla terminais estratégicos como os de Rio de Janeiro, Itaguaí e Angra dos Reis, foi entregue a um aliado cercado de controvérsias. A indicação é uma retribuição escancarada ao apoio eleitoral em 2022 — e uma jogada para manter o centrão dócil no Congresso.
No entanto, o nome de Waguinho arrasta consigo uma esteira de crises. Além de ser casado com Daniela Carneiro, ex-ministra de Lula, Waguinho já teve sua gestão ligada a personagens suspeitos.
Aliados e milicianos em Belford Roxo
Durante a campanha de sua esposa, Daniela Carneiro (União Brasil-RJ), vídeos e fotos mostraram proximidade com Marcinho Bombeiro, preso por chefiar uma milícia. Além disso, pelo menos três aliados de milicianos foram nomeados na prefeitura de Belford Roxo sob gestão de Waguinho — como revelou a Folha de S.Paulo.
Apesar disso, o novo presidente da estatal nega envolvimento com o crime. Em nota, disse que nunca nomeou condenados e que não há como filtrar antecedentes de todos que aparecem em campanhas públicas. As denúncias, segundo ele, seriam “insinuações infundadas”.
Fisiologismo à moda antiga
Nos bastidores do Planalto, a crise é real. Interlocutores do governo temem que a nomeação alimente o discurso bolsonarista e fragilize o Executivo, justamente quando Lula tenta limpar a imagem de leniência com o crime. A “tolerância zero” virou promessa de palanque, mas a prática ainda patina no pântano da governabilidade fisiológica.
Além disso, a permanência de Francisco Leite Martins Neto em cargo na diretoria da estatal é vista como tentativa de acalmar os ânimos. Não convenceu.
Portos em jogo, política no comando
A PortosRio não é qualquer cargo. A estatal é peça-chave na infraestrutura do estado e no escoamento da produção agrícola e industrial. Portanto, entregar sua presidência a um político sob suspeitas escancara a lógica de poder do governo atual: um olho no Congresso, outro no retrovisor da velha política.
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