A popularidade dos chamados “bebês reborn” — bonecos ultra-realistas que imitam recém-nascidos — tem ultrapassado os limites do colecionismo e da estética artística. Recentemente, nomes como o Padre Fábio de Melo e a influenciadora Gracyanne Barbosa surpreenderam ao compartilhar experiências com essas figuras, e muita gente revela, inclusive, uma faceta até então subestimada: o envolvimento psicológico e afetivo de adultos com os reborns. Com motivações que vão do conforto emocional à elaboração do luto, o tema levanta debates sobre saúde mental, vínculos simbólicos e os limites entre a fantasia e a realidade.
No Rio de Janeiro, a Câmara Municipal aprovou o projeto de lei que cria o “Dia da Cegonha Reborn”, com o objetivo de reconhecer o valor cultural e emocional desse universo. Proposto pelo vereador Vitor Hugo (MDB), o texto menciona o papel das artesãs que confeccionam os bonecos, mas também toca, ainda que de forma indireta, nas dimensões emocionais que essa prática pode alcançar. Para além do valor simbólico e artístico, especialistas apontam que o uso desses bonecos por adultos pode ter implicações terapêuticas — e, em alguns casos, patológicas.
Segundo a pedagoga, psicóloga, doutora em Educação e docente do Centro Universitário IBMR, Isis Brito, o uso de bebês reborn pode representar um recurso legítimo dentro de um processo terapêutico, desde que mediado por acompanhamento profissional. “É possível utilizar o reborn como ferramenta simbólica em quadros de luto, ansiedade ou preparação para a parentalidade, mas é essencial avaliar o contexto e o impacto funcional dessa prática na vida da pessoa”, explica. A ausência de supervisão pode levar à idealização excessiva e até ao isolamento social. “Brincar não é privilégio da infância, mas quando adultos projetam fantasias em bebês reborn, é preciso cuidado: o lúdico não deve obscurecer os limites entre afeto, ilusão e realidade”, completa.
A especialista organizou cinco recomendações para compreender melhor os diferentes usos dos reborns e seus potenciais efeitos sobre o bem-estar psicológico:
- Elaboração do luto – O reborn pode funcionar como objeto de transição em processos de perda gestacional, neonatal ou afetiva. No entanto, deve ser usado como meio para ressignificar a dor, não como substituto permanente da perda.
- Terapia ocupacional e emocional – Em alguns contextos clínicos, o reborn pode auxiliar no desenvolvimento de rotinas e vínculos simbólicos, sobretudo em pessoas com dificuldades emocionais. A mediação de profissionais é fundamental para evitar distorções da realidade.
- Necessidade de afeto e conexão – Adultos emocionalmente carentes podem encontrar nos reborns um canal simbólico de afeto. Contudo, quando há isolamento social ou prejuízo nas funções diárias, é indicado procurar ajuda psicológica.
- Estímulo ao instinto materno/paterno – Algumas pessoas utilizam o reborn como parte de sua preparação emocional para a parentalidade. A prática pode ser válida, mas deve vir acompanhada de reflexão e limites bem estabelecidos.
- Colecionismo e hobby – Como qualquer hobby, a adoção de reborns deve respeitar os limites da funcionalidade. Quando o envolvimento passa a prejudicar a vida social, financeira ou emocional, o alerta precisa ser acionado.
A adesão crescente aos bebês reborn reflete uma necessidade contemporânea de reconexão emocional num mundo cada vez mais digital e desconectado. A psicologia reconhece o valor terapêutico de objetos transicionais, mas reforça que, como qualquer ferramenta emocional, seu uso requer consciência, equilíbrio e, em alguns casos, apoio especializado.
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