Rio de Janeiro – O estado do Rio voltou a ser o retrato cru da falência brasileira na proteção à infância. Segundo o Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Ipea, foram 24 crianças de até 4 anos assassinadas em 2023, o maior número do país.
A maioria dessas mortes ocorreu em contextos de violência doméstica ou de conflito armado urbano, onde o Estado atua mais como ameaça do que como escudo.
Ainda segundo o estudo, o número fluminense quase dobrou em relação a 2022, e se aproxima do recorde da série histórica de 2014, com 26 casos. Em média, uma criança foi morta a cada 15 dias no estado. É o tipo de estatística que, em qualquer país civilizado, levaria a renúncias, investigações e mudanças. Por aqui, vira rodapé de jornal.
Rio volta a liderar em assassinatos de crianças
O dado não vem isolado. Ele escancara um padrão: a infância pobre no Brasil é um alvo exposto, abandonado tanto dentro quanto fora de casa. Enquanto a violência doméstica corrói a segurança familiar, a violência policial transforma comunidades em zonas de guerra.
Entre os casos que mais chocaram em 2023, está o de Heloísa dos Santos Silva, de 3 anos. Baleada na cabeça e na coluna por agentes da Polícia Rodoviária Federal, enquanto estava no carro com os pais, ela não resistiu. O crime ocorreu em Seropédica, no Arco Metropolitano, e os responsáveis seguem respondendo judicialmente.
Pandemia agravou ambiente doméstico
De acordo com a socióloga Samira Bueno, diretora do Fórum, os anos pós-pandemia deixaram os lares brasileiros mais tensos e inseguros. Segundo ela, “o que deveria ser espaço de proteção virou ambiente hostil”.
O relatório aponta que o estresse, o isolamento e a ausência de rede de apoio foram combustíveis para a escalada da violência dentro de casa.
Contudo, o estudo deixa claro que a violência institucional também tem papel decisivo, sobretudo no Rio de Janeiro, onde operações policiais com uso de armamento pesado continuam sendo normalizadas em áreas densamente povoadas.
Relatório reforça urgência por políticas públicas
Diante desse cenário, especialistas cobram ações imediatas. Entre as demandas:
- Ampliação de políticas de prevenção e acolhimento infantil
- Revisão urgente dos protocolos policiais, sobretudo em áreas urbanas
- Fortalecimento das redes públicas de proteção familiar e escolar
A omissão custa vidas. E, no caso do Rio, custa a vida de quem mal teve tempo de aprender a falar.
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